“Os corruptos estão lá dentro e fazem do jeito que eles querem, fazem a lei para proteger eles. Isso não é ser humano, isso é um bicho bruto do mato. Até um boi você domina melhor do que um animal desse. O meu filho foi morto por uma pessoa despreparada. Ele morreu nos meus braços”, bradou Hermes Quirino de Oliveira durante o velório do filho, Hermes Júnior de Oliveira. Hermes foi buscar o pai no trabalho na noite desta terça-feira (22) quando foi morto por quatro policiais penais, em Aparecida de Goiânia. Os policiais alegaram “ter confundido” o carro da vítima com o carro de criminosos porque o veículo “tinha as mesmas características”. No carro atingido por tiros dos agentes, estavam Hermes Quirino, Hermes Júnior, um amigo, e sua mãe, Verônica Quirino de Oliveira.“Eu peço a você, governador Ronaldo Caiado, que prepare esses policiais para ir para a rua. Porque eles estão despreparados, estão matando cidadãos de bem e deixando os bandidos soltos. Somos nós que trabalhamos para sustentar os vagabundos na cadeia e ainda morremos no final. Eu quero justiça. Nós queremos justiça”, gritou a mãe, desolada, enquanto o filho estava sendo enterrado. A irmã da vítima, Sthefany Quirino, também não conseguia conter as lágrimas durante a cerimônia, mas deu um recado especial à imprensa. “Eu quero pedir para vocês, quando formos fazer protestos, por favor se reúnam com a gente. Porque esse cara era foda, era o melhor cara do mundo, ele foi meu pai, meu irmão e meu melhor amigo”. Ela conta que o pai viajava sempre e era o irmão quem cuidava dela na maioria das vezes. No dia do ocorrido, ela também ia com Hermes buscar o pai, mas não cabia ela e o marido no carro, então acabou ficando em casa e só recebeu a ligação dos pais desesperados. Leia também:Pais denunciam que filho foi morto por policiais penais, que teriam confundido carro do rapaz“Estamos revoltados”, diz primo de rapaz morto com tiro na cabeça em ação policialA família pede justiça e a prisão imediata dos policiais penais responsáveis pelo assassinato de Hermes Júnior de Oliveira. O jovem tinha apenas 26 anos, era montador de prateleiras e morava com a esposa e a filha, uma criança de 11 meses. “O meu filho foi morto por uma pessoa despreparada. Ele morreu nos meus braços, eu estava uniformizado. Ele foi no meu trabalho me buscar, e não foi a primeira vez, já foi várias vezes. Agora eu não tenho o meu filho pra me buscar em lugar nenhum. Cadê o meu filho?”, pergunta o pai da vítima. Hermes Quirino conta que vai ter que fazer o papel do filho com a sua neta. “Foi o que falei pra ele quando peguei ele nos braços. Eu vou cuidar da tua esposa e da tua filha.” A única coisa que o pai do jovem pediu, desesperado, durante o velório e enterro do filho, foi por justiça. De acordo com ele, a vontade é que os policiais apodreçam na cadeia, mas ele sabe como a justiça brasileira é cheia de falhas. O pai conta que voltou ao local do crime depois de ir ao Cais e encontrou a viatura no local, apesar de não terem prestado socorro à vítima na hora do ocorrido. “Eles podem até tentar esconder os rastros, mas tem uma bala no meu carro e outra na cabeça do meu filho”, conta o pai, pedindo pela prisão dos policiais penais.Direitos HumanosLarissa Junqueira Bareato, presidente da Comissão de Direitos Humanos de Goiás, também estava no velório. De acordo com ela, teve conhecimento do caso na noite desta terça-feira (23)e foi chamada pela Polícia Civil para acompanhar a família da vítima e assegurar a garantia dos direitos humanos na investigação. “A gente quer acompanhar, primeiro para que a família seja acolhida, e segundo para que isso não fique banalizado, não pode banalizar”.Ela explica que a Comissão tem a função de intermediar a sociedade com as instituições públicas constituídas e inspecionar todo e qualquer local onde haja notícia de violação aos direitos humanos. “A gente também acompanha os procedimentos para garantir a lisura do aferimento deles. Ainda estamos sem dados objetivos, mas tudo vai ser investigado”, explica. A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) instaurou um “Processo Disciplinar Administrativo” para afastamento dos policiais envolvidos. No entanto, eles prestaram depoimento e foram liberados. O Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) vai investigar o caso e a Comissão de Direitos Humanos vai acompanhar os resultados.-Imagem (1.2567011)