Apesar de ser a décima capital brasileira em população, Goiânia é a quinta cidade do País em tamanho de território urbano, de acordo com levantamento da rede MapBiomas. Isso mudou entre 1985 e 2020, quando o município cresceu 130,72 quilômetros quadrados (km²), sendo atualmente a quarta cidade do Brasil que mais teve expansão urbana neste período. Os números mostram que a capital tem crescido de forma espraiada, um conceito oposto ao da cidade compacta defendido por urbanistas e que serve de mote ao Plano Diretor Municipal atual e o que está em processo de revisão na Prefeitura.O mesmo tem ocorrido nas cidades da região metropolitana de Goiânia. Neste mesmo período, Aparecida de Goiânia teve uma expansão urbana de 74,21 km² e ocupa a décima oitava posição no ranking das cidades brasileiras que mais cresceram em território. Entre 1985 e 2020, a cidade da Região Metropolitana de Goiânia passou Anápolis em tamanho e população e se estabeleceu como a segunda maior de Goiás. No geral, saltou da 35ª posição para a 26ª em tamanho da área urbana , enquanto Anápolis saiu da 29ª para a 38ª posição nestes 35 anos estudados.Em 1985, ano base do levantamento, Goiânia era então a sétima maior cidade brasileira em território urbano, tendo ganhado duas posições neste mesmo período, passando Belo Horizonte (MG) e Fortaleza (CE). Para se ter uma ideia, naquela época, a capital mineira tinha 2,12 milhões de habitantes, enquanto a cearense possuía 1,58 milhões de pessoas. Já Goiânia ainda não tinha atingido a marca de 1 milhão de moradores, tendo cerca de 928 mil. Trinta e seis anos depois, Belo Horizonte ganhou 300 mil habitantes, Fortaleza somou mais 1,1 milhão e Goiânia chegou aos atuais 1,5 milhão e mesmo assim está maior que as outras cidades.Nesse sentido, o estudo do MapBiomas revela que em Goiânia é necessário um maior espaço urbano para acomodar uma população semelhante ao que se tinha em Fortaleza em 1985, mesmo que este município atualmente tenha 2,6 milhões de pessoas vivendo em um território menor do que o da capital goiana. Outro exemplo é a cidade de Salvador (BA), que atualmente é a quarta cidade brasileira em número de habitantes, mas aparece apenas na décima primeira posição em área.Uma das coordenadoras do levantamento de áreas urbanas do MapBiomas, a arquiteta e professora da Universidade de São Paulo (USP) Mayumi Hirye explica que Goiânia tem a característica da urbanização dispersa e em expansão. “Essa expansão bem espraiada faz o balanço no custo das terras, mas a infraestrutura urbana fica mais cara. Sem dúvida nenhuma, concentrar a área urbana possibilita uma maior economia na infraestrutura”, explica. O MapBiomas é uma rede colaborativa de co-criadores, formada por organizações não-governamentais, universidades e empresas de tecnologia.Mayumi conta que o estudo não se aprofunda nas causas da expansão urbana neste período, mas há o entendimento particular de que a expansão urbana nas cidades do Centro-Oeste se dá por uma série de fatores, desde o avanço econômico no período analisado, o crescimento das cidades em razão disso e até mesmo a topografia plana, em que não há limites geográficos para impedir o espraiamento do tecido urbano.A arquiteta e urbanista Erika Kneib, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), confirma que os dados revelam o espraiamento urbano de Goiânia e Aparecida. “Outra comprovação é o número de lotes e imóveis vagos em Goiânia e na Região Metropolitana. Há edificações, mas não há pessoas morando. Há lotes, mas não há a intenção de construir nos mesmos no curto prazo. Mas há muitas pessoas que precisam de moradia. Ou seja, a cidade está deixando de cumprir sua função social. A cidade deveria expandir territorialmente quando necessário comportar o crescimento populacional previsto/futuro. O espraiamento não segue essa premissa”, avalia.HistóricoO estudo do MapBiomas, com dados históricos, mostra que Goiânia ultrapassou Fortaleza ainda no final da década de 1980 e deixou Belo Horizonte para trás em meados da década de 1990, quando começou a se equiparar com Curitiba (PR), hoje a quarta maior cidade do País em área urbana. Válido ressaltar que a capital paranaense teve seu território estabilizado na última década, tanto que não aparece no ranking das 20 cidades que mais cresceram entre 1985 e 2020, o que faz com que Goiânia se aproxime neste quesito. Entre as cinco maiores cidades brasileiras, apenas Curitiba não está entre as que mais cresceram segundo o estudo.Nesse quesito, a liderança é de Brasília, terceira maior cidade do País, mas que teve sua expansão urbana quase três vezes maior do que o Rio de Janeiro, que é a segunda maior em área atual e também no ranking de maiores expansões. São Paulo, capital que possui o maior território urbano no Brasil, foi a sétima cidade que mais expandiu a área nos últimos 36 anos. Mayumi explica que isso ocorre pelo limite das cidades. “Curitiba não tem como crescer mais. Brasília e Goiânia ainda têm áreas.” Áreas agropecuárias encolhem De acordo com dados do MapBiomas, o crescimento de Goiânia e Aparecida de Goiânia ocorreu com a ocupação de áreas destinadas, anteriormente, à agropecuária. Entre 1985 e 2020, a capital trocou cerca de 120,9 quilômetros quadrados (km²) de terras que antes eram fazendas para a construção de loteamentos. Em Aparecida foram 61,17 km² de área invertidas para a ocupação urbana. Segundo uma das coordenadora do levantamento de dados de áreas urbanas, Mayumi Hirye, o que ocorre e a transição do uso da terra.Ou seja, para ela, sempre se tem uma perda ambiental, já que havia área florestal antes da ocupação econômica da área. “O mais usual é expandir e usar onde não tem mais o uso econômico”, conta Mayumi. Isso ocorre, por exemplo, já na década de 1950, quando o empreendedor imobiliário Lourival Louza parcela parte da gleba que tinha na região sudeste da capital e cria o Jardim Goiás, mesmo em local bem distante da principal centralidade de Goiânia, na época, no eixo Centro e Campinas. A arquiteta e urbanista Erika Kneib, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), aponta que a verificação de um “vetor sul” de desenvolvimento que fortalece a relação entre Goiânia e Aparecida. “Além disso, Aparecida deixou de ser apenas uma cidade dependente de Goiânia, como outras da Região Metropolitana, para consolidar algumas centralidades, diminuindo essa dependência da capital”, diz. Para Erika, o desenvolvimento aumenta o interesse do mercado imobiliário e as terras passam a ser valorizadas e despertar mais interesse. “O mercado muitas vezes se antecipa e se a legislação e o poder público não conseguirem frear essa expansão, ela geralmente acontecerá.” A urbanista explica que o espraiamento acaba por ser benéfico para grupos específicos, mas bastante prejudicial coletivamente e para a cidade, “pois vai encarecer a infraestrutura que precisa ser levada a áreas distantes, ou demandar um sistema de transporte que vai precisar percorrer grandes distancias para atender poucas pessoas”. Publicado no final de outubro, o artigo “O espraiamento urbano e produção habitacional na metrópole Goiânia”, de autoria de Erika Kneib e das professoras Lorena Brito e Celene Barreira, confirma a expansão da cidade neste vetor de crescimento urbano.Erika ressalta que em Goiânia há um crescimento para a região Sudeste fortemente relacionado à implantação dos condomínios horizontais. “Mais recentemente, a região do Park Lozandes fortaleceu esse vetor. Mas isso foi planejado? Existe uma infraestrutura compatível com essa nova ocupação e com esse crescimento, ou a região vai crescer e depois o ‘incêndio será apagado’?”, indaga. A urbanista ressalta que há a necessidade da cidade se antecipar ao crescimento e implementar as medidas necessárias para que isso aconteça sem causar maiores problemas para a população.O artigo mencionado demonstra, com dados entre 2000 e 2020, como o espraiamento da capital é contraditório. “Pode-se dizer que uma das principais características atuais da rede urbana goianiense é bastante contraditória: ao mesmo tempo em que ocorre o processo de conurbação, com formação de aglomerações urbanas, a Região Metropolitana tem uma ocupação extensiva e rarefeita”, disserta o documento. O estudo ressalta que ao passo do crescimento via regiões Sul e Sudeste ocorre a ocupação de áreas periféricas no Oeste, Sudoeste e Noroeste.“Em áreas pouco densas, notoriamente às que foram destinadas à periferia, as edificações estão distantes entre si, com presença de terrenos vazios entremeados no tecido urbano. Muitas vezes, o arruamento não está bem definido, sendo composto por caminhos ou trilhas, pois nem sempre o asfaltamento realizado pela Prefeitura consegue acompanhar o lançamento rarefeito e caótico dos empreendimentos destinados às classes de baixa renda”, relata. Cerrado é bioma que mais perdeuO Cerrado foi o bioma com maior perda anual de vegetação nativa para área urbanizada entre os anos de 1985 e 2020, de acordo com o levantamento da rede MapBiomas. Neste período, a cada ano, o Brasil perdeu cerca de 388 mil hectares de área nativa para a urbanização, deste total, 126,7 hectares, o que corresponde a 32,7% são de formações do Cerrado. Isso ocorreu especialmente no Distrito Federal. A aglomeração urbana de Brasília trocou a vegetação nativa por moradias, comércios, indústrias e estradas em 24.551 hectares a cada ano no período de 35 anos analisados pelo estudo. As regiões de Teresina (PI), com cerca de 10 mil hectares, e Cuiabá (MT), 4,8 mil hectares a cada ano, completam o ranking dos locais em que a vegetação nativa foi mais atacada pela expansão urbana. A principal perda do Cerrado se deu nas formações savânicas, que corresponderam a 61% do que hoje é espaço urbano, em seguida a expansão se deu mais em espaços campestres (25,2%). No restante do País, considerando os outros biomas, a perda de vegetação da Amazônia chega a 23,8% do total de 388 mil hectares anuais perdidos para a ampliação das cidades, sendo o segundo bioma do Brasil com maior perda. Em seguida, está a Caatinga (20,4%), típica da Região Nordeste, Mata Atlântica (14,8%), Pampa (8,2%) e, por último, o Pantanal (0,1%). Menor expansão na informalidadeO Centro-Oeste é a região brasileira em que se observou, entre 1985 e 2020, segundo o MapBiomas, a menor expansão da informalidade urbana, tendo apenas 2,1% de aumento do território das cidades de aglomerados subnormais, que são áreas ocupadas sem posse das terras pelos ocupantes. Os locais, também chamados de favelas, possuem padrão urbanístico irregular e carência de serviços públicos essenciais, como esgoto, coleta de lixo e transporte público. No Centro-Oeste, a cidade que teve maior aumento de favelas foi Cuiabá (MT), com avanço de 13,15% no território urbano, seguido de Brasília, com 5,83%, e Goiânia, cuja expansão chegou a 2,25% no período analisado pelo estudo.No ranking dos estados, Goiás é o quarto que menos teve aumento de favelas em relação ao total de alta na área urbana, com 1,7%. Sobre as regiões do País, o maior aumento se deu na Região Norte, com 12%, isso ocorre muito em razão do avanço da informalidade urbana em cidades como Belém (PA), com aumentou de 51,77%. -Imagem (1.2349440)