Com início do funcionamento em 20 de dezembro passado, o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad) já atendeu 2,6 mil pacientes até o último dia 2. O local, que foi inaugurado oficialmente na manhã desta segunda-feira (7), passou a receber pacientes de todo o Estado que antes eram direcionados ao Hospital Materno Infantil (HMI), que agora será especializado em gestantes de alto risco e serviço neonatal. O Pronto-socorro Pediátrico do HMI funcionou até o dia 15 de janeiro. Até o momento, 58% da demanda atendida no Hecad foi de moradores da capital.Para o atendimento inicial da unidade, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) assinou um contrato emergencial, e durante 180 dias o local será administrado pela Associação de Gestão, Inovação e Resultados em Saúde (Agir), organização social (OS) que geria o HCamp. A estimativa de custo para este primeiro contrato ultrapassa R$ 68,57 milhões. O local tem capacidade total de 146 leitos, destes, 116 são de Unidades de Internação Clínica e Cirúrgica e 30 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Atualmente, dez leitos de UTI são destinados para casos da Covid-19. Na primeira fase de funcionamento, foram abertos 58 enfermarias e 30 leitos de UTI. Gradativamente, este número será expandido segundo a pasta.O evento de inauguração contou com a participação do governador Ronaldo Caiado (DEM), prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e dos secretários de Saúde do Estado, Ismael Alexandrino e do município, Durval Pedroso. Na ocasião, o governador do Estado, Ronaldo Caiado prometeu um tratamento adequado e em tempo hábil às crianças com cardiopatias, um dos grandes problemas enfrentados pelo estado há décadas. Além da cardiologia, a unidade vai ofertar atendimento especializado em pneumologia, alergia/imunologia, neurologia, endocrinologia, cirurgia pediátrica, gastroenterologia, hepatologia, hematologia, nefrologia, ortopedia e reumatologia. É preciso ressaltar, entretanto, que o encaminhamento e a triagem passam inicialmente pelas unidades básicas de saúde do município. O Hecad é considerado porta aberta, o que significa que atende emergência de forma espontânea, mas o objetivo é que isso seja feito com casos de média e alta complexidade. Crianças com problemas mais simples devem procurar uma unidade básica para avaliação.“Poder dar um atendimento de qualidade e transformar este local hospital de referência não só no Centro-Oeste, mas nacional, isso é uma das maiores realizações que tenho como médico e como governador do Estado”, afirmou Caiado. O governador também disse que pretende oferecer uma residência médica para estudantes de todo o País.O local já iniciou os atendimentos em dezembro e Caiado ironizou os governos anteriores que realizaram inaugurações de unidades de saúde como o Hospital de Uruaçu, mas que só abriu as portas, de fato, nesta gestão. “Só inauguramos o que de fato está funcionando”.O governador afirmou ainda que dará início a uma reconstrução do Hospital Materno Infantil que agora passa a ser o Hospital Estadual da Mulher (Hemu).DemandaSecretário de Estado de Saúde, Ismael Alexandrino explicou que o hospital atenderá a casos de alta e média complexidade e afirmou que o planejamento de transformar unidade em pediátrica estava em pauta desde 2019. “Sabíamos que existia esta necessidade na pediatria e planejamos. Em março de 2019 já havia falado sobre esta possibilidade. Este hospital já nasce um gigante porque aqui foram salvas milhares de vidas de pessoas que lutaram contra a Covid-19”.Alexandrino explica que o local vai atender a pacientes triados que já passaram em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) ou no caso de Goiânia, nos Centros de Centro de Atenção Integrada à Saúde (Cais). A ideia é conter primeiro o avanço da variante ômicron e avançar na vacinação infantil antes de tomar conta também da demanda represada de cirurgias para o público infanto-juvenil.“Existe uma demanda represada de cirurgias não só de crianças, mas também de adultos Durante a pandemia, o Brasil como um todo teve um represamento de 41% de cirurgias. Em Goiás, a taxa foi de 30%, menor que a do Brasil, mas ainda é alto. Estamos avançando na vacinação para que possamos diminuir o avanço da ômicron e retornar as cirurgias. Começamos o ano fazendo mutirão no Hospital de Urgências (Hugo), com 257 cirurgias ortopédicas e queremos estender isso para todos os hospitais. Já o Materno Infantil passa a ser hospital da mulher e da gestante e pacientes de alto risco continuam sendo atendidas lá”, finaliza.Moradora de Montes Claros de Goiás, Amanda Barreto dos Santos, 21 anos, aguardava atendimento na manhã desta segunda-feira. O encaminhamento foi feito pelo HMI para o filho José Miguel, hoje com 3 meses. Ela conta que teve uma gravidez de risco e que o filho nasceu prematuro, de 34 semanas e três dias. O bebê, que não precisou de UTI, foi encaminhado ao Hecad para uma avaliação neuropediátrica. “Tive duas hemorragias, placenta prévia e na terceira hemorragia, fizeram meu parto. Conseguiram salvar meu útero, mas fiquei internada por 28 dias”, recorda.NegligênciaEmocionada, a presidente da Sociedade Goiana de Pediatria, Marise Tofoli agradeceu aos trabalhadores do HMI pelo desempenho nos últimos anos, mesmo em condições precárias de superlotação. “Encerramos aqui um longo período de negligência a crianças e adolescentes no Estado e este é um marco histórico para Goiás”. Deputado federal por Goiás, Zacharias Calil também falou de diversas dificuldades enfrentadas pela unidade de saúde, bem como o incansável trabalho das equipes por um atendimento que se tornou referência até mesmo internacional, como é a situação das cirurgias de siameses, que ele passará a realizar no Hecad.Por meio de um ambulatório com equipe multiprofissional, o Hecad também prestará atendimento especializado às crianças e adolescentes vítimas de violência física e sexual. O hospital sediará ainda o Centro de Reabilitação de Fissuras Labiopalatinas, parte estratégica da atenção ao paciente com lábio leporino e fenda palatina da SES-GO.Associação comemora, mas diz que início ainda é tímidoPresidente da Associação Amigos do Coração, que cuida das famílias de crianças com cardiopatias de Goiás, Martha Camargo comemorou a inauguração da unidade e a promessa de atendimento adequado. Ainda assim, diz que o início é tímido, mas que a expectativa do grupo é imensa. “Estamos hoje como o Hugol atendendo apenas cirurgia e os pacientes estão sendo encaminhados a clínicas particulares para o serviço de ecocardiograma! Com isso, o risco é alto, pois essas clínicas não possuem profissionais de cardiologia pediátrica, apenas cardiologista geral. Precisamos com urgência de atendimento de cardiopediatria e serviço de ecocardiograma. Sabemos que a equipe contratada para o Hecad até o momento só possui um cardiologista pediátrico para atender a toda demanda do Estado. Assim, acredito que é um início muito tímido já que a demanda é muito alta”.Martha explica que a cada cem crianças que nascem, uma é desenvolve cardiopatia congênita. Isso significa que de 92.680 crianças nascidas em 2020, uma média de 922 têm a doença. “Temos em média 9 mil cardiopatas por ano nascendo e infelizmente muitas não conseguirão acesso a este serviço”, finaliza.