A Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH) pediu na última terça-feira (19) o aumento do prazo para conclusão de inquérito que apura possível manipulação de dados criminais de 2018 no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO). Ontem, o inquérito completou 30 dias, prazo para que fosse remetido ao Judiciário.De acordo com o titular da DIH, Rilmo Braga Cruz Júnior, a quantidade de dias a mais que serão concedidos fica a critério do juiz. Na DIH, costumam autorizar mais 90 dias, segundo o delegado. “Eu penso que seja suficiente”, afirmou. Desde o dia 21 de outubro, a SSP retirou do site da pasta dados criminais, compilados pelo Observatório de Segurança Pública. No lugar foi colocado um aviso de que em função de inconsistências identificadas inicialmente nos dados de 2018, “foi determinada a realização de auditorias”, com a instauração de inquérito policial. A divulgação, então, foi suspensa pelo período inicial de 30 dias.Questionado sobre o motivo pelo qual havia pedido aumento de prazo, o delegado afirmou que ainda possui perícia pendente e que precisa ouvir algumas pessoas. “Precisamos de laudos periciais para subsidiar as oitivas (processo de ouvir testemunhas) que restam”, disse. Até o momento, já foram ouvidas cerca de 10 pessoas, segundo ele. O delegado afirmou que uma perícia já ficou pronta, mas não pôde adiantar o teor. A investigação, conforme o delegado, se refere somente ao ano de 2018. Ao POPULAR, o secretário de Segurança Pública de da época, Irapuan Costa Júnior, disse que não iria comentar o caso. “Único comentário que faço é que o Estado era muito transparente e chefiado por um dos oficiais mais qualificados da Polícia Militar e trabalhava em cima dos boletins de ocorrência oficiais”, acrescentou. Irapuan se refere ao ex-gerente do Observatório de Segurança Pública, tenente-coronel Geyson Borba, que saiu do departamento neste ano.DADOS “MAQUIADOS”No último dia 7, o secretário de Segurança Pública Rodney Miranda disse à imprensa, ao ser questionado sobre os dados, que possuía indícios de que os números de 2018 foram manipulados. Na ocasião, ele afirmou que dados de homicídios foram desqualificados e enquadrados em outros tipos de crime. O chefe da pasta disse ainda que possuía várias provas nesse sentido e que estava apurando o intuito da adulteração. “Mas acredito que seja para maquiar dados, talvez até com proveito eleitoral, mostrar que a situação não estava tão grave quanto realmente estava”, disse. A área de estatística já havia ficado fora do ar durante seis meses, de janeiro a junho deste ano. No dia 1º de julho, quando o governador Ronaldo Caiado (DEM) divulgou o balanço de seis meses da Segurança Pública no novo governo, as estatísticas voltaram a ser publicadas. Entretanto, não em sua totalidade. Anteriormente, a série histórica publicada vinha de 2011, passando a ser mais curta - de 2017 para cá. A reportagem enviou quatro questionamentos à SSP, dentre eles o motivo pelo qual dados de 2017 e 2019 também foram tirados do ar, quando a investigação se referia a 2018. Em nota, a SSP disse apenas que os dados de 2018 continuam sendo auditados e que “mais informações serão divulgadas em momento oportuno”. “Todos os números e metodologias estão passando por rigoroso processo de auditoria. Informamos também que o Inquérito Policial (n° 325/2019) está em andamento”, afirmou a assessoria da pasta.Em coletiva no último dia 7, a reportagem fez a mesma pergunta ao secretário, ao que ele respondeu que não é possível comparar dados em cima de uma base falsa. “E hoje nós temos uma base falsa em 2018 e talvez até de 2017 também”, afirmou Rodney.