O aumento da demanda por testes de Covid-19 está refletindo na escassez dos exames em municípios do interior de Goiás. Com poucas unidades recebidas pela distribuição do Estado, prefeituras relatam ter endurecido critérios para aplicações. A aquisição direta por meio de distribuidoras está saindo até 15 vezes mais cara, o que inviabiliza compras pelas gestões de cidades com orçamentos menores.De acordo com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), a maioria dos municípios do interior relatou, nesta semana, alguma dificuldade quanto a disponibilidade de testes. A presidente da entidade, Veronica Savatin, que é secretária municipal de saúde de Chapadão do Céu, diz que alguns municípios chegaram a ficar com os estoques “zerados”.A Secretaria de Estado da Saúde (SES) admite que a demanda está acima do número de exames disponíveis. A pasta diz que tem recebido “inúmeras solicitações” por parte dos municípios, “principalmente do interior do Estado”. Pelas limitações, porém, afirma que tem atendido as demandas “dentro das possibilidades existentes”.Em uma das medidas, a SES diz que solicitou ao Ministério da Saúde para que as pautas sobre distribuição de testes fossem adiantadas, mas o órgão teria dito que está sem estoque. Em nota técnica divulgada nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orientou os países a adotarem critérios mais rigorosos na utilização dos testes. A nota foi repassada pelo Ministério da Saúde para os Estados.A superintendente de Vigilância em Saúde da SES, Flúvia Amorim, diz que apesar de esforços por diferentes frentes, os produtores não estão dando conta da demanda. Como exemplo, a gestora conta que parte de um lote de testes adquirido pelo Estado não foi entregue pela distribuidora em dezembro, como havia sido acordado. A diferença, que é de quase 400 mil exames, deve ser entregue na primeira quinzena do próximo mês.“É o mesmo que vimos acontecer no início da pandemia. O mundo todo está atrás do mesmo produto ao mesmo tempo. Neste sentido, os países mais ricos saíram na frente e compraram os testes”, diz Flúvia.Na avaliação de Flúvia, a escassez deve perdurar pelas próximas duas semanas. “A gente avalia pela curva epidemiológica de outros países. Se nós formos na mesma dinâmica, teremos os números reduzidos em duas semanas”, afirma a superintendente. A consideração, destaca a gestora, se dá “com os elementos que temos disponíveis atualmente”, podendo o quadro ser modificado caso surjam outras variáveis.DistribuiçãoA SES diz que a distribuição dos testes entre as cidades respeita critérios populacionais, com divisão per capita. “A forma de distribuição dos testes em Goiás foi discutida e pactuada com o Conselho de Secretários Municipais de Saúde de Goiás (Cosems-GO), que representa os 246 municípios goianos”, diz a pasta.Para as menores cidades, porém, a fatia da divisão chega a ser inexpressiva diante da demanda. Em Rio Quente, cidade que tem cerca de 5 mil habitantes, a previsão é da chegada de 170 testes nesta semana vindos da SES. Os exames fazem parte dos 600 mil entregues pelo Ministério da Saúde para o Estado na quarta-feira (26) e que estão em fase de distribuição.O secretário municipal de saúde de Rio Quente, André Luiz Mattos, diz que o número de testes será suficiente apenas para dois dias. “Estamos fazendo uma média de 80 a 100 testes por dia”, informa o secretário. Sem poder contar com os exames entregues pelo Estado, o município enfrenta dificuldade também nas tentativas de compras com as distribuidoras.Na tabela de preços orçados pela gestão de Mattos, os exames custavam entre 7 reais e 9 reais. “Foram esses valores até começar esta onda. De repente, com a demanda muito grande, as distribuidoras estão cobrando entre 50 reais e 80 reais, sendo que eu já escutei secretário relatando cobrança de até cem reais por cada teste”, aponta Mattos.Sobre os prejuízos no controle da pandemia, já que os testes são considerados um dos pilares, Flúvia admite que dentro do período de escassez o quadro fica “comprometido”. “Mas o controle da pandemia não é só por teste. Hoje temos a vacina, muitos ainda não foram vacinados. Temos os protocolos sanitários individuais. A testagem é parte do conjunto de ações. Na falta de um item precisamos reforçar os demais”, diz a superintendente.Muita espera pelos exames na Região MetropolitanaEm Goiânia e Aparecida de Goiânia a quinta-feira (27) foi de postos cheios e filas para realização de exames. Para quem precisou do teste na semana passada, porém, a sensação é de relativa redução da espera nos postos da capital. Foi o caso de Emerson da Conceição, de 27 anos. Morador de Brasília, que veio passar alguns dias em Goiânia e testou positivo para a Covid-19 na semana passada. O teste desta quinta era para saber se ainda estava com o vírus em circulação. “Foi tranquilo em relação a semana passada. Hoje também tinha uma quantidade considerável de pessoas, mas considero que foi bem rápido”, diz Conceição sobre a espera que ficou próxima de 1 hora. Atualmente são realizados uma média de 5.600 testes por dia pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Os exames são feitos mediante agendamento pelo site da Prefeitura ou por demanda espontânea no drive-thru. Também na capital, a SES está oferecendo 500 testes por dia em cada hospital estadual até o dia 31.Entre todas as cidades, na rede estadual são realizados cerca de 7,5 mil testes por dia nas 22 unidades que estão ofertando o serviço. Nas unidades estaduais o atendimento se dá sem agendamento, por ordem de chegada, conforme disponibilidade de testes. Em uma semana, entre os dias 17 e 25 deste mês, as unidades do Estado realizaram 61.003 testes, sendo que 18.564 apresentaram resultados positivos, uma taxa de 30,41%. Na capital a taxa de positivos gira em torno de 20%. Na soma entre todos os municípios, já são quase 200 mil testes em 30 dias.-Imagem (Image_1.2393895)