Na quinta-feira (6) o vídeo de uma mulher grávida sendo transportada numa estrada vicinal de São Domingos, no Nordeste de Goiás, chamou a atenção de moradores da região. Sentindo muitas dores, a mulher deixou o Assentamento Marcos Correia Lins, a 10 km da sede do município, levada por algumas pessoas que não tiveram condições de ultrapassar o lamaçal em qualquer tipo de veículo, por isso optaram pelo carrinho de mão. A região vem enfrentando grandes volumes de chuva desde o fim de dezembro.Grávida de cinco meses, a mulher foi resgatada por uma ambulância do município e levada para o hospital municipal onde passou por exames e seu estado de saúde é estável, sem risco de morte. Jaime Teixeira, vice-presidente da Associação de Moradores do Assentamento Marcos Correia Lins, onde vivem mais de 400 famílias, explicou que o vídeo foi feito por um morador, indignado com as condições da estrada. “Na época da política, todos vêm pedir voto, por isso a reclamação porque a estrada está em situação de calamidade.” A grávida, conforme Jaime, mora num ponto mais distante onde não foi possível chegar, por isso o carrinho de mão. O assentamento recebe a visita de um médico uma vez por semana.Prefeito de São Domingos, Cleiton Martins (DEM) disse ao POPULAR que o município vive os mesmos dramas dos demais do Nordeste goiano afetados fortemente pelas chuvas, mas não reclama das precipitações pluviométricas. “O lençol freático precisava dessas chuvas. Há mais de 30 anos não chovia assim”, comentou. Para Cleiton Martins, o vídeo que mostra a grávida no carrinho de mão é uma ação eleitoreira. “Estamos trabalhando diuturnamente. Aqui não tem ninguém parado. Não adianta fazer vídeo sensacionalista”, afirmou ele em áudio que foi divulgado em grupos de aplicativo de mensagens na região.No áudio, o prefeito diz que o Assentamento Marcos Correia Lins foi criado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas que a prefeitura tem dado atenção à área. “Temos um monte de problema para resolver. Não tem ninguém na zona rural com estrada boa. Respeite as pessoas para ter respeito”, disse o prefeito ao morador que fez o vídeo e o divulgou. Ao POPULAR, Cleiton Martins explicou que o município possui mais de 3 mil km², está endividado, o agronegócio não é consolidado e conta com um fundo previdenciário falido. “Precisamos do apoio dos governos estadual e federal. Fizemos uma série de coisas, mas muito ainda precisa ser feito. Assim que vier a estiagem vamos resolver.”Nos últimos dias, conforme Cleiton Martins, o maquinário da prefeitura foi levado para atender a GO-110, que dá acesso aos distritos mais populosos do município, como Estiva, Monte Alto, São Vicente, São João e Vão do Paranã e o assentamento Mata Grande. “Essas comunidades estavam isoladas”, comentou. São Domingos possui quatro assentamentos agrários, o maior deles é o Marcos Correia Lins onde a grávida foi resgatada. Criado há mais de 15 anos, o assentamento fica dentro dos municípios de São Domingos e Monte Alegre de Goiás, mas com frequência enfrenta problemas de trafegabilidade na estrada de 10 km que o acessa.Para o prefeito Cleiton Martins, que está no segundo mandato, depois que o Incra indeniza o proprietário da área e cria o assentamento, “sobra para o município”. O administrador de São Domingos disse que a prefeitura tem atuado no assentamento, tanto melhorando as condições da estrada vicinal quanto em projetos da bacia leiteira e do plantio de mandioca, entre outras ações.Cavalcante sofre com falta de remédiosEm Cavalcante, município de 10 mil habitantes do Nordeste goiano com várias comunidades isoladas por causa das chuvas, a Secretaria Municipal de Saúde continua lidando com a falta de medicamentos e insumos médico-hospitalares. As unidades da rede pública estão lotadas de pessoas com sintomas gripais, uma realidade semelhante à dos demais municípios goianos. Mas, por causa das cheias dos rios, tem aparecido muitos casos de diarreia, otites e outras doenças decorrentes de alagamentos.Desde o primeiro dia do ano, a titular da Secretaria de Saúde de Cavalcante, Gessélia Batista vem solicitando doações de remédios, mas até o momento, o que chegou ao município não atende a alta demanda. “O povo está padecendo na zona rural. Para enviarmos médicos, precisamos de medicamentos”, disse ela num grupo de mensagens. Grande parte dos habitantes de Cavalcante é formada por quilombolas calungas que vivem em áreas distantes da sede do município e que estão isolados em razão das péssimas condições das estradas. Gessélia Batista disse ao POPULAR que “a cidade inteira está gripada, uma gripe muito forte, uma situação difícil.” O que mais preocupa a secretária é que as estradas não serão recuperadas em, pelo menos, 90 dias e, neste tempo, equipes de agentes de saúde e voluntários terão de atender as comunidades rurais. “Temos de levar medicamentos porque muitas pessoas não conseguem vir à cidade. Nas farmácias populares o remédio é entregue pessoalmente.” A gripe é a doença predominante, mas casos de otite, de síndrome de mão-pé-boca - doença que causa caroços na pele das crianças -, de sarna e de bronquite estão cada dia mais comuns em Cavalcante. Com o aumento da procura por atendimento médico em razão da síndrome gripal, sintomas que podem estar ligados à Covid-19, à dengue ou à gripe, o estoque de remédios no município praticamente zerou. O Governo de Goiás enviou soro fisiológico, soro oral, hipoclorito de sódio e dipirona, em gotas e em comprimidos. As administrações dos municípios de Brazabrantes e São João d’ Aliança encaminharam injetáveis para a cidade do Nordeste goiano, mas a secretária Gessélia Batista diz que é preciso muito mais, e com urgência.No último ofício encaminhado pela secretaria ao prefeito Vilmar Kalunga (PSB), a secretária Gessélia Batista solicita uma série de medicamentos e insumos para abastecer a pasta e encaminhar às comunidades quilombolas.-Imagem (1.2383436)