Goiânia é uma das 17 cidades brasileiras que mais disseminaram o coronavírus (Sars-CoV-2). Juntas, as 17 capitais chegaram a ser responsáveis por até 99% dos casos nos três primeiros meses da pandemia iniciada em fevereiro do ano passado. E foi a partir destes municípios, com a rede de transportes rodoviários, que a Covid-19 se espalhou pelo País, de acordo com o estudo “O impacto das cidades superdimensionadas, rodovias e disponibilidade de terapia intensiva nos estágios iniciais da epidemia de COVID-19 no Brasil”, publicado nesta segunda-feira (21) na versão online da revista científica internacional Nature, sediada no Reino Unido.O estudo lembra que os aeroportos internacionais serviram como ponto de entrada do coronavírus no Brasil, mas não se sabia, até então, quais os fatores impulsionaram uma distribuição geográfica tão desigual da doença. O modelo utilizado na pesquisa feita pelo médico Miguel Nicolelis, pelos biólogos Rafael Raimundo e Cecília Andreazzi e pelo matemático Pedro Peixoto verificou que São Paulo é a cidade mais disseminadora do País, que chegou a responder por 85% dos casos. Somando as demais 16 cidades (ver quadro), chega-se a um número entre 98% e 99%. A publicação verificou ainda que 26 rodovias federais responderam por cerca de 30% da disseminação de casos do vírus.Destas rodovias, sete passam pelo Estado de Goiás, sendo duas por Goiânia (BR-060 e BR-153). Apenas duas das vias citadas não saem de Brasília: as BRs 153 e a 364. Segundo o estudo, a capital nacional foi a primeira cidade superdisseminadora da Covid-19 na região Centro-Oeste, tendo sido também uma das portas de entrada da doença no Brasil. Além dela, apenas Belo Horizonte e Manaus receberam os primeiros pacientes contaminados sem estar na costa atlântica brasileira. No período inicial da pandemia, que foi considerado até junho de 2020, “as contribuições de Goiânia, Campo Grande e Cuiabá no Centro-Oeste eram as maiores em sua região, mas muito menores quando comparadas a outras regiões e seus espalhadores”.Biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho explica que o trabalho mostra a influência do tamanho das cidades e da sua centralidade, um conceito utilizado na geografia e urbanismo que determina a importância de um local para determinada região. “Brasília e Goiânia vão se confundir em relação às rodovias, já que formam um eixo, mas Goiânia é o grande centro comercial do Centro-Oeste, que é menos populoso do que as demais regiões, com a exceção do Norte, por isso vai influenciar menos em geral, mas influencia bastante na região”, diz. Diniz Filho acredita que o trabalho publicado em relação a difusão da pandemia ainda no ano passado se reforçou com a chegada das variantes do coronavírus, já que a disseminação das mesmas se deu a partir dos mesmos pontos e meios apontados pelo estudo científico. No trabalho, os pesquisadores dizem que a contenção da disseminação da Covid-19 pelo País poderia ocorrer se três pontos tivessem sido executados. O primeiro seria o bloqueio nas capitais espalhadoras, seguido de restrições de tráfego rodoviário obrigatórias e também se existisse uma distribuição geográfica mais equitativa de leitos de UTI.Este último ponto seria ideal para interromper o que foi chamado de “efeito bumerangue”, já que os pacientes eram contaminados no interior e voltavam para as capitais disseminadoras para o tratamento, já que são as cidades com maior infraestrutura de saúde. A pesquisa destaca Goiânia como uma das cidades que receberam uma maior diversidade de pacientes em todo o País, sendo a quarta neste quesito. São Paulo recebeu pacientes de 464 cidades diferentes, já Belo Horizonte de 351, Salvador de 332 e Goiânia de 258. No entanto, a capital goiana não consta no ranking de cidades que mais enviaram pacientes para outros municípios. Para Diniz Filho, isso mostra a centralização dos recursos de saúde em Goiânia na região, tendo recebido pessoas de fora do Estado.-Imagem (1.2271836)