Atualizada às 20h49Aos 18 anos e com o sonho de cursar Medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG), Luiza Mamede alcançou nota máxima na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. Até a tarde desta quinta-feira (17), a jovem goiana era a única do estado e um dos 21 estudantes do País a alcançar a nota mil, conforme o Portal Nacional de Educação. Ainda sem acreditar na pontuação, a adolescente afirma que no início do ano de 2021 tinha muita dificuldade com a escrita, demorava dias para concluir um texto e entrava em pânico ao pensar em escrever.“Eu descobri a nota na quarta-feira (16) à noite e fiquei acordada até muito tarde. De madrugada, escrevi um texto para a professora, terminei umas 3h e decidi mandar de manhã. Quando acordei tinha mensagem dela, ela falou que tinha sonhado comigo e eu mandei o texto de agradecimento”. A professora, a quem Luiza se refere é Karla Santa Bárbara, umas das idealizadoras do projeto de redação do Colégio Agostiniano, onde Luiza estuda.Luiza conta que a redação a assustava muito e quando cursava a 2ª série do ensino médio, demorava dias para concluir um texto. Na última redação semanal feita na escola, entretanto, ela obteve nota 1.000. “Eu comecei a zoar meus amigos que o mil viria no Enem, mas eu nunca acreditei de verdade, era só brincadeira. Quando eu vi, entrei em choque. Até agora eu não entendi direito o que isso significa porque é uma honra estar entre os poucos do Brasil, representando Goiás. Foi muito gratificante ver que todo o meu esforço valeu a pena”.Além de Goiás, outros nove estados tiveram algum estudante com pontuação máxima até o momento: Minas Gerais, com cinco alunos; o maior número de estudantes. De acordo com o Portal Nacional da Educação, os 21 estudantes que alcançaram a maior pontuação na redação são de: São Paulo (1), Rio de Janeiro (4), Pernambuco (3), Bahia (3), Ceará (1), Minas Gerais (5), Rio Grande do Norte (1), Paraíba (1), Rio Grande do Sul (1), Goiás (1). Pelas regras do exame, é preciso alcançar pelo menos 300 pontos para superar a nota de corte do Enem. Além de Luiza, o Colégio Agostiniano Nossa Senhora de Fátima, em Goiânia, já identificou mais de 30 alunos que conseguiram uma nota superior a 900 pontos na redação do último Enem.Emocionada, a professora Karla afirma que a emoção de receber esta notícia foi indescritível, apesar de não ser a primeira vez que tem um aluno alcançando pontuação máxima em um processo seletivo. Em 2014, um dos alunos dela também alcançou a nota mil no Enem, e a situação já se repetiu em provas do antigo vestibular da UFG e no Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB). “Saber que houve uma nota mil, que se tornou cada vez mais raro e principalmente pelo período de pandemia, é uma satisfação muito grande. Saber que você conseguiu fazer um processo de escrita dar certo em um processo educacional com aulas híbridas é uma emoção indescritível”Luiza morou em São Paulo nos dois primeiros anos do ensino médio e conta que tinha dificuldade com as redações. “Na 2ª série eu tinha muita dificuldade com a escrita da redação e entrava em pânico. Aqui, a escola tinha uma redação por semana, eu fui melhorando meu tempo, minha cabeça, conhecendo a prova, que eu acho que é muito importante: saber o que é esperado de você e quais são as cinco competências necessárias, que são avaliadas. Se eu fosse dar uma dica: treinar e analisar o que você está errando e acertando”.A professora de redação não poupa elogios, e com firmeza, diz que não há projeto bem-sucedido realizado sem empenho. “A nota mil é fruto de uma organização educacional, um projeto consciente e uma aluna dedicada. Eu tenho uma didática de ensinar, o colégio tem um projeto muito forte de escrita e um trabalho que passa por todas as disciplinas, mas a gente precisa do outro lado, do aluno. É resultado de uma combinação. Escola professor oferece, mas o aluno precisa estar aberto aos desafios. E Luiza era uma aluna que se cobrava muito, mas não para o lado negativo”.DúvidaNa última redação da escola, às vésperas do exame nacional, quando Luiza tirou a nota mil na escola, ela questionou se realmente tinha conquistado este resultado. “Quando o aluno se questiona, quando tem um planejamento de estudo diferente, com foco, se doando e oferecendo, o resultado vem. Ela é muito disciplinada e se entregou 100%. Ela deixava a gente trabalhar e confiava no que a gente passava. Não basta o professor falar o caminho, o aluno precisa percorrer o caminho e se testar”, finaliza. Professora defende autonomiaQuestionada sobre o tema da redação, se ele já havia sido tratado em sala de aula, a professora de Luiza, Karla Santa Bárbara, afirma que não e defende que mais importante que o tema, é a autonomia do aluno. “Esta é uma das perguntas que eu mais gosto de responder. Acredito que um projeto de escrita não é sobre decorar fórmulas ou fazer treinamentos exaustivos de tema como a garantia de que isso vai trazer a nota. Eu conheço vários alunos que fizeram redações sobre este tema e não alcançaram notas tão altas”.O Enem 2021 abordou como tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", que trata das dificuldades das pessoas que não estão registradas oficialmente em ter acesso a serviços básicos do estado como Saúde e Educação.Karla pontua que o objetivo do ensino é ensinar o aluno a pensar, ter autonomia, autoria e conseguir chegar ao próprio estilo de escrita pessoal e particular. Para isso, cita o processo de construção do conhecimento que é o que o Enem espera do candidato. “Neste conjunto, ele consegue escrever independente do tema que foi dado. Eu tenho muito orgulho de dizer que a gente não acertou o tema, e mesmo assim, conseguimos ter resultados tão maravilhosos, não só o da Luiza com a nota mil, mas inúmeros textos no colégio que alcançaram acima de 900 até 980, alunos que no ano anterior tiraram 500 e hoje tiraram 800, evoluíram muito”, se emociona.A professora afirma que muitas pessoas comemoram quando acertam os temas das redações e mesmo assim, alunos não conseguem notas tão altas. “Essa relação não é sempre de uma única mão, depende muito do processo. Sem vaidade, comemoramos falando que não trabalhamos o tema, não imaginávamos em nenhum momento e isso não impediu que os alunos aprendessem e tivessem autonomia de escrever independente do tema”.