O município de Goiânia perdeu 116 km² de sua cobertura vegetal entre 1986 e 2010, o que representa uma perda de 52,7% de sua área verde. É o que demonstram imagens analisadas pelo Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG). Além do desmatamento na zona rural, a perda de árvores coincide com a criação de quase 300 novos bairros nos anos 1990 e 2000. Mesmo com o título de “capital verde”, Goiânia tem como desafio continuar a crescer mantendo sua arborização. A expansão da área construída em espaços já desmatados é uma das maneiras, apontada por especialistas, de preservar o verde. Para o professor do Iesa, João Batista de Deus, a gestão municipal deveria criar mecanismos para obrigar donos de áreas vazias entre bairros a construir. Entretanto, ele avalia que a proposta esbarra no interesse de especuladores imobiliários. “Não é uma coisa simples, é uma pressão muito grande”, avalia.Quando é preciso desmatar novas áreas, a compensação ambiental deve ser bem executada. A professora da Escola de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Martha Nascimento, diz que apesar de necessária, a compensação ambiental é uma medida paliativa. No caso do reflorestamento, por exemplo, a contrapartida costuma acontecer em locais diferentes de onde a vegetação foi retirada. Isso diminui a recarga de água da chuva no lençol freático e compromete o bioma do local. “Você está deslocando uma função ecológica do local de origem”, explica a professora. Já para solucionar o problema das ilhas de calor, que se formaram em bairros como Campinas e Setor Bueno, falta espaço para as árvores. A professora de Arquitetura Sustentável da PUC-GO, Adriana Mikulaschek, afirma que em regiões sem espaço para parques, por exemplo, pequenos espaços podem ser utilizados para plantação de hortas comunitárias, pomares e até gramíneas, que podem ajudar no clima e na qualidade de vida. “Inclusive pelo sentimento de pertencimento do usuário no local. De repente perceber que naquela esquina vai ter uma horta urbana, um pomar, começa a ter uma responsabilidade de cidadão naquela rua. É uma processo de cidadania também”, defende. Verde questionadoDesde o início da década de 1990, quase todas as gestões da Prefeitura de Goiânia tiveram um discurso influenciado pelo ambientalismo, conta a mestre em Geografia, Carolina Ferreira da Costa Streglio. “A partir da administração do Darci Accorsi (PT), começou-se a falar muito das áreas verdes”.“O Nion Albernaz (PSDB) falava de Goiânia como a ‘Cidade das Flores’; na gestão do Iris Rezende (PMDB) houve um boom em relação à criação de parques e isso se tornou de fato uma forma de marketing para ele: ‘Goiânia das Áreas Verdes’. Inclusive o Paulo Garcia (PT) deu procedimento com ‘Goiânia Cidade Sustentável’”, contextualiza a pesquisadora.Em 2012, a divulgação do censo do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) 2010, que incluía a categoria inédita de arborização por domicílio, foi o ápice do estrelato verde da capital. Goiânia foi considerada a cidade mais arborizada do Brasil, quando comparada com as capitais com mais de 1 milhão de habitantes. No entanto, especialistas ponderam o título de cidade mais verde. “Apesar do número de parques crescer, o número de arborização diminuiu. É um discurso questionável”, avalia Carolina Streglio, que comparou a arborização do município entre imagens de satélite geoprocessadas entre os anos de 1986 e 2010. “Essa informação é muito questionada por conta da metodologia que eles (IBGE) utilizam”, afirma o doutor em geografia Diego Tarley. Em artigo de 2015, o especialista em geoprocessamento Tarik de Sousa Araújo resolveu testar a pesquisa do IBGE. Ele comparou os dados de Natal, no Rio Grande do Norte, obtidos pelo Instituto, com dados extraídos de imagens de sensoriamento remoto de alta resolução espacial.A conclusão foi que os dados do IBGE são superdimensionados, já que eles consideram como arborizados os domicílios de um lado do quarteirão que tenha pelo menos uma árvore. Segundo Tarley, existe uma dificuldade de se ter acesso a imagens de satélite atualizadas em alta resolução, que possibilitem a identificação do dossel, que é a parte de cima da copa das árvores.