A Prefeitura de Goiânia encerra nesta quinta-feira (29) a entrega de 19 praças públicas em três dias. As inaugurações fazem parte do projeto do prefeito Rogério Cruz de ampliar o número de áreas de lazer da cidade. O momento festivo, no entanto, divide espaço com a cobrança por manutenção em estruturas já existentes. Nas redes sociais do Paço, moradores de diversos bairros reclamam de bancos destruídos, parquinhos com brinquedos quebrados, mato alto e acúmulo de lixo.As praças que estão sendo entregues nesta semana contam com pista de caminhada, parquinhos, academias ao ar livre, bancos, lixeiras e jardins. Elas estão divididas em bairros de diversas regiões, incluindo setores como o Residencial Porto Seguro, Park Lozandes, Goiânia 2, Jardim Atlântico, Lírios do Campo, Santos Dumont e Fazenda Quebra Anzol.“Ao longo do ano revitalizamos ou construímos mais de cem praças na capital. Esta nova leva de inaugurações vem apenas confirmar nosso empenho de fazer de Goiânia uma cidade cada vez mais viva e alegre, com opções de espaço para recreação e prática de esportes em todas as regiões, contemplando a população como um todo”, afirma o prefeito Rogério Cruz.Em junho deste ano o prefeito anunciou que a administração municipal iria construir ou revitalizar 60 espaços públicos de lazer em Goiânia. O cronograma estabelecido foi de seis etapas, com ciclo entre o início e a entrega das obras a cada 60 dias. Com as inaugurações desta semana, os três primeiros ciclos foram encerrados com a entrega de 11 a menos que o previsto. Para o próximo ano, porém, a gestão municipal promete a revitalização ou construção de mais 50.Leia também:- Crise na Comurg- Prefeitura de Goiânia vai rever valor de contrato com Comurg- Obra da Praça do Trabalhador ganha mais 1 mês para ser finalizada, em GoiâniaDiante do volume de praças, a manutenção se torna um desafio. De acordo com a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), a capital conta com mais de 1.350 endereços deste tipo. No Setor Guanabara 3, a dona de casa Bernadete da Costa, de 63 anos, diz que a praça em frente à sua casa depende da atenção dos próprios moradores. Os esforços, no entanto, só dão conta da limpeza da área. Os bancos de madeira estão sem assento e o parquinho está tomado pelo mato alto.“Moro aqui há 13 anos e sempre foi bem precário. A gente tinha vários bancos, mas foram deteriorando e sendo retirados, sobraram três no meio da praça, mas nesta situação”, descreve Bernadete. Sobre a retirada de lixo feita por ela e uma vizinha, a dona de casa explica: “De 15 em 15 dias a gente faz a limpeza, porque a maior preocupação é com os mosquitos da dengue”.Nas publicações da Comurg e da própria Prefeitura sobre as inaugurações desta semana, moradores de bairros como Pedro Ludovico, Andreia, Guanabara, Boa Vista e Morada do Ipê reclamam de condições estruturais de praças em seus bairros. “As praças aqui do Setor Caravelas estão todas com os brinquedos quebrados há muito tempo. Não adianta inaugurar um monte de praça nova e deixar as outras abandonadas”, comentou um morador em publicação feita pela Comurg em uma rede social.SaídasA arquiteta Lana Jubé, conselheira federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) por Goiás, diz que é necessário estabelecer caminhos para garantir a manutenção dos espaços vistos como parte importante da cidade. “É claro que a manutenção de áreas verdes tem momentos mais complexos, como os períodos de chuvas. Mas manter as áreas mais circuladas com mato baixo, por exemplo, é algo fundamental”, diz.A cobrança da arquiteta se estende para os equipamentos instalados nesses locais. “A manutenção de bancos, iluminação e brinquedos tem de fazer parte de uma agenda regular da Prefeitura”, aponta.Para Lana Jubé, a saída pode estar em uma representação efetiva de regiões e bairros. “Quanto maior a cidade, mais complexo fica. Por isso é importante estabelecer subdistritos, pensar em subprefeituras e associação de bairros. Estas organizações são capazes de demandar e até mesmo compartilhar estes serviços entre o poder público e a iniciativa privada”, explica.Especialista sugere melhoria para programaHá na capital uma iniciativa que dialoga com o caminho indicado pela conselheira do CAU. O programa “Adote Uma Praça” foi criado por meio da Lei N. 10.346, em 2020, e prevê a celebração de parcerias com a iniciativa privada, com pessoas físicas ou jurídicas, com a sociedade civil organizada e demais entidades públicas para a realização de melhorias na iluminação, limpeza e segurança dos espaços, incentivando a instalação e a manutenção de mobiliários urbanos. Mais de dois anos após o lançamento do programa, porém, poucos espaços foram acolhidos pela iniciativa privada. Para Lana Jubé, o problema está no formato, que acaba sendo conveniente apenas para empresas do mercado imobiliário ou de grandes organizações. “Podemos, no lugar disso, pensar em parcerias diretas com as associações de bairros”, exemplifica sobre possíveis adaptações no programa. “Precisamos evoluir nesses projetos para que não sejam restritos a grandes empreendedores e sim que inclua toda a comunidade que vive ali”, diz a arquiteta ao exemplificar parcerias com mercados e outros pequenos empreendimentos de um bairro. “Podemos, inclusive, pensar em renúncias fiscais para eles, assim como ocorre para grandes empresas, que não fazem de graça”, afirma. Para a arquiteta, sobretudo é necessário entender que é possível resolver a questão das manutenções a partir da evolução da gestão pública. Por outro lado, cobra que nem toda área tem demanda para receber os mesmos equipamentos, o que deve ser devidamente observado para garantir a rotina de manutenções. “Todas têm de ter os mesmos brinquedos? Quadra de vôlei? É preciso que a comunidade tenha aquilo que é necessário em cada realidade”, acrescenta.-Imagem (Image_1.2585966)