“Mesmo com o risco da própria vida”, gritaram policiais militares da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) na entrada do Cemitério Municipal Jardim da Esperança, zona rural de Aparecida de Goiânia, na tarde desta terça-feria (24), enquanto passava o caixão com o corpo do soldado Walisson Miranda Costa, de 28 anos. A frase faz parte do juramento do policial militar. Walisson foi morto na última segunda-feira (23) após ser atingido com um tiro na cabeça enquanto trabalhava.No cemitério, quatro policiais militares do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO) efetuavam tiros de fuzil, prestando suas últimas homenagens ao soldado. No intervalo de cada tiro, enquanto seguravam as armas, dois militares soluçavam, já sem conseguir segurar as lágrimas. Um deles era o soldado Gabriel, do CPE, que atuava junto com Walisson. “A população perde mais que um policial. Ele era policial 24 horas, vivia para a Polícia”, afirmou. Ainda segundo ele, mesmo nos dias de folga, Walisson ia à base do CPE.O soldado Gabriel passou no mesmo concurso que Walisson, em 2012. Os dois fizeram juntos o curso de formação, mas Miranda entrou antes para o batalhão especializado, e incentivou o colega a fazer o mesmo. “Ele não tinha medo de nada não”, responde Gabriel, ao ser questionado se Walisson já havia manifestado em algum momento receio de ser ferido ou morto no desempenho da função.O esforço do soldado morto e o amor dele pela Polícia Militar é algo relatado por todos que o cercam - amigos, familiares e colegas de trabalho. Walisson, ou Montanha, como era apelidado devido à baixa estatura, estudou muito para passar no concurso. Quando passou, ficou entre os excedentes do certame - aqueles que chegaram a acampar na porta do Palácio Pedro Ludovico Teixeira, na Praça Cívica, em 2015. O soldado Gabriel conta que Walisson também acampou e lutou muito para ser convocado.Em novembro de 2015, ele foi um dos 732 chamados para assumir o cargo, tendo entrado para a corporação em janeiro de 2016. Gabriel conta que Montanha tinha o limite de tamanho para entrar na Polícia Militar - 1,65 metro. “O coração era imenso”, completa o colega. E ao ser questionado sobre como era Montanha durante o curso de formação, como era o seu desempenho, relata: “Ele aguenta muito. Aguenta coisa que pessoa de média estatura não aguenta.”Antes de o corpo ser enterrado, a mãe de Walisson, Anívia Miranda, se debruçou sobre o caixão, chamando o filho de “pedacinho de mim”. “Eu não queria estar aqui, meu filho. Eu não queria”, dizia. Coroas de flores que foram depositadas no túmulo eram seguradas por homens de preto emocionados. No caixão, uma bandeira do Brasil e outra do CPE.Ao final, pétalas vermelhas foram jogadas de um helicóptero em cima do local onde Walisson era enterrado, após um velório que durou 20 horas. FamíliaWalisson vivia com a mãe e a irmã mais nova, sendo que possuía ainda outras duas irmãs. Familiares contam que o soldado cuidava das despesas. Uma familiar que pediu para não ser identificada contou que a mãe de Walisson trabalha como empregada doméstica e uma irmã na empresa de telefonia OI.A familiar conta que Walisson se preocupava com a segurança da mãe e da irmã, tendo colocado várias câmeras em toda a casa. “No momento que podia ele ficava vigiando a segurança delas”, contou. Ela relatou ainda que a mãe do soldado é muito apaixonada por jardins, e que por isso ele começou a fazer um jardim na casa. Segundo esta familiar que não quis se identificar, a irmã mais nova de Walisson disse que ele deveria começar a se preocupar com ele, comprar um apartamento, ao que ele respondeu: “Não. Eu vou me dedicar para a minha mãe”.O jovem soldado morou toda a vida no Setor Colina Azul, em Aparecida de Goiânia, tendo cursado ensino fundamental e médio em colégios públicos da região. Familiares e amigos contam que ele estudou muito até conseguir passar no concurso da Polícia Militar, seu grande sonho. PMs devem ser ouvidos nesta quarta-feira (25)Os três policiais militares que estavam com o soldado Walisson Miranda Costa, de 28 anos, do Comando de Patrulhamento Especializado (CPE) da PM-GO, no momento em que ele foi baleado, devem ser ouvidos mesta quarta-feira (25) pelo Grupo de Investigações de Homicídios (GIH), de Aparecida de Goiânia.Sobre a possibilidade de o crime ter sido cometido por um policial militar, história que foi ventilada na tarde desta terça-feira, o delegado Charles Ricardo, que comanda as investigações, afirma que não existe essa linha de investigação, tendo sido apenas um boato divulgado por meio do aplicativo de mensagem WhatsApp. Por causa da informação, a PC chegou a checar um policial civil que possuía uma caminhonete semelhante, mas já foi descartada a possibilidade.Questionado se já estava provado que Walisson era o alvo do disparo, Charles afirma que não. “Não temos nada disso; de que foi represália, de que ele estava sendo visado, nada disso”, disse. Segundo ele, a PC ainda não sabe quem era o alvo. Walisson estava com os militares em uma viatura descaracterizada, um Ônix prata, na Avenida União, Setor Garavelo, em Aparecida de Goiânia, quando foram atacados. Nenhum dos quatro estava fardado, sendo que atuavam pelo Serviço de Inteligência da corporação, conhecido como PM2.Conforme informou o titular da GIH na segunda-feira (23), Álvaro Bueno, o tiro foi disparado quando passavam por um quebra-molas.-Imagem (Image_1.1894460)