-Imagem (1.2529958)Renan Lemes Santana foi detido suspeito de cometer injúria contra um casal homossexual em Goiânia. As vítimas, Angélica Francielly e Karuliny Divina, estavam em uma sorveteria, nesta quarta-feira (14), no Setor Urias Magalhães, quando sofreram agressões verbais do homem. Um vídeo gravado pelo próprio suspeito diz que “não gosta desse tipo de gente” e se identifica como filho de uma advogada. Renan ainda diz que as mulheres são pessoas de “má índole”. Ao POPULAR, Angélica disse que ela e sua esposa estavam sentadas em uma mesa da sorveteria quando as agressões começaram. Segundo ela, Renan entrou no local, juntamente com um casal e, ao vê-las, disse “vamos embora desse lugar porque eu não gosto de ‘sapatão’, não gosto de gente desse tipo”, então, a esposa de Angélica, a barbeira Karuliny pediu por respeito e ele rebateu o pedido dizendo que era cristão e que não gostava “desse tipo de coisa” e saiu para a área externa do local. Angélica relata ainda que Renan fazia gestos, colocava a mão em seu órgão genital e olhava para Karuliny atacando-a com palavras dizendo “olha, se você quer ser homem, tem que ter um desse aqui”. Angélica diz que chegou a entrar na frente da esposa para que o homem não agredisse Karuliny. Karuliny relatou à polícia que mesmo do lado de fora da sorveteria, Renan continuou com as agressões e disse que ela “não poderia ser chamada de gente” e que era a “figura do capeta”. Pessoas que acompanharam a situação, chamaram a polícia e os envolvidos foram levados para a Central de Flagrantes. No local, de acordo com a polícia, o suspeito informou que é portador de esquizofrenia, depressão e outras doenças e faz uso de medicação de uso controlado, mas está há dois meses sem utilizar a medicação por dificuldade financeira. Renan assumiu ter ofendido as mulheres, mas alegou ter agido por impulso após, segundo ele, uma delas olhar para as pernas de sua esposa. Além disso, ele alegou ter sido abusado sexualmente por um homem quando era criança e, por isso, não tolera a homossexualidade e se diz arrependido. Renan assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), sob acusação de injúria simples e foi liberado. A reportagem entrou contato com Renan, mas ele preferiu não se pronunciar.Polícia não entendeu a situação como um crime de homofobia A vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Amanda Souto Baliza, explica que a partir do entendimento do Supremo Tribunal Federal no ano de 2019, ao se falar de raça e racismo, é preciso considerar as questões políticos sociais e não apenas a biológica, portanto, os crimes à comunidade LGBTQIA+ devem ser encarados um ‘racismo social’ e deve-se aplicar a lei de racismo, que possui penas mais rigorosas. Ao considerar a injúria, a advogada afirma que existem duas classificações: a simples e a qualificada. A simples, como foi a registrada neste caso, não leva em consideração todas as peculiaridades da situação. Já a qualificada, que analisa o nível das ofensas, sim. “Quando falamos da injúria racial, que é da modalidade do racismo, a constituição determina que ela é imprescritível e inafiançável. Então, quando colocamos um crime de homofobia/transfobia em um mesmo nível de injúria simples, você está indo contra o entendimento do STF”, diz. O Polícia Civil de Goiás possui o Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que é uma delegacia para esses casos - as vítimas não foram levadas para lá. Amanda diz que quando as mulheres são xingadas de “sapatão”, isso é entendido como uma injúria qualificada, pois é uma ofensa em razão da condição sexual. “Agora, quando em determinado momento do vídeo o homem diz ‘não gostar desse tipo de gente’, isso atinge toda uma coletividade e deveria ter sido enquadrado no crime de racismo”, explica. Leia também:Polícia abre inquérito contra deputado de Goiás por homofobiaMulher chama delegada e policiais de "burros" ao ser intimada em caso no qual era vítimaFuncionária de confecção em Goiânia chamada de “macaca” por colega de trabalho será indenizadaMulher negra é agredida após ser acusada de furto em supermercado; veja vídeo