Com uma taxa de crescimento da frota em alta entre 2018 e 2019, saindo de 2,48% para 2,75% depois de uma elevação menor em 2017, de 1,76%, Goiânia segue na terceira posição em ranking das capitais brasileiras com a maior proporção entre população e frota. A média é de 1,27 habitante por veículo. À frente daqui estão Curitiba (média de 1,22), e Belo Horizonte, no topo, sendo o que mais próximo fica da casa de um veículo para cada morador (média de 1,14).Perito especializado em políticas de trânsito, Antenor Pinheiro cita que diante das facilidades que são recorrentes de todos governos para aquisição de veículos, a tendência da frota é aumentar. “As políticas públicas são para incentivar o transporte individual”, acrescenta. Ele pontua que em Goiânia hoje, por exemplo, com exceção do BRT Norte-Sul, obras como viadutos, o alargamento da Rua 1.018, no Setor Pedro Ludovico, priorizam a demanda de carros.“O que vai consertar isso é dar resposta ao modo coletivo de se deslocar, dar resposta aos modos ativos de se deslocar - de bicicleta e a pé”, diz Pinheiro, que afirma que essa mudança inclui dotar a cidade de infraestruturas como ciclovias e calçadas. “É o que está na lei de mobilidade urbana”.Pinheiro afirma, porém, que o problema, hoje, não é o número de veículos. “É como essa frota é usada, como funciona no sistema viário, na infraestrutura existente”.Professora na Universidade Federal de Goiás (UFG), a arquiteta Erika Kneib, que tem doutorado em transporte e mobilidade, pondera que o quantitativo total da frota mencionado existir no Estado e em Goiânia merece uma avaliação com cuidado, sendo importante separar o que é veículo motorizado individual, como automóveis, motos, caminhonetes... com os destinados à outros usos, como caminhões frigoríficos.Ela frisa que o número total não representa que todos veículos sejam utilizados todos dias. “A posse do veículo não é problema pra cidade, o problema é o uso indiscriminado desse veículo,” diz. Ela informa que existem cidades na Alemanha, Japão em que o número de veículos é alto, mas eles não são necessariamente usados todos os dias. “Ter carro não é problema. O problema é usá-lo pra todos deslocamento que se faz no dia a dia, pros pequenos, médios, longos. Precisa diversificar esses deslocamentos se não gera um desequilíbrio pra cidade. Isso vale pra moto também.”Erika informa que no caso de distâncias curtas, até 1 quilômetro (km), o modo viável a se percorrer seria a pé. Até 5 km, bicicleta, se tiver estrutura para isso. Mais de 5 km, a opção seria o transporte público. “Que tem de ser rápido, fácil e competir com carro, que ficaria para ser usado apenas em necessidades, como ir ao médico...”A arquiteta reforça ser necessário se “desincentivar” o uso de carros. “E quando se faz viadutos, retiradas de rotatórias, isso é medida de incentivo para uso de carros e motos”. Ela afirma que o caminho ideal é a prioridade para o transporte público. “Um corredor de ônibus transporta muito mais pessoas que a faixa de carro”. Além disso, assim como Pinheiro, ela ressalta a necessidade de se priorizar, com infraestrutura, o uso de bicicletas e os pedestres. “É preciso dar opções”.Planejamento O titular da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), Henrique Alves, afirma que desde o último plano diretor de Goiânia, de 2007, a Prefeitura tem tentado gerar atratividade para o transporte coletivo. Como exemplo ele cita a implantação dos corredores preferenciais e exclusivos para os ônibus, iniciado a partir de 2007, assim como a implantação das ciclovias, “para oferecer à população mais opções”. Na atualização do plano diretor, em trâmite na Câmara Municipal, ele informa que está previsto o acréscimo de mais oito corredores, indo para 15, no total. Além disso o documento, segundo ele, traz, pela primeira vez, um plano cicloviário, além de tratar sobre transportes compartilhados.Quanto às atuais obras em execução, afirma que, em custo, as duas maiores são às voltadas para o transporte público, como o corredor na T-7 e o BRT. “Claro que não se pode esquecer também de áreas que são problemas sérios de trânsito na cidade”. Ele afirma que as ações, como viadutos, não é excludente. “A Prefeitura tem se preocupado com o transporte público”, diz. Ceres é o município com mais veículos por habitanteEntre todos os municípios goianos é Ceres, com pouco mais de 22 mil habitantes, que possui a maior frota por habitante. A taxa atual é de 0,90 veículo por morador. Superintendente Municipal de Trânsito de Ceres, Samir Lima Habach, aponta como possíveis fatores o poder aquisitivo alto de parte da população e o relevo acidentado do município. “Com muito morro, não favorece que circulem a pé. Até de bicicleta é difícil”. Em razão disso, cita que, além de carros, o número de motocicletas por lá, também é grande. Em Minaçu, onde o número de motos supera o de automóveis, o prefeito Zilmar Duarte (PTC), diz que a paralisação de indústria de amianto e consequente demissão de 281 colaboradores tem efeito cascata na cidade. “Faz com que empresários sofram esse baque, ocasionando o pessoal trocar veículo (carro) pela motocicleta”. Além disso, diz que cresceu o quantitativo de mototaxistas. Legalizados: hoje são 50. Mas diz que novo cadastro será feito. Presidente da Federação Goiana de Municípios (FGM) e prefeito de Campos Verdes, Haroldo Naves (MDB), credita à expansão da frota no interior por fatores como a volta das linhas de financiamento e à conscientização e incentivo para se emplacar o carro na cidade em que se mora. “Antes, há até 10 a 15 anos, muitos do interior vinham emplacar o carro em Goiânia, às vezes por comprar aqui”.