Cerca de um ano após o início do trabalho de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), o Hospital das Clínicas (HC), que é vinculado à instituição, já está utilizando em sua rotina diária o teste RT-LAMP, que detecta o RNA do coronavírus (Sars-CoV-2) desde os primeiros sintomas, permitindo agilidade no isolamento e no tratamento do paciente. “Trabalhamos muito para ajudar a população e chegou o momento, exatamente na pior fase da pandemia”, afirma a coordenadora da pesquisa, professora doutora Gabriela Duarte, do Instituto de Química. Nos próximos dias a UFG vai transferir, sem nenhum custo, o licenciamento da tecnologia para hospitais e laboratórios interessados em adotar o teste, cujo resultado fica pronto em cerca de uma hora.Superintendente do HC, que é gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), José Garcia Neto disse ao POPULAR que o RT-LAMP está sendo fundamental neste momento de extrema ocupação de leitos. O hospital universitário, por oferecer serviços de alta complexidade, está recebendo somente casos graves positivos ou suspeitos de Covid-19. “Estamos usando enfermarias de dois leitos como intensivas e enquanto não há confirmação, não posso colocar outro paciente ao lado de quem já positivou. Este teste fica pronto em menos de uma hora, o que facilita a distribuição dos leitos. Ele não é somente mais rápido que o RT-PCR, é mais barato e com eficiência similar.”O custo do RT-LAMP é até cinco vezes menor do que o RT-PCR, segundo Gabriela Duarte. A técnica consiste na amplificação do RNA do vírus em um pequeno tubo utilizando pouco volume de amostra de material do paciente e de reagentes. A análise dos resultados é simples, por meio da mudança de cor da solução quando há a presença do vírus, ou seja, a leitura é a olho nu. O sistema não é novo e já vinha sendo utilizado em outros tipos de análises, mas foi adaptado para identificar a presença do vírus que provoca a doença Covid-19.A pesquisa para tornar realidade o Diagnóstico Molecular Rápido para Covid-19 desenvolvido em conjunto pelo Grupo de Pesquisa de Biomicrofluídica do Instituto de Química e do Laboratório de Genética Molecular e Citogenética do Instituto de Ciências Biológicas da UFG foi financiada em grande parte pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) em Goiás, que transferiu em julho do ano passado R$ 1,3 milhão para o estudo. Foi um dos maiores montantes destinados à UFG para uma única pesquisa. O projeto também foi contemplado com editais da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).“Para nós, os 19 procuradores do MPT em Goiás, o sentimento é de muito orgulho porque contribuímos para que a pesquisa fosse concretizada ainda dentro do processo pandêmico. É o mínimo que o MPT e a Justiça do Trabalho podem fazer ao destinar para a ciência recursos de empresas condenadas pelo não cumprimento da legislação trabalhista. Quando pedimos à Justiça o dano moral coletivo, nosso objetivo é reparar uma lesão causada à sociedade e ela está colhendo os frutos agora, com este teste acessível e barato”, comemora Tiago Ranieri, procurador-chefe do MPT em Goiás.“Nós queríamos que o teste ajudasse a sociedade de imediato neste momento trágico da pandemia. Para nós é uma alegria saber que os médicos do HC já podem solicitar o RT-LAMP”, reforça Gabriela Duarte. Nesta parceria, o hospital universitário não somente recebeu 500 testes, mas também o treinamento por parte da equipe pesquisadora. “(O teste) é um retorno da ciência, de nós, pesquisadores, para a sociedade.”A coordenadora do projeto lembra que a UFG está pronta para transferir o licenciamento da tecnologia do teste para qualquer laboratório ou hospital, público ou privado, que tenha interesse em adotá-lo, “sem nenhum custo”, ressalta. Segundo Gabriela Duarte, edital para tornar público o protocolo está em fase de elaboração pela UFG, e deve ser publicado nos próximos dias. Formato agiliza exame em hospitais Desde o início do estudo para verificar a eficácia do método RT-LAMP na detecção do coronavírus, os pesquisadores da UFG optaram pela coleta de saliva por ser mais fácil e ágil. A validação do estudo ocorreu em diversas frentes envolvendo trabalhadores da limpeza urbana, do transporte coletivo e das polícias Rodoviária e Militar, sempre confrontando com o teste RT-PCR, que é considerado padrão ouro para o diagnóstico da Covid-19. Entretanto, conforme explica Gabriela Duarte, com o recrudescimento da pandemia foi criado um formato específico do RT-LAMP para hospitais com amostras coletadas pelo swab nasal.“Para analisar a saliva precisamos um pouco mais de tempo. Cada pessoa tem uma saliva com composição e pH diferentes. Por isso decidimos criar este formato para agilizar o teste em hospitais. Tudo é feito lá dentro, sem necessidade de laboratório específico”, detalha a coordenadora do estudo. O projeto-piloto da aplicação dos testes, agora na rotina do HC, foi realizado no Hospital da Polícia Militar (HPM).