Interditado após um incêndio ocorrido na segunda-feira (4), o antigo Banana Shopping, no Centro de Goiânia, deverá passar por uma perícia estrutural completa. Só após a avaliação dos danos causados pelas chamas é que o Corpo de Bombeiros irá decidir quanto a liberação do prédio. O local abriga lojas, consultórios, cinema, uma faculdade e uma praça de alimentação.Na análise prévia dos Bombeiros e da Polícia Técnico-Científica, os danos do incêndio teriam ficado restritos a quatro das cinco salas de cinema do local, que ficam no terceiro andar, sem afetar as demais áreas. A quinta sala de cinema teria ficado intacta, assim como a praça de alimentação, que fica no mesmo pavimento. Nos andares inferiores, as lojas e a faculdade teriam sido atingidas apenas pelo grande fluxo de água dos trabalhos de combate ao fogo.Mesmo com as lojas interditadas e sem energia elétrica, clientes buscavam saber se o local estava funcionando. Dezenas de funcionários estiveram na porta do shopping pela manhã sem saber se seriam ou não liberados para entrar e verificar como estavam as mercadorias e as lojas.Paulo, proprietário de uma loja de artigos importados, a maior do local, conta que não pode fechar o estabelecimento totalmente em razão da insegurança causada pela falta de energia elétrica. Durante o dia, funcionários do empreendimento trabalharam para tentar secar as estruturas. “Para abrir para os clientes não sabemos quando, vai depender do que disser a perícia”, diz Paulo.InvestigaçãoO tenente do Corpo de Bombeiros Rafael Siade diz que o local contava com o alvará de funcionamento, o que atesta que as estruturas estariam em conformidade com a legislação. Há o apontamento do órgão, porém, de que o prédio tinha deficiências de estratégias de combate a incêndios, como a falta de um hidrante. Os responsáveis pelo prédio não comentaram o apontamento.Além da análise dos Bombeiros, técnicos da Polícia Técnico-Científica, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) e da Defesa Civil irão produzir relatórios sobre aspectos estruturais. Já o relatório sobre as intervenções necessárias será feito por uma empresa privada contratada pelos proprietários do prédio. Será também a empresa privada que deverá estabelecer um cronograma de intervenções.O tenente Siade diz que os riscos ainda não estão dimensionados e que a interdição é preventiva. Na análise do tenente, o teto é a única estrutura que tem abalo claro. As imagens aéreas do local mostram que o telhado de metal ficou deformado. “O laudo é para atestar se a estrutura precisa ser substituída na integralidade e se as paredes que têm a sustentação desse telhado estão íntegras, se precisam de reparos. É isso que vai responder a pergunta sobre a liberação”, aponta.O perito Celso Faria, da Polícia Técnico-Científica, esteve no local e diz ainda não ter pistas sobre o que aconteceu. “A perícia de incêndio é a mais difícil. Os vestígios existem, mas são mais difíceis de serem encontrados”, relata Faria. Segundo o especialista, a expectativa é de que a perícia precisará ser feita em várias etapas, sem estimativa de quando o laudo final sobre a causa será finalizado.CreaPor parte do Crea deverá ser produzida uma avaliação sobre itens estruturais como manutenção das instalações elétricas, combate ao incêndio, extintores, instalações fixas e móveis de combate a incêndio. Já nesta quarta-feira (6) o Conselho deve se pronunciar oficialmente sobre o que já foi avaliado.EmpresaA empresa CineX ainda não se pronunciou sobre avaliação do valor dos prejuízos e informações sobre a cobertura por seguradora. De acordo com os técnicos que estiveram no shopping, a área dos projetores teria sido uma das mais afetadas. O local abriga equipamentos de alta tecnologia, que têm custos milionários.O proprietário da CineX, Adriano Oliveira, se limitou a lamentar o ocorrido. “Nossa equipe estava muito animada com a 14ª Mostra (mostra O Amor, A Morte e As Paixões) e com tudo que estava acontecendo. O que nos deixa felizes é que ninguém se machucou e não tivemos vítimas. Um dia duro para o cinema e para a cultura de Goiânia. Esperamos dias melhores”, destaca Oliveira.Leia também:- Incêndio em shopping de Goiânia se concentrou em quatro salas de cinema- Mostra de cinema é adiada por tempo indeterminado após incêndio em shopping, no Centro de GoiâniaPrédio passou por reformas O prédio passa por ampla reformulação ao longo dos últimos três anos. O piso inferior, que antes era ocupado por várias lojas, foi transformado em apenas um atacadista de artigos domésticos importados.Já a área do cinema foi assumida por uma nova gestão em meados de fevereiro e, segundo a Neo Investimentos, que comprou a rede de cinemas Lumière e é responsável pelas marcas Czar360, Arquivo Total e CineX, o espaço receberia cerca de R$ 5 milhões em investimentos para se chamar Galeria CineX. Após ampla reforma, o cinema já estava funcionando, com sessões diárias. Em função do ocorrido, a 14ª edição da mostra O Amor, A Morte e As Paixões, que ocorreria entre os dias 8 e 21 de abril no local, teve de ser adiada. A última edição da mostra ocorreu em 2020 e o retorno deste ano trazia grande expectativa com a apresentação de mais de cem filmes.Lisandro Nogueira, criador da mostra, publicou um vídeo em uma rede social lamentando o incêndio e prestando solidariedade à equipe do CineX. Segundo Nogueira, as perdas serão enfrentadas e o evento será realizado em breve.“Nós somos pessoas fortes. A gente encaixa as perdas, vê a desolação neste momento, mas eu sempre fui uma pessoa preparada para enfrentar as perdas. Amanhã já estou pronto para a gente retomar. A mostra está adiada, mas em breve vocês terão outra”, destacou o organizador.