A Justiça acatou denúncia contra 41 pessoas por associação criminosa e lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar ilegais, entre elas o suposto líder do grupo, Arnaldo Rubio Júnior, cuja empresa envolvida é a mesma que foi investigada durante a CPMI do Cachoeira, no Congresso Nacional, em 2012, consequência política da Operação Monte Carlo, deflagrada no mesmo ano pelo Ministério Público Federal (MPF), em Goiás.Investigações realizadas pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) mostram que a organização criminosa que seria liderada por Arnaldo tinha como estrutura central a empresa Jacunda Empreendimentos Imobiliários, que antes de 2014 se chamava Star Games. Durante a CPMI de 2012, deputados tentaram quebrar o sigilo telefônico e bancário da Star Games alegando que a empresa era usada pelo empresário para auxiliar a suposta organização criminosa liderada por Cachoeira.Desta vez, Arnaldo é apontado como o chefe do esquema ilícito descoberto pela Draco e denunciado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO). De acordo com os promotores, a Jacunda Empreendimentos tinha como única função receber os valores provenientes das casas de jogo de azar ou de outros ilícitos seja do próprio Arnaldo ou de seus subordinados.O grupo era dividido em três núcleos: o operacional, que cuidava do funcionamento das casas de jogos, o logístico, que respondia pela manutenção e produção das máquinas de jogos, e o da lavagem de dinheiro. Muitas das pessoas denunciadas já foram flagradas em batidas policiais nos últimos anos em cassinos clandestinos.No grupo operacional foram denunciados desde os gerentes das casas, até os atendentes e motoristas que levavam os clientes até estes locais. Segundo a denúncia, Arnaldo ficava no grupo da lavagem, assim como seus sócios e outras pessoas, responsáveis por ocultar e dissimular a origem dos recursos arrecadados.As investigações começaram em junho de 2019 com o intuito de apurar a existência de cassinos ilegais em Goiânia. A Polícia Civil aponta que houve uma migração das casas de jogos do Entorno do DF, desde a Operação Monte Carlo, para a capital, segundo o promotor José Eduardo Veiga Braga Filho, em nota enviada pelo MP-GO.No dia 19 de novembro deste ano, a Draco realizou a Operação Garito, com o cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão contra os investigados e em seus respectivos endereços residenciais e comerciais.Uma das formas encontradas pela quadrilha para lavar dinheiro, segundo o MP-GO, era através da realização do Real Cap, um sorteio supostamente para angarir fundos para uma instituição de caridade. “Apesar de existir uma instituição de caridade vinculada ao Real Cap, pelo menos em tese, verificou-se, através da quebra do sigilo bancário, que a referida instituição está sendo utilizada para a lavagem de capitais do grupo criminoso”, afirma o promotor, segundo a nota do MP-GO.A investigação policial também apontou três fases da lavagem de dinheiro. A primeira quando os atendentes das casas de jogos recebiam os recursos dos clientes em seus próprios nomes ou de terceiros, em vez dos proprietários. Depois, os gerentes das sacavam estes recursos das contas dos atendentes e depositavam em espécie e de forma fracionada na conta de empresas, que posteriormente repassavam para outras empresas.PrisõesEm sua decisão na qual acatou a denúncia, a juíza Placidina Pires, titular da Vara dos Feitos Relativos a Organização Criminosa e Lavagem de Capitais, determinou também a manutenção da prisão de 11 dos citados. Dois deles seguem foragidos, sendo que um deles, Ivanilton da Silva Carvalho, chegou a ser flagrado em pelo menos duas batidas policiais em cassinos, uma em Caldas Novas (2014) e outra em Goiânia (2016). Quando a Operação Garito foi deflagrada, a juíza autorizou a prisão de 15.Ao justificar as prisões, Placidina escreveu que “a segregação provisória se faz necessária para desestabilizar a agremiação delituosa e cessar a continuidade das infrações penais em cotejo”. Isso porque apesar de constantes apreensões de máquinas de jogos e fechamentos de casas, o grupo conseguia manter o funcionamento das atividades.“Inclusive, por ocasião da decisão que decretou a prisão preventiva, salientei que o simples fechamento das casas de jogos e a apreensão das máquinas ilegais realmente não se mostram suficientes para desarticular organização criminosa de tamanha envergadura, exigindo a presente situação a adoção de medidas mais enérgicas e eficazes – como é o caso da prisão preventiva – para cessar a permanência das atividades ilícitas retratadas pela autoridade policial e, consequentemente, resguardar o meio social”, escreveu em sua sentença.Líder do grupoArnaldo já foi denunciado e condenado assim como na Monte Carlo, junto com Cachoeira e outros, também foi denunciado na Operação Jackpot, deflagrada em 2015, e chegou a ser condenado em 2017 junto com o contraventor Carlinhos Cachoeira e mais 14 pessoas por contrabando de máquinas caça-níqueis.Investigações policiais anteriores apontaram que Arnaldo e Cachoeira já foram adversários, depois parceiros e após a Operação Monte Carlo o primeiro voltou a responder de forma independente por parte da exploração da jogatina. No começo da década ele chegou a ser apontado como o representante operacional de Cachoeira em Goiânia e o principal fornecedor de máquinas caça-níqueis para cassinos clandestinos instalados no DF.A Star Game, hoje Jacunda, foi criada em 1989 por um português e um argentino, que repassaram a empresa para Arnaldo em 2007. Em 2014, ela mudou de novo e atividade econômica, mas, segundo as investigações policiais, nunca foi usada para aquilo que se propôs nos documentos da Junta Comercial de São Paulo (Jucesp), onde está registrada.-Imagem (1.1288669)