Atualizada às 14h18.A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reforçou o entendimento de que a guarda municipal não pode exercer as atribuições das polícias civis e militares, sendo a sua atuação limitada à proteção de bens, serviços e instalações do município. A deliberação do colegiado considerou o fato de que a instituição não está entre os órgãos de segurança pública previstos pela Constituição Federal.Essa tese foi firmada depois do julgamento de recurso de um réu de São Paulo que teve a condenação por tráfico de drogas anulada. As provas foram consideradas ilegais, porque foram colhidas durante uma revista em patrulhamento de rotina. Ações desse tipo têm sido contestadas por extrapolar o limite estabelecido pela lei.Segundo o relator do caso, ministro Rogerio Schietti Cruz, o crescente interesse em armar os agentes vem modificando a proposta de atuação dos guardas municipais nos últimos tempos. No entendimento do ministro, a Guarda Municipal pode até abordar pessoas e fazer buscas pessoais, mas apenas em casos excepcionais e desde que isso esteja relacionado à sua finalidade, ou seja, não deve ser considerada permissão para ações ostensivas ou investigativas típicas da polícia.Outro ponto abordado por Cruz é que as polícias Civil e Militar estão sujeitas a um “rígido controle correcional externo do Ministério Público e do Poder Judiciário”, mas as Guardas Municipais respondem apenas administrativamente aos prefeitos e às suas corregedorias internas. Segundo ele, seria potencialmente caótico "autorizar que cada um dos 5.570 municípios brasileiros tenha sua própria polícia, subordinada apenas ao comando do prefeito local e insubmissa a qualquer controle externo".Ampliação de funções em GoiâniaEm junho deste ano, o prefeito Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), vetou os artigos da lei complementar 353, aprovada no dia 18 de maio na Câmara Municipal, que davam novas funções aos guardas civis municipais, permitindo que atuassem na fiscalização em áreas como Meio Ambiente, Saúde Pública e edificações.O projeto original enviado pela Prefeitura previa alterações no plano de carreira de servidores municipais, no entanto, uma emenda apresentada pelo presidente da Câmara, o vereador Romário Policarpo (Patriota), mudou também as atribuições dos guardas.Contudo, foi ressaltado que o serviço de fiscalização é exclusivo para servidores que ocupem cargos específicos, alguns com formação especializada. O prefeito argumentou que o veto ocorreu porque a Procuradoria-Geral do Município (PGM) constatou que é inconstitucional a mudança nas atribuições por meio de uma emenda de vereador.Conforme foi mostrado em uma reportagem do O POPULAR de 30 de maio de 2022, um membro da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado Clodoaldo Moreira, a Constituição estabelece que os municípios podem constituir guardas municipais, mas destinada à proteção de seus bens, serviços e instalações. Assim sendo, o projeto fere “frontalmente a Constituição Federal de 1988”.Por meio de nota, a GCM de Goiânia informa “que em nenhum momento executa ações além das suas atribuições, respeitando sempre as competências estaduais e federais, limitando-se Às ações contidas nas legislações específicas que tratam da sua natureza”.Leia também:Guarda Civil de Goiânia ganha poder e amplia atuaçãoPrefeito veta ampliação de funções da Guarda Civil de GoiâniaCompra de armasO projeto vetado pelo prefeito acerca das novas atribuições de fiscalização pela GCM não foi a primeira polêmica envolvendo o assunto. Em março, os agentes ganharam poder de segurança ostensiva e iniciou-se um processo de compra de fuzis para equipar o batalhão de policiamento ostensivo. O procedimento, no entanto, foi suspenso após questionamento do Ministério Público.Na época, o comandante da GCM, Wellington Paranhos, chegou a declarar que a corporação procurava um “armamento mais eficaz, que traz mais segurança ao agente”. Os fuzis seriam direcionados à Ronda Municipal Ostensiva (Romu) e ao canil, apontados pelo comandante como os grupos de elite da guarda.Leia também:Guarda Civil Municipal de Goiânia será armada com fuzisMP abre investigação sobre compra de fuzis para a Guarda Civil de GoiâniaPrefeito diz que fuzis da GCM serão para proteção de agentesAtuação no trânsitoAinda em março, a GCM assinou um convênio com o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) que daria poder de atuação no trânsito para a GCM, incluindo a possibilidade de aplicação de multas.Outra disposição do acordo previa a disponibilização e atualização dos dados cadastrais de veículos registrados e condutores habilitados para fins de notificação de autuação; imposição e notificação de penalidades e arrecadação de multas; recebimento das informações sobre aplicação de penalidade de multa, assim como pagamento ou cancelamento por recurso; atos de bloqueio e desbloqueio da transferência e do licenciamento dos veículos; comunicação e recebimento das informações de pontuação, como estabelecido no CTB.Leia também:Após convênio com Detran, guardas civis metropolitanos passam a fiscalizar trânsito em GoiâniaAgentes vão ao MP contra convênio que autoriza GCM a fiscalizar trânsito de GoiâniaDetran-GO volta a negociar convênio com GCM sobre aplicação de multasAbuso de autoridadeEm maio, dez estudantes precisaram ser socorridos após uma ação da GCM na Escola Professora Dalka Leles, no Residencial Orlando de Moraes, região norte de Goiânia. De acordo com os funcionários do local, os guardas teriam usado spray de pimenta dentro da unidade de ensino para separar uma briga.Na ocasião, a assessoria de comunicação da Guarda se pronunciou afirmando que não houve excesso por parte dos agentes. Segundo a corporação, o uso do gás foi necessário e respeitou os protocolos de atuação já conhecidos. Na versão da GCM, as crianças e adolescentes estavam em risco. “Caso a Guarda não tivesse agido assim, muitas crianças teriam se machucado. Evitamos o mal maior utilizando o spray”.Leia também:Alunos ficam feridos após GCM usar spray de pimenta durante confusão, dizem funcionáriosDiretora da escola onde GCM soltou spray de pimenta será notificada por Conselho Tutelar de GoiâniaDefensoria quer responsabilizar GCM por gás de pimenta em escola de Goiânia