Em entrevista ao POPULAR, Davi Augusto, de 40 anos, que levou um tiro de um policial militar na Congregação Cristã do Brasil (CCB), no setor Finsocial, em Goiânia, contou que seu irmão, Daniel Augusto Souza, de 45, recebeu ameaças após o ocorrido.Ele conta que no intervalo entre o tiro e a espera pelo Corpo de Bombeiros, enquanto era socorrido por alguns fiéis, a maioria parentes, PMs foram até o local perguntar o motivo pelo qual as pessoas o ajudava.“Chegaram policiais e me xingaram. Xingaram minha família. Disseram que iam dar tiro na cara dos meus irmãos. Me esnobaram, perguntaram para as pessoas: ‘O que é que estão fazendo com esse vagabundo?’”, contou à reportagem.Davi disse que antes de levar o tiro, não havia sido ameaçado por ninguém e sequer havia brigado por razões políticas. Ele estava no culto para prestigiar o irmão, Daniel, que pediria perdão à congregação, ao lado do pastor, pelo desentendimento dias antes.“Meu irmão havia me convidado para eu congregar com ele. Ele e o pastor iam pedir desculpas na frente da igreja, por terem brigado na semana anterior. Era um dia de festa”, relatou.Davi conta que após três hinos, saiu do templo para beber água. No corredor, ele encontrou um ex-cunhado, que o cumprimentou. Posteriormente, estendeu a mão para Vitor da Silva Lopes, de 38, policial militar que teria disparado o tiro contra ele.“Estendi a mão e ele me olhou diferente. Percebi que um ser diabólico tinha pegado ele, porque não tinha cabimento. Ele não pegou na minha mão e, do nada, me olhou na cara e me chamou de vagabundo”, disse ao POPULAR.“Ele do nada jogou água no meu rosto. Disseram que ele me deu um tapa, mas eu nem vi. Quando eu passei a mão para limpar a água, ele sacou o revólver e já atirou em mim. Não teve discussão. Até hoje não sei o motivo”, afirmou Davi.Após os tiros, pessoas teriam juntado em cima do policial para tentar contê-lo. Uma fiel, que é enfermeira, prestou os primeiros socorros até a chegada dos bombeiros, que demoraram cerca de 20 minutos. Davi foi encaminhado ao Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol).Leia também:- Homem é baleado por PM após discussão sobre política em igreja de Goiânia- PM suspeito de atirar em amigo na igreja por suposta discussão política tem arma apreendida- PM que confessou ter atirado em fiel diz que “petistas” estavam em “confronto com igreja”Já no hospital, Davi conta que a médica falou que se não tivessem feito o torniquete na perna dele, ele teria sangrado até morrer.“Eu perdi de 3 a 4 litros de sangue. Graças a Deus fui socorrido na hora, principalmente por alguns parentes que estavam ali”, disse.Davi conta que sentiu medo dentro do hospital, após um homem desconhecido entrar duas vezes no quarto em que estava internado.“Fingi que estava dormindo, fiquei olhando por baixo. Minha mãe perguntou às enfermeiras quem era ele e elas disseram que achava que ele era segurança, mas que não existe esse costume dos seguranças entrarem nos quartos. Neste dia, fiquei receoso, mas não tenho certeza de nada. Não sei se ele faria algum mal ou não. Meu irmão e meu sobrinho foram ameaçados depois”, relatou.RecuperaçãoApós passar por 7 cirurgias e 15 dias de internação, Davi recebeu alta na última quinta-feira (15). Ele conta que foi direto para casa e que não teve oportunidade de ver novamente ou pastor da congregação ou Vitor.“Não tive contato com eles e nem eles comigo. O pastor nunca me ligou. O Vitor, muito menos. Algumas pessoas da região onde aconteceu me ligam para ver como estou passando”, relatou.Apesar da recuperação, Davi ainda não sabe se voltará a andar normalmente. “Estou em cadeira de rodas e está em fase de cicatrização das cirurgias que foram feitas.” Afirmou. “O médico disse que a primeira preocupação era salvar minha vida. Depois, recuperar minhas pernas.”Depoimento do PMO POPULAR teve acesso aos depoimentos prestados pelo PM. Na primeira oitiva, ele teria dito que se negou a cumprimentar Davi porque tanto este como seus familiares, principalmente Daniel, estavam "causando vários transtornos da igreja".“Estes familiares de Davi atrapalham o culto e, como são petistas, estão em confronto com o que a igreja prega, uma vez que a igreja diz para não votarem em quem é contra a doutrina cristã, motivo este que eles (Davi e familiares) perseguem todos na igreja que pensam de forma contrária a eles”, diz trecho do depoimento prestado na Central de Flagrantes.Já em outra oitiva, prestado no 22º Distrito Policial, onde tramita o inquérito, Vitor reafirma que Davi não se comporta como a igreja orienta, mas que isso não tem a ver com posicionamentos políticos.Ele ainda diz que encontrou Davi no bebedouro, onde conversava com outro fiel. Davi foi até ele para cumprimentá-lo, mas ele não quis dar atenção e pediu que se afastasse. No caminho para o banheiro, os dois trombaram e começaram a discutir. Parentes de Davi teriam se aproximado e entrado na briga. O policial conta que alguém tentou pegar sua arma, o que fez com que ele a sacasse. Quando Davi se aproximou, ele disse ter atirado na perna e deixado a igreja por medo das reações.Na época, a PM informou o POPULAR que assim que tomou conhecimento do caso determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato."Informamos ainda que o policial militar se apresentou de forma espontânea na delegacia de Polícia Civil para os procedimentos cabíveis", completou.Discussão por políticaUma semana antes, Daniel e o pastor haviam se desentendido durante o culto. De acordo com Davi, o pastor havia começado “a falar mal de político, do Lula, do PT, dos bandeirinhas vermelhas”. “Meu irmão se condoeu, porque querendo ou não têm muitas famílias petistas na igreja”. Ele ainda ressaltou que no estatuto da congregação proíbe tratar de assuntos políticos no templo.“O pastor se irritou. Xingou meu irmão, falou que ele é o demônio, que ele tinha que ir para o inferno, que a família e os irmãos dele não prestam. Difamou ele e nossa família”, conta.No entanto, segundo ele, a questão estava sanada, porque durante uma reunião, na segunda-feira (29), Daniel e o pastor haviam feito as pazes e iam pedir perdão para a igreja.“O dia que nós fomos era um culto de reconciliação com a igreja. Por isso eu estava lá. Moro em Santa Cruz de Goiás e frequentei a igreja por muitos anos, cerca de 30 anos. Há 3, desde que me mudei para cá, nunca mais estive nessa igreja”, disse.