Desigualdade, saúde, educação e violência, entre outros, são os principais fatores que amarram o desenvolvimento sustentável de Goiânia. A capital de 1,5 milhão de habitantes apresenta índices ruins nos aspectos citados, razoáveis em água e saneamento, mas tem como vantagem um desempenho adequado em energia renovável, consumo e indústria.O balanço acima foi feito levando-se em conta a Agenda 2030 da ONU, que estabelece metas para que as cidades caminhem alinhando desenvolvimento econômico, proteção ao meio ambiente e bem-estar para as pessoas, por meio dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). No Brasil, os dados foram consolidados pelo Programa Cidades Sustentáveis. No País, 770 municípios receberam a avaliação dos indicadores, 50 deles em Goiás.A capital teve sete ODSs classificados como grande desafio, seis tidos como desafio e quatro satisfatórios. As metas definidas em 2015 ainda têm quase uma década para serem atendidas. No ranking nacional, Goiânia ficou com a posição 111 e nota 61,68 em uma escala que vai até 100, sendo o valor máximo aquele que indica maior alcance das metas preconizadas.Os itens críticos são Erradicar a Fome, Saúde de Qualidade, Educação de Qualidade, Igualdade de Gênero, Reduzir as Desigualdades e Proteger a Vida Terrestre e Paz, Justiça e Instituições Eficazes.A capital não pontua em igualdade. Em 2012, o relatório Estado das cidades da América Latina e do Caribe apontava a capital como a de maior desigualdade na América Latina. O próprio espaço urbano revela as diferenças nas condições de vida e oportunidades. Enquanto há condomínios verticais de luxo e apartamentos que ultrapassam os R$ 4 milhões para os mais abastados, as periferias convivem com problemas causados por infraestrutura básica. Um exemplo é o Residencial JK, onde a poeira do tempo seco que começa a se fazer presente ressalta a ausência de pavimentação das ruas e avenidas.Ainda em desigualdades, dado de 2019 do relatório indica que 42,6% dos domicílios de Goiânia estão a mais de 1 km de distância de um posto de saúde, o que dá a classificação vermelha para este aspecto. O item que no documento figura no campo das desigualdades também revela outro ponto fraco: a saúde. Neste grupo a cobertura vacinal figura como aspecto crítico: 59,75%, em 2019. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) foi procurada, mas não respondeu ao questionamento da reportagem.Entre outros pontos deficitários na Educação (ODS 3) da capital, os indicadores mostram desempenho ruim dos alunos em matemática no ensino fundamental e número insuficiente de educadores.Também se destaca negativamente no ODS 3 a proporção entre espaços de cultura e a população. Enquanto o aceitável para ficar verde são 30 locais do tipo para cada grupo de 100 mil habitantes, o resultado apurado foi de apenas 0,47.Diretora de Ações Formativas, Difusão e Acervo Cultural da Secretaria Municipal de Cultura, Edelweiss Vieira reconhece a importância do relatório para a orientação de políticas públicas. “O monitoramento desses indicadores permite guiar as prioridades dos governos locais de acordo com os desafios identificados a partir da análise de dados.” A diretora afirma ainda que o desenvolvimento desse campo requer também a participação ativa da sociedade civil e do setor privado.ViolênciaO ODS 16 - Paz, Justiça e instituições eficazes é um dos classificados em vermelho. Ele apresenta três dos cinco indicadores tidos como críticos: homicídio juvenil, mortes por agressão e taxa de homicídio. Esse último, com dados de 2018, inclusive, revela que Goiânia teve naquele ano a morte violenta de 40,24 pessoas para cada grupo de 100 mil habitantes. Os dados da capital e de Goiás vêm reduzindo nos desde então, mas ainda estão em um patamar elevado.Entre os mais jovens, a violência é ainda mais presente: a taxa de assassinatos sobe para 98,78 por 100 mil entre o público na faixa etária de 15 a 29 anos. Um dado mais antigo, o último disponível, do Censo 2010, pode indicar uma relação com a precocidade das mortes. O porcentual de jovens com ensino médio concluído aos 19 anos é de apenas 26,49%. O desejável é de 70%. O relatório completo pode ser acessado no endereço eletrônico https://idsc-br.sdgindex.org/. Especialista observa que capital tem “privilégios” ante o interiorDoutor em sociologia e coordenador do Programa de Pós- graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de Goiás (UFG), Fausto Miziara avalia que o fato de Goiânia ser o município com melhor desempenho no relatório, entre as 50 cidades de Goiás que foram avaliadas, tem relação com o fato de ser a capital. Segundo ele, por ser o centro do poder e movimentar parte considerável do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, a capital goza de uma infraestrutura mais avançada e a aplicação de políticas públicas mais desenvolvidas, bem com a densidade populacional: um a cada cinco dos 7 milhões de habitantes de Goiás reside em Goiânia.Apesar de considerar que relatórios do tipo são um parâmetro importante para analisar a cidade, sobretudo por parte dos gestores públicos, ele ressalva que os resultados devem ser analisados com alguns cuidados, pois cada iniciativa do tipo pode ter pesos diferentes entre as áreas avaliadas. “Isso significa que é sempre uma questão comparativa. Esses índices são úteis para a gente entender ou comparar uma cidade com outra ou a mesma ao longo do tempo. Você fazer uma observação com um dado desse isolado fica algo muito restrito“, pontua.Outro ponto para o qual Miziara chama a atenção é que as comparações devem ser feitas entre cidades de porte semelhante quanto à população.Quanto aos índices ruins e de alerta em Goiânia, o especialista destaca que os dados locais refletem uma situação semelhante à do País em linhas gerais, como a desigualdade, por exemplo.Por outro lado, Miziara vê que mesmo entre ODSs que representam grande desafio, como Educação de Qualidade, há indicadores muitos bons. “Há índices que são muito bons e refletem um certo privilégio da cidade: professores com formação de nível superior”, lembra.A análise mais detida do relatório, na visão do especialista, deve levar em conta também o fato de que os indicadores se influenciam mutuamente, como no caso de saúde e educação, que têm relação direta com a violência.Campo ambiental é ponto forteIndicadores que têm relação com o meio ambiente são um ponto forte de Goiânia no relatório elaborado com base nos critérios da Agenda 2030 da ONU. Serviço de coleta de recicláveis, abastecimento público e coleta de esgoto e energia renovável contam pontos a favor da capital no levantamento.A população atendida com serviço de água tratada é quase universal: (99,18%). A perda de água é de 21,69%, o que é um alerta, mas abaixo da média nacional, que figura casa dos 33%, chegando a 40% ou mais dependendo da localidade. A parcela dos habitantes atendidos com esgotamento sanitário também é elevada: 92,67%. Embora o indicador esteja verde, há alguns pontos de melhoria, como o Residencial Recanto do Bosque, bairro com mais de 25 anos de existência que não possui a coleta e tratamento de esgoto. A Saneago informou que a coleta de esgoto chega a 94% na capital. A divergência pode ser por causa da ligeira defasagem dos dados do relatório, que são de 2019. Sobre o Residencial Recanto do Bosque, a empresa informou que já há processo licitatório em aberto para a implantação do serviço no bairro.Por tabela, a ampla rede de coleta e tratamento de esgoto faz ser atendido o ODS 14 - Vida na água. O dado de 2013 aponta 86,9% do total nesta condição.A quantidade de resíduos per capita gerada também é classificada como verde. Outro ponto indicador do ODS 12 (Consumo e produção responsáveis) é a população atendida com coleta seletiva: 95% do total. Um ponto importante para o desenvolvimento que Goiânia vai bem é o ODS 9 - Inovação e infraestrutura. Ele é composto por dois indicadores: Investimento público em infraestrutura como proporção do PIB e Participação dos empregos em atividades intensivas em conhecimento e tecnologia. Ambos têm classificação verde.TrabalhoODS 8 - Trabalho decente e crescimento econômico tem dados defasados, apenas do Censo de 2010, uma vez que a pesquisa que deveria ter sido feita no ano passado foi adiada em função da pandemia. O único dado mais recente é o PIB per capita (R$ 33.437), de 2017, que é pontuado como um desafio. Os demais indicadores são desemprego, população ocupada entre 5 e 17 anos, desemprego de jovens, jovens de 15 a 24 anos que não estudam nem trabalham e ocupação das pessoas com 16 anos ou mais. Os fatores tendem a piorar com efeitos da pandemia.-Imagem (1.2254689)