O inquérito policial que apurou o assassinato do engenheiro civil Erceli Miguel Pinto, de 49 anos, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia, no dia 16 de abril, aponta como mentirosa a versão apresentada pelo coronel da PM na reserva Clóvis de Sousa e Silva, de 62 anos, indiciado na semana passada pelo crime. No relatório entregue à Justiça no dia 18 e que O POPULAR teve acesso com exclusividade, o delegado Rogério Moreira Bicalho Filho, responsável pelas investigações, pede a prisão preventiva do suspeito, que confessou o crime dizendo ter agido em legítima defesa.Imagens de câmera de segurança mostram que o coronel e a vítima mantiveram uma conversa por três minutos e que Erceli chegou a ser empurrado ao final, quando tentava entrar em sua casa. Também mostra Clóvis sacando a arma e, segundo o delegado, apontando diretamente para a cabeça do engenheiro.“Diferentemente do que (o investigado) narrou em seu interrogatório, não houve agressão física por parte da vítima em Clóvis, e este saca a arma e aponta diretamente para o rosto de Erceli, não para cima como dito em sua narrativa”, escreveu o delegado no documento de encerramento do inquérito.O coronel havia contratado Erceli para a construção de uma casa e após a entrega passou a reclamar do resultado. Segundo Clóvis, havia problemas estruturais que precisavam ser corrigidos. Já a mulher da vítima contou em depoimento que as queixas eram exageradas, mas que de qualquer forma seu marido estava, sim, atendendo aos pedidos do contratante.Em sua versão, o coronel conta que no dia do crime foi se exercitar correndo na rua e encontrou por acaso com o engenheiro, iniciando uma conversa. A partir de certo momento, Erceli teria passado a ofendê-lo e, por fim, o empurrado. Clóvis disse ter sacado a arma com o intuito de efetuar um disparo para cima e, acidentalmente, acertou a vítima.Erceli foi atingido no pescoço e morreu no local. O coronel fugiu em seguida. Na delegacia, disse que saiu a esmo pela cidade, jogou a arma fora em uma chácara próxima e resolveu se entregar na corregedoria da PM. Como não se tratava de um crime militar, a corregedoria teria dito que era caso de Polícia Civil. O coronel da reserva só apareceu na delegacia dois dias depois e responde ao crime em liberdade.De acordo com a Polícia Civil, era o coronel o nervoso e há indícios de que ele perseguia e ameaçava Erceli. No celular da vítima, foi encontrada uma foto do engenheiro com a esposa em uma loja enviada pelo coronel, indicando, segundo a polícia, que a vítima estava sendo seguida. Há também conversa da vítima com um amigo na qual ele narra o nervosismo do coronel e diz que iria responder com mensagens religiosas.As imagens das câmeras encontradas durante a investigação mostram todo o contato entre Erceli e Clóvis na rua no dia do crime e em nenhum momento há movimentos apontando o engenheiro nervoso ou indo em direção ao coronel.Ainda segundo o delegado, o crime teria sido planejado e a liberdade do coronel representa um risco para a esposa da vítima e para um amigo que prestou depoimento no processo sobre a relação conflituosa entre o Clóvis e Erceli.Defesa reage ao pedido de prisãoA reportagem não conseguiu contato com a defesa do coronel. Em uma petição feita na Justiça após a remessa do inquérito, o advogado que responde por Clóvis diz que seu cliente tem colaborado com as investigações “mesmo de atestado médico e fazendo uso de medicamento controlado” e que causou surpresa o pedido de prisão.Ainda segundo a defesa, o encaminhamento feito pelo delegado para deter o coronel não se sustenta, “uma vez que o requerente (da petição feita pelo advogado) não representa risco à ordem pública e nem à instrução processual”. “O requerente é um senhor de 63 anos de idade e a conduta investigada foi um fato isolado em sua vida. (...) Ele não possui sequer uma única punição durante os quase 30 anos que serviu à instituição (Polícia Militar)”, escreveu o advogado no pedido para a prisão não ser decretada.A defesa também nega que haja qualquer ameaça para as testemunhas por parte do coronel, visto que ele confessou a autoria do disparo, tem comparecido na delegacia para dar sua versão dos fatos e a polícia não apresentou nenhuma prova de que a esposa ou o amigo de Erceli tenham sido ameaçados.“Trata-se, portanto, de excesso de acusação por parte das testemunhas, que, sem qualquer registro e com a clara intensão de prejudicar o bom andamento processual, tentam induzir Vossa Excelência em erro, isto é, pretendem a decretação da prisão preventiva do requerente como forma de antecipação da culpa. A falta de mensagem contemporânea ou de qualquer outro elemento de prova de que o requerente estaria ameaçando as testemunhas para amparar a alegações da autoridade policial demonstra que tais fatos jamais existiram”, escreveu a defesa.