As atas das reuniões de março do Conselho de Assistência à Saúde e Social dos Servidores Municipais de Goiânia (Conas), ligado ao Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores de Goiânia (Imas), mostram que a relação entre o então presidente do instituto, Jefferson Leite, com os conselheiros já vinha se deteriorando mais de um mês antes de ele ter sido exonerado pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos).Os documentos, publicados na edição de quarta-feira (27) do Diário Oficial do Município (DOM), também mostram que foi comunicado aos conselheiros a intenção do prefeito em viabilizar o projeto de lei que dá autonomia financeira ao Imas. Atualmente, os recursos descontados dos servidores vão para os cofres da Prefeitura e depois que são encaminhados ao instituto. Além disso, gastos acima de R$ 50 mil precisam de autorização da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin).Agora as atas confirmam a existência destas reclamações. “Sem o diálogo as questões ora apresentadas tendem a tensionar ainda mais gerando transtornos complexos à saúde das pessoas que dependem deste Instituto”, aparece em trecho da ata do dia 3 de março. No dia 15, é dito que o Conas precisava seguir com os “trabalhos regulares do conselho”, como as visitas aos prestadores, em vez de “ficarmos presos as intempéries da atual gestão”. Já no dia 24, se fala de pressões dentro do Imas, como a proposta de devolver servidores cedidos pela Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg) e “falas veladas e comentários não claros” sobre corte de gratificação e atrasos nos jetons.O prefeito trocou pela terceira vez o presidente do Imas no dia 14 de abril, tirando Jeferson e colocando Welmes Marques da Silva, que respondia pelo comando do Conas. Oficialmente, o Executivo Municipal afirma que Jeferson – que assumiu o cargo em 4 de fevereiro - cumpriu a missão de identificar os problemas enfrentados pelo instituto, auxiliando a Prefeitura a montar uma estratégia para busca de soluções. Mas nos bastidores se criticou bastante a gestão dele, pela falta de transparência nas ações, na pressão em cima dos funcionários e na falta de conversa com os conselheiros.Por mais de uma vez, estiveram presentes representantes dos prestadores de serviço nas reuniões do Conas reclamando de atrasos no pagamento e no descumprimento de promessas feitas pelo então presidente do Imas. No dia 10 de março, representantes de hospitais relataram que ouviram de Jeferson o compromisso de quitar algumas dívidas uma semana antes, mas isso não ocorreu. Foi falado também que estes atrasos recorrentes, mesmo sob a gestão que assumiu em fevereiro, já teria levado alguns prestadores a denunciar no Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).Silêncio criticadoNa ata do dia 29, consta a presença de uma usuária do Imas relatando as dificuldades enfrentadas. Ela não conseguia atendimento em um hospital credenciado. “O problema se instala no fato de que a administração do hospital em tela afirmar que só retornará com o atendimento após o presidente do instituto receber a administração do hospital para realizar negociação acerca dos pagamentos em atraso.” Nesta data estava prevista a participação de Jeferson na reunião, o que não ocorreu.Ainda no dia 29, é citada na ata a reclamação mais incisiva em relação à falta de diálogo com Jeferson. “Nenhum ofício (solicitando reunião com os conselheiros) foi respondido pela presidência do Imas. Assim, após inúmeros debates, considerando a péssima postura do presidente do Imas, Jefferson Leite, que permanece na posição de silenciamento e de não dialogar com o Conas, nem mesmo, a solicitações oficiais, este colegiado faz a opção de oficiar o presidente do Imas, mais uma vez, reiterando as mesmas solicitações, bem como solicitando em ofício específico a publicação do novo regulamento do plano de saúde do Imas”.Apesar das reclamações, Jeferson chegou a participar de uma das reuniões, a de 10 de março. Segundo a ata deste dia, ele diz que alguns pagamentos ainda não foram feitos “por problemas enfrentados com relação a empenhos, alguns por questões de notas de prestadores que não foram apresentadas, outros, por problemas de liberação de solicitação financeira por parte do Escritório de Assuntos Estratégicos (da Prefeitura de Goiânia)”.O fundo próprio do Imas é visto como a principal solução para os atrasos nos pagamentos, mas na reunião do dia 10 de março Welmes diz que também é importante o instituto melhorar a arrecadação, para que a receita seja compatível com as despesas”. Em seguida, um conselheiro diz que a receita do Imas não é um assunto do Conas e que “a categoria não vai ficar na ponta da lança para resolver problemas de prestadores”.Outros problemasOs credenciamentos interrompidos desde dezembro são um tema recorrente das reuniões, principalmente pela falta de uma proposta por parte da presidência da época. “O presidente do Imas já foi oficiado pelo Conas por duas vezes solicitando o andamento do credenciamento. No entanto, até o presente momento sem resposta do mesmo”, é dito na ata do dia 15. “O andamento do novo credenciamento encontra-se parado, fato que requer atenção de todo/as, pois sem esses contratos assinados o Imas poderá colapsar”, aparece na ata do dia 3.A burocracia foi citada por um conselheiro quando comentou sobre alguns pagamentos referentes a serviços prestados em agosto do ano passado que não haviam sido nem mesmo empenhados porque dependiam de autorização da Segov. Somente após esta autorização é que os empenhos são feitos pela gerência de planejamento do Imas.A urgência para a publicação de uma nova resolução do Imas também foi assunto de discussão, uma vez que o documento já estaria pronto, aprovado pelos conselheiros, e o atual é de 2006. Em uma das reuniões é dito que a proposta está parada há mais de 5 meses na mesa da presidência. Ao POPULAR, Welmes disse que a resolução está pronta para publicação, o que deve ocorrer em breve.A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Goiânia para saber sobre o projeto de lei criando o fundo do Imas, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno. Jeferson também foi procurado e chegou a visualizar mensagem deixada no WhatsApp, mas não retornou aos questionamentos.O atual presidente do instituto disse em entrevista que após sua posse muitos prestadores que haviam interrompido os serviços já os retomaram, em um voto de confiança, e que restabeleceu o diálogo com servidores e usuários, além dos conselheiros. Durante a conversa, frisou por várias vezes que sua gestão seria pautada pelo diálogo permanente, inclusive com os órgãos de controle. E afirmou que o credenciamento dos prestadores - novos ou não - será retomado “muito em breve”, dependendo apenas de detalhes burocráticos.Leia também- Imas tem o quarto presidente em 1 ano e meio- Presidente do Imas é exonerado após pouco mais de dois meses