O cientista goiano, formado em Física pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Saulo Freitas Ribeiro, é responsável por coordenar uma equipe que desenvolveu estudo que produz avanços significativos na confiabilidade da previsão do tempo no mundo. Ele atua em colaboração com a agência espacial norte-americana, a Nasa, há quatro anos e o modelo desenvolvido passará a ser usado a partir do dia 30 deste mês em todas as operações oficiais espalhadas pelo mundo.O pesquisador mora nos Estados Unidos desde 2016, para onde se mudou quando houve interesse da Nasa em pesquisas desenvolvida por ele. Depois dos anos de estudos para desenvolvimento deste modelo, sendo um deles de testes rigorosos feitos pela empresa americana, o pesquisador veio para o Brasil repassar informações para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), onde trabalha. A intenção é trazer esta novidade para ser implantada aqui.Saulo explica que o modelo criado por ele e desenvolvido em conjunto com mais três cientistas é baseado em leis de física. “Não tem bola de cristal. A gente sabe quais são as leis da física pelas quais a atmosfera é regida e sabemos quais leis que comprovam a mudança da atmosfera no tempo. São basicamente as leis da física clássica, como a segunda lei de Newton, leis de conservação de matéria e de energia.”O pesquisador diz que, na prática, os pesquisadores usam essas leis para tentar encontrar, usando um supercomputador, as características que demonstram como o tempo e a atmosfera vão mudar. “Se soubermos como a atmosfera está agora, aplicamos essas leis e podemos saber como ela estará daqui uma hora, uma semana, na próxima estação”, diz. Com as informações obtidas com as fórmulas, o cientista explica que é possível deduzir se vai chover, qual será a quantidade de chuva, qual será a temperatura, umidade, entre outras informações relevantes e importantes.Saulo explica que seu trabalho foi introduzir no modelo que a Nasa já utilizada uma espécie de atualização. É um método mais avançado com representação maior da física das nuvens e, portanto, na representação da formação de chuva. “Esse avanço causou melhora na previsibilidade da atmosfera usando o próprio modelo que a Nasa já utilizava, mas deixando mais completo.”Esse novo componente global deverá ser usado em todo o mundo, o que é um destaque para a pesquisa nacional, na opinião do cientista, que recusa méritos. “É um trabalho de um grupo, que tem feito seu trabalho. Na virada do ano tivemos a notícia de que o modelo implementado nessa colaboração entre a Nasa e o Inpe produziu avanços e que a empresa americana vai abandonar o modelo antigo e usar o nosso a partir de agora. Depois de finalizar essa colaboração, queremos trazer esse avanço em pesquisa espacial para o Brasil.”Antes de seguir para São Paulo, onde deverá repassar as informações obtidas na pesquisa, o pesquisador passou em Goiânia para visitar a mãe, descansar e matar a saudade de coisas da cidade, como o pequi e a carne de porco. Saulo ainda fica no Brasil até o final de março e retorna para os Estados Unidos, onde deve permanecer mais um ano e meio no programa de colaboração entre os dois países.Sistema mais realista ajuda cidadesO cientista Saulo de Freitas destaca que ter essa fidelidade maior na previsão do tempo é importante por conta de diversos aspectos, como navegação aérea, plantio, segurança social. Ele defende que é importante saber como o clima se comportará. “É uma informação é socioeconômica de extremo valor. Os países mais avançados do mundo investem muito recurso para ter essa informação e o modelo apresentado pretende oferecer este dado com fidelidade a partir de equações de física.”Ele diz que os centros nacionais estão sempre se atualizando para ter previsão mais confiável. “A atmosfera é um sistema caótico, a previsibilidade é baixa. Mas trabalhamos diariamente para melhorar todos os componentes para aperfeiçoar. Trazer esse modelo é uma grande contribuição para ter uma previsão de tempo com maior confiabilidade e com prazo mais estendido. Isso daria tempo para que os empresários que plantam se prevenissem em situações adversas, por exemplo. Ou mesmo os gestores de cidade se organizassem para evitar tragédias nas cidades.”Saulo ressalta que esse modelo oferece a possibilidade de fazer uma previsão com maior qualidade e com maior apuração. “É sempre difícil, mas é o sistema mais realista até agora, que oferece uma informação mais precisa”, diz. Ele reforça que este é um fator de preocupação dos cientistas. “Há consenso na comunidade cientifica de que os eventos extremos vão ficar mais frequentes, não só do ponto de vista de chuvas mais intensas, mas também períodos de secas mais prolongadas. São os dois extremos. E são as mudanças climáticas que estão favorecendo esses eventos extremos.”O estudioso entende que estes são motivos para que se invista cada vez mais nesse tipo de previsão. “São informações capazes de salvar vidas, propriedades.” Além disso, entende que existe a necessidade da sociedade civil discutir e planejar mudanças no sentido de reduzir as causas das mudanças climáticas, como a emissão de gases de efeito estufa, processos de industrialização, transporte, queimadas, que acabam trazendo o aquecimento global e eventos extremos em consequência.O goiano coordenador da pesquisa se formou em física pela Universidade Federal de Goiás (UFG), depois estudou em outros estados, como Pernambuco e São Paulo. Apenas quando começou seu mestrado, optou por estudar questões ambientais. Sua maior motivação foram as queimadas no Cerrado. Seu primeiro estudo que chamou a atenção da Nasa se refere ao acompanhamento de emissões de fumaça.