O desempregado Ronaldo do Nascimento, de 47 anos, acusado de matar a aposentada Neusa Cândida, de 75, em um leito de enfermaria do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) no dia 7 de abril, foi descoberto por acaso, quando funcionários do hospital o levaram para a serviço social como se fosse um acompanhante da idosa para que fosse ouvido pelo psicólogo do local. Durante a conversa, o profissional desconfiou das falas de Ronaldo, que estaria morando em situação de rua há menos de um ano, e a Polícia Militar foi acionada até o local.O delegado Rhaniel de Almeida Pires, adjunto da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), concluiu neste fim de semana o inquérito que apurou a morte da idosa e indiciou Ronaldo por homicídio doloso qualificado, argumentando que o mesmo manipulou as vias aéreas de uma paciente em visível estado crítico de saúde, comprometendo sua respiração e sem lhe dar chance de defesa. Também sugeriu que ele fosse encaminhado para exame de insanidade mental, pois apresentou indícios de problemas psiquiátricos.Leia também:- Vídeo mostra homem indiciado por morte de idosa andando em área restrita do Hugo- Segurança do Hugo vai responder por omissão na morte de idosaA Polícia Civil concluiu que Ronaldo escolheu a idosa para abordar aleatoriamente, provavelmente por acha-la realmente parecida com sua mãe já falecida. Ele chegou a dizer inicialmente, ao ser detido, que a conhecia há mais de 40 anos, mas depois na delegacia ao ser questionado mais de uma vez sobre isso negou ter visto ela em algum momento da vida. Para o psicólogo, ainda no hospital, ele também afirmou desconhecer Neusa.O depoimento foi corroborado com imagens de câmeras do hospital que mostram ele entrando em vários quartos antes de chegar no do leito de Neusa e, segundo testemunhas, se aproximou de outros pacientes neste entra-e-sai. Inclusive, antes de abordar a idosa, tomou banho no quarto em que ela estava com outras duas pacientes e ao sair do banheiro ficou próximo a uma outra cama, só depois se voltando para a idosa.Ronaldo entrou na enfermaria por volta de 13h30 e a morte de Neusa foi constatada depois das 16 horas. Durante todo este tempo, o morador de rua circulou na área restrita sem ser abordado por ninguém, apesar de imagens de câmeras mostrarem que algumas pessoas já estavam estranhando a presença dele e a formo como ele circulava pelo ambiente.Em conversa com o psicólogo, segundo depoimento deste, o morador de rua contou que entrou no hospital atrás de uma amiga que poderia lhe ajudar a conseguir uma segunda via do documento de identidade, depois ao ser informado que ela não trabalhava mais ali, entrou na enfermaria para tratar de uma dor de cabeça e resolveu olhar os leitos para ver se tinha alguém sozinho precisando de ajuda.Ainda para o profissional de saúde, Ronaldo teria dito que ao ver Neusa se lembrou de sua mãe falecida e “leu os pensamentos dela” entendendo que precisava de ajuda. Ela respirava pela traqueia após uma traqueostomia, mas o morador de rua pegou um aparelho que estava próximo ao pescoço da idosa e colocou na altura da boca e do nariz. Ele diz que mexeu no pescoço e na boca da paciente, achando que ela não estava respirando e deu detalhes que a Polícia não conseguiu identificar se eram verdadeiros ou delírios.Ronaldo ficou por 20 minutos ao lado de Neusa e uma mulher testemunhou por 10 minutos ele manipulando o corpo dela na altura das vias respiratórias. Antes ela estava de costas para ele. Quando uma enfermeira chegou ao quarto e junto com outros profissionais constatou o óbito, o suspeito ainda se encontrava no local.Confundido até então como um acompanhante da idosa, ele chegou a abraçar o corpo dela já sem vida. Depois, Ronaldo foi levado para o departamento de assistência social. Ao ser abordado pelos policiais militares, não esboçou resistência e foi para a central de flagrantes da Polícia Civil.Após a conversa com o psicólogo, um funcionário ligou para a filha da idosa, perguntando se conhecia Ronaldo e se ele era acompanhante da mãe dela. Só numa segunda ligação a familiar teria sido informada sobre a morte.A filha da idosa chegou a dizer no momento da prisão de Ronaldo que o reconhecia e que ele morava no mesmo setor que a idosa. A Polícia Civil tentou tomar ovos depoimentos da filha e ouvir outros parentes, convocando-os, mas neste tempo em que durou o inquérito ninguém compareceu na delegacia.Na DIH, o depoimento de Ronaldo foi um pouco diferente ao que disse para o psicólogo. Afirmou que estava morando na rua há 7 meses, que já foi usuário de drogas e alcoólatra, mas estava livre dos vícios e que entrou na área da enfermaria para tomar um banho. Ao ver Neusa, achou que o aparelho respirador estava no lugar errado e resolveu ajuda-la, colocando-o no rosto. Ela então começou a passar mal e morreu.A idosa estava no hospital desde fevereiro, onde se tratava de problemas decorrentes de uma queda após um suposto AVC. Para respirar foi necessária uma traqueostomia e, segundo profissionais de saúde ouvidos pela Polícia, ela não recebia visitas. Seu quadro clínico era considerado bastante delicado e o perito que analisou o corpo após a morte apesar de não ter marcas de asfixia mecânica a manipulação do corpo da idosa por alguém sem conhecimento técnico pode levar a uma situação que provocou o mal súbito.Um segurança terceirizado do hospital também foi indiciado, mas por homicídio culposo (quando não há dolo) qualificado ao ter permitido a entrada de Ronaldo sem observar as regras comuns da profissão e as normas da unidade de saúde. O segurança Dione Gabriel Soares Martins, de 30 anos, cuidava da entrada na enfermaria e estava mexendo no celular na hora que o morador de rua entrou.Em depoimento, o segurança diz que deixou Ronaldo entrar para usar o banheiro, algo que seria liberado pela direção do hospital, e que era permitido que seguranças usassem o celular durante o serviço. As duas informações foram negadas pela direção do hospital, via assessoria jurídica, à Polícia Civil. “Independente das divergências havidas entre as versões do investigado e da direção do hospital, restou comprovado que houve falha procedimental por parte do indivíduo Dione”, afirmou o delegado em seu relatório.-Imagem (1.2440319)