As investigações sobre a morte do comerciante Wilker Darckian Camargo, de 35 anos, durante abordagem policial em Trindade no dia 10 de janeiro, apontaram uma sequência de crimes e excessos cometidos pelos policiais envolvidos não apenas no momento do homicídio, como três dias antes, quando Wilker teve móveis da casa destruídos e foi ameaçado para conseguir uma arma clandestina para um grupo de PMs. Nesta segunda-feira (21), cinco policiais militares tiveram a prisão decretada pela Justiça.Relatório final elaborado pelo Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), da Polícia Civil de Trindade, concluiu que Wilker já estava sendo monitorado pelo tenente Alexsander de Carvalho Gonçalves há alguns dias. O policial participou da abordagem no dia 7 de dezembro, quando Wilker foi rendido na rua e levado até sua casa. Foram coletados depoimentos e provas de que a equipe policial agrediu a vítima e quebrou alguns móveis. Wilker disse a uma ex-namorada que eles lhe deram um ultimato naquele dia para conseguir um revólver calibre 38.No dia do crime, Alexsander se dirigiu junto com o cabo Denis Rubens de Queiroz até a região onde Wilker estava e ficou esperando em uma viatura descaracterizada da PM e com placas frias. Como o comerciante usava tornozeleira eletrônica e o tenente tinha acesso aos registros, conseguiu localiza-lo facilmente. Os dois policiais são da Companhia de Policiamento Independente (CPE) da 9ª Companhia Independente da PM (9ª CIPM) em Trindade e faziam o serviço de inteligência.O tenente chamou para dar apoio à abordagem mais quatro policiais, o sargento Wellington Alves de Oliveira, o cabo Elias Cunha Carvalho e os soldados José Venício Mendes da Silva e José Wilson Louça Rodrigues de Menezes, que ficaram em uma viatura caracterizada, mas afastados. Quando Wilker saiu de um açougue e entrou no carro, Alexsander foi atrás. Segundo as investigações, o comerciante percebeu a aproximação e tentou se afastar, acelerando o veículo. Teve início uma perseguição que culminou com os dois pneus traseiros do carro de Wilker furados a tiros.Wilker conseguiu sair do carro e entrar em uma residência, sendo seguido pelos dois policiais à paisana. Em seguida, chegaram os outros quatro e a dupla saiu correndo da casa, entrando no veículo descaracterizado e aparentemente indo embora. Um vídeo gravado em um celular, e que foi compartilhado nas redes, mostra o momento que os dois saem da casa e, quando Wilker também tenta sair, é rendido por três PMs fardados e colocado de volta para casa.O delegado Cláudio Douglas Pinto tomou o depoimento de 12 pessoas, entre vizinhos, pessoas que viram ou ouviram a abordagem, além do pai e da ex-namorada de Wilker. Também pediu perícias no local do crime, nas armas e até para verificar se era possível, com o barulho que estava no local, sirene ligada, ouvir o que foi narrado nas oitivas. Testemunhas ouviram quando Wilker disse que não estava armado e que não precisavam matá-lo: “Não faz isso não, não precisa.” Elas também foram firmes ao dizer que o comerciante não estava armado. Já a perícia no local não encontrou nenhum indício de que houve troca de tiros no local e que Wilker tenha efetuado qualquer disparo. O exame cadavérico identificou que ele foi baleado três vezes: uma na perna, quando estava de costas, outra na barriga a uma curta distância e outra vez no peito.Ainda segundo a Polícia, foram plantados no local um revólver como sendo o de Wilker e drogas para justificar a abordagem. Um rapaz de 21 anos que trabalha no açougue chegou a ser preso pelos PMs horas depois da morte de Wilker e pressionado a confessar que repassou o produto apreendido para o comerciante, o que ele nega.A conclusão da Polícia Civil, que foi acatada em forma de denúncia pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), foi pelo indiciamento de Alexsander por ser o mentor de toda a operação que resultou na morte de Wilker, e na dos quatro policiais fardados por terem participado da ação específica que resultou no óbito. Os cinco vão responder por homicídio qualificado pelo fato de a vítima já ter sido rendida quando morta e por fraude processual.O tenente e mais três outros PMs também foram indiciados por abuso de autoridade, pelo que ocorreu no dia 7. Já Alexsander e Denis foram autuados também pela placa fria.