Desde o início deste mês, Goiânia está sem a ferramenta que apontava os dados relacionados à pandemia da Covid-19 por bairros. A Plataforma Web Covid Goiás, desenvolvida pela Universidade Federal de Goiás (UFG), começou a operar no dia 8 de abril deste ano. Trata-se de um georreferenciamento que tem ajudado as autoridades de saúde a definir ações de combate à doença. Nos últimos dias, com o crescente número de casos, as autoridades de saúde têm enfrentado entraves na coleta de dados.Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Yves Mauro Ternes disse ao POPULAR que foram detectados dois tipos de transtornos: erros de endereçamento e duplicidade de dados. Aliado a isso é frequente a plataforma de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) estar fora do ar, o que atrasa a transmissão.Dois sistemas desenvolvidos pelo Datasus estão sendo utilizados nesta pandemia para notificações de casos suspeitos ou confirmados de Covid-19: o e-SUS VE, exclusivo para notificações de síndromes gripais; e o Sivep-Gripe, para casos de internação de pessoas com síndrome respiratória aguda. O primeiro é utilizado por laboratórios, unidades de saúde e farmácias. O segundo, por hospitais. Somente após a coleta de dados pelo SUS, a SMS realiza o download para fazer o seu próprio gerenciamento. São estas as informações enviadas para a Plataforma Covid Goiás, a qual nos últimos dias suspendeu a divulgação devido às dificuldades relatadas acima. Yves Mauro explica que na última segunda-feira (13), por exemplo, o Sivep estava fora do ar. “Havia uma instabilidade no sistema do Ministério da Saúde (MS) e a UFG utiliza estes dados que enviamos diariamente.” Outra questão observada são os erros de endereçamento, às vezes sutis, como em vez do notificador usar Parque optar por Pq. Por outro lado um mesmo paciente pode ser notificado numa unidade de saúde e num laboratório, gerando a duplicidade. “São variáveis que o sistema não consegue decifrar automaticamente.”O superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Goiânia enfatiza que, no início da pandemia foi possível detectar estes erros em planilhas paralelas, mas com o crescente número de casos ficou inviável, porque não há pessoal suficiente.SoluçãoRepresentantes da UFG e da SMS de Goiânia conversaram na manhã desta terça-feira (14) para alinhar os dados relativos à disseminação da doença provocada pelo coronavírus (Sars-CoV-2) na capital.O Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig/UFG), responsável pela Plataforma Covid-19, pretende solucionar o problema ainda esta semana. O Coordenador da Plataforma Covid Goiás, Manuel Ferreira, terminou a reunião por videoconferência na manhã desta terça-feira certo de que terá condições de criar um protocolo interno para resolver o impasse. “Ficou confuso para a UFG fazer esta atualização, exigindo um longo trabalho braçal, diário. Nestas condições, é uma rotina complexa para fazer a representação cartográfica por bairros.”Para Yves Mauro, o trabalho do Lapig/UFG é de grande importância. “No início verificamos que a Covid-19 estava concentrada na região Centro-Sul, em bairros mais nobres como Bueno e Oeste, depois para o Jardim Goiás. Mas, por ser uma doença transmissível por vias aéreas, alcançou a periferia. Pudemos ver isso pelo georreferenciamento da Plataforma Covid Goiás.” O superintendente ressalta outro dado apontado pelos pesquisadores: se antes as internações na rede pública estavam em torno de 15% a 20%, hoje a distribuição é quase homogênea, com 52% nos hospitais públicos e 48% nos privados. “Os dados que a UFG está gerando nos propicia tomar ações em prol da saúde pública”, reafirma Yves Mauro. Com a doença tendo atingido a periferia, ele acredita que agora a população se torna a maior responsável em conter o avanço do vírus, principalmente no ambiente familiar. “Por isso é fundamental o uso de máscara, os cuidados com a lavagem das mãos e o uso do álcool em gel.” O superintendente de Vigilância em Saúde de Goiânia informou ainda que espera divulgar esta semana o resultado do inquérito sorológico de base populacional. “Com base nele teremos dados mais apurados de pessoas assintomáticas.” Conforme Yves Mauro, houve algumas semanas de baixa oferta de exames na rede pública de saúde, uma situação já solucionada. “Hoje estamos fazendo uma média de 700 testes diários”, aponta.Relação“Vamos criar um identificador único para corrigir estes problemas. Optamos agora por receber uma planilha completa da SMS e nós mesmos iremos fazer as devidas análises e filtragens. Isso evitará que a SMS apague registros em sua planilha de casos duplicados. Podemos fazer isso aqui.”, afirma o coordenador da Plataforma Covid Goiás. Manuel Ferreira explica que também ficou acertado na reunião que sua equipe irá receber a partir de agora o número de óbitos por bairros da capital.“A ideia é colaborar com a modelagem realizada pelo grupo de trabalho da UFG, que tem à frente os professores Thiago Rangel, Cristiana Toscano e José Alexandre Felizola Diniz. Com isso, será incorporado aos cenários a relação entre os casos confirmados, renda e registros de óbitos, trazendo maior conhecimento sobre o índice de transmissão e fatalidade da Covid-19 nas regiões ou bairros de Goiânia”, explica Manuel Ferreira.