Quando a atriz e jornalista Isabella Naves, de 27 anos, chegou a Israel, não imaginava o que o mundo estaria prestes a enfrentar. Há um ano e cinco meses ela deixou Goiânia para trabalhar como voluntária num hostel de autistas em Holon, cidade próxima à TelAviv, e depois de enfrentar as restrições sanitárias como em qualquer lugar do planeta por causa da pandemia de Covid-19, já está vacinada e retomando a vida normal. Ela sabe que Israel é um oásis quando se fala em controle da pandemia, realidade diferente daquela vivenciada por outros goianos no exterior.Isabella conta que foi vacinada na primeira semana do trabalho de imunização em massa em Israel, que teve início em dezembro. “Como autistas foram inseridos nos grupos prioritários, todos os profissionais que trabalham com eles foram vacinados ao mesmo tempo. O governo investiu pesado na vacinação e tudo é muito organizado”, elogia. Postos foram abertos em todo o país, até mesmo em praias, o que possibilitou imunizar muita gente em pouco tempo.A atriz explica que, para incentivar a população a vacinar, autoridades vêm exigindo o “passaporte verde”, documento que comprova a imunização. Essas pessoas podem circular livremente em shows e áreas fechadas de bares e restaurantes. O uso de máscaras foi abolido em áreas abertas, mas continua sendo exigido em ambientes fechados. “Aqui quem está vacinado já consegue fazer praticamente tudo. Lojas, shoppings, museus e praias estão funcionando normalmente.”Há 21 anos, Polliene Lorraine Oliveira da Silva, que nasceu em Itumbiara, vive na França. Casada desde 2014 e mãe de duas meninas, uma de seis anos e outra de dois meses, ela conseguiu tomar a primeira dose da vacina contra Covid-19 nesta sexta-feira (30), depois de muita expectativa. “Ao contrário do que os brasileiros pensam, tudo aqui está muito devagar. O governo tentou vacinar a população há seis meses, mas a maioria das pessoas não atendeu o chamado. E como a França é o país do protocolo, tudo tem de estar escrito e registrado, doses estão sendo desperdiçadas”, relata. “A pessoa tem de agendar e ir, mas muita gente desiste no último minuto. Como não vacinam quem não é de grupos prioritários, o conteúdo do frasco aberto é jogado fora”.Os franceses, como conta Polliene, que é intérprete judiciária e trabalha para o Ministério da Justiça, temem o imunizante porque acreditam que não houve tempo suficiente para analisar possíveis efeitos colaterais. O governo especificou grupos prioritários para vacinar. O marido de Polliene, que integra a polícia nacional, já vacinou. Ela não estava na lista, mas conseguiu furar o bloqueio. “O centro de vacinação tem capacidade para atender muita gente e estava vazio.” A goiana vive em Cagnes-sur-Mer, perto de Nice, no Sul do país, onde os moradores tentam manter um clima de normalidade.Depois de três semanas fechadas por causa do aumento de número de casos de Covid-19, as escolas locais foram reabertas na segunda-feira (26) e todos os estudantes serão testados pela saliva. “Lojas de departamentos não estão funcionando e o toque de recolher começa às 19 horas. É a única coisa que estão respeitando porque a multa é de 135 euros. Fora isso, as praias e os parques estão lotados, algumas pessoas usando máscara e outras não. Eu vivo numa região de clima mais quente e por isso tem muitos idosos”, afirma a goiana. Pequenas conquistas cotidianas na ItáliaEm Turim, na Itália, a goianiense Amanda Dorian comemora as pequenas conquistas cotidianas depois que o país voltou a enfrentar novo período de confinamento. A Itália foi o primeiro país europeu a ser alvo de medidas sanitárias de emergência após o surgimento da Covid-19 na China e ficou quatro meses em lockdown. Este ano, por causa de nova onda da doença, o governo impôs novas restrições. “Estamos esperando a vacina, mas o governo já sinalizou que, para a minha geração, em torno de 40 anos, somente em julho. O processo está muito lento porque não tinha vacina disponível e as pessoas também têm medo de vacinar. Até agora somente 9% da população fizeram a segunda dose.”Após um mês fechadas em casa, como em 2020, os filhos da jornalista voltaram para a escola e a família tem feito atividades ao ar livre. “Isso foi um alivio e no último domingo (25) fizemos um passeio de bicicleta. No próximo final de semana vamos para o interior visitar uma amiga que não vejo há meses porque as viagens estavam proibidas”, relata. Segundo Amanda, como no Brasil, há uma grande pressão para a reabertura das atividades econômicas. Bares e restaurantes que não possuem ambiente aberto não podem reabrir. “Enquanto a vacina não vem, vamos aos poucos retomando as atividades, mas sempre de máscara, que continua obrigatória.” Voltando a respirarMeu nome é Clara Longo de Freitas, tenho 21 anos e moro em Maryland, Estados Unidos, há cinco anos. A partir de agosto começarei a cursar meu último ano de jornalismo na Universidade de Maryland.Há um ano, a vida por aqui estava muito diferente. Estradas vazias e parques fechados. As pessoas realmente em casa, saindo de vez em quando para tomar um ar, mas sempre de máscara e tensas, atravessando ruas para não chegar perto de ninguém. Em casa, somente meu pai ia às compras e levava meu cachorro para o banho. A cada retorno dele minha mãe higienizava tudo, desde as compras e o balcão onde eram depositadas e a maçaneta que ele tocava. Hoje isso ainda ocorre, mas a tensão é muito menor. Tudo vem mudando desde fevereiro, quando muita gente começou a ser vacinada. Os carros voltaram às ruas, as pessoas já correm nos parques, jogam tênis ou passeiam com seus cães. Do carro, observo restaurantes abertos e lojas também. Todos estão de máscara. É o que chamam de o “novo normal”.Comecei a sentir o “novo normal” no início de abril, quando recebi a primeira dose da vacina da Pfizer. Parecia cena de filme de distopia – um grande espaço coberto por uma lona branca, administrado por militares. Todo o processo — fila, verificação de documentos e a vacinação — durou 15 minutos. Depois, fiquei sentada por mais 15 minutos sob observação, caso tivesse algum efeito colateral.Esta semana repeti todo o protocolo para receber a segunda dose. Mas, com a primeira, voltei à universidade, reencontrei colegas e saímos para entrevistar pessoas para um artigo do jornal da escola. Durante a pandemia cheguei a sair algumas vezes para fazer entrevistas, mas sempre estava tensa e sentia culpa. Eu temia pegar Covid e transmitir para meus pais. Imaginava estar sendo egoísta porque eu queria sair de casa.A primeira dose da vacina me tirou esse peso. Sabia que não estava 100% imunizada e continuei a usar duas máscaras, mas voltei a andar, lado a lado, com pessoas que eu gosto e que só tinha visto pela telinha do Zoom durante meses. Voltei a sentir a normalidade.Tenho uma lista de coisas que quero fazer em duas semanas: cortar o cabelo, fazer compras sem pressa, comer no meu restaurante favorito e perambular por feiras no centro de Washington. Em junho, começo a estagiar no Baltimore Sun, um grande jornal do meu estado. E torcendo muito para que, em julho, eu abandone de vez o home office.Aqui nos Estados Unidos as pessoas vacinadas não precisam mais usar máscaras em lugares abertos, desde que não haja aglomeração. No meu estado, 56% das pessoas aptas a vacinar já receberam pelo menos uma dose. A Universidade de Maryland anunciou para breve um plano provisório, sem obrigatoriedade de distanciamento social, mesmo que o uso de máscaras seja. Ansiosa para ver bibliotecas, refeitórios, dormitórios funcionando como antes. A minha sensação é de que estou no final de um filme apocalíptico. Sinto, de verdade, esse “novo normal” cada vez mais próximo. Vou continuar usando máscara para trabalhar, frequentar lugares fechados e com aglomeração e para ir à universidade. Mas as coisas estão mais leves. Finalmente começo a respirar. À espera do chamado para receber o imunizanteMorando em Londres há um ano e cinco meses, a hair stylist Odésia Rodrigues de Araújo Neta, de 27 anos, ainda não foi vacinada, embora esteja legal na Inglaterra por estar casada com um brasileiro, cidadão italiano. O país, que já perdeu quase 130 mil pessoas para a Covid-19, imunizou até agora cerca de 33 milhões de pessoas e hoje registra em torno de 2,2 mil novas infecções, 4% do pico do dia 4 de janeiro, quando houve a maior média diária relatada. A partir dali, o governo decretou novo lockdown e impulsionou o plano de vacinação. As medidas restritivas caem de acordo com a redução de infecções e de óbitos. Na quinta-feira (29), 15 pessoas morreram em todo o Reino Unido por Covid-19.“O governo está enviando cartas para comunicar sobre a vacinação. Quem trabalha, que tem maior contato com o público, tem de vacinar”, afirma Odésia. Ela e o marido Marcus Vinicius aguardam a sua vez porque o governo está monitorando toda a população para ampliar o número de pessoas imunizadas, agora em 60%. Na Inglaterra, o uso de máscara em locais abertos foi liberado, escolas estão funcionando, mas ainda não é permitida a aglomeração de pessoas. A expectativa é de que em junho a maior parte das restrições chegue ao fim. “Mas o primeiro-ministro Boris Johnson não descarta novo lockdown depois do verão, temendo que as pessoas relaxem com as medidas sanitárias”, comenta Odésia.O POPULAR teve informações de que tanto no Reino Unido quanto em outros países da Europa estrangeiros indocumentados não têm perspectiva de receber a vacina contra Covid-19, e isso tem contribuído para um movimento de retorno ao Brasil. Como o imunizante é controlado pelo governo, a exemplo do Brasil, existe o temor da doença, mas também com a pandemia e as restrições impostas reduzindo atividades econômicas, cresceu a pressão para a não permanência em solo europeu de pessoas não legalizadas. A Bélgica é um desses países.-Imagem (Image_1.2242897)