Os quatro mandatos de Iris Rezende Machado (MDB) como prefeito de Goiânia e os dois como governador de Goiás estão marcados em obras e no desenvolvimento da capital. O político e advogado, que faleceu no último dia 9 em consequência dede um acidente vascular cerebral (AVC), participou de momentos fundamentais na expansão urbana da cidade, e suas políticas, especialmente ao conceder moradias, imprimiram um “jeito goianiense” de crescimento. Além disso, Iris era o prefeito em dois momentos de aprovação do Plano Diretor, além do início d atual revisão, que ainda está em discussão na Prefeitura e não chegou à Câmara.O primeiro Plano Diretor desenvolvido já com a cidade construída foi na primeira gestão de Iris, entre 1966 e 1969, quando utilizou convênio federal para a contratação do urbanista Jorge Wilheim. Na época, segundo explica o arquiteto, doutor em História e professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Wilton de Araújo Medeiros, Wilheim soube traduzir o olhar do então prefeito para o documento. A gestão municipal tinha acabado de conceber a Vila Redenção, projeto iniciado ainda pelo ex-prefeito Hélio de Brito, um bairro às margens da BR-153 e longe do Centro.Medeiros conta que a ideia de Iris foi distribuir vários conjuntos habitacionais pela cidade, o que compôs o Plano de Wilheim, em que a indução do crescimento urbano viria rumo aos novos bairros, mais propriamente na região Sudoeste. É dali que surgem, por exemplo, as vilas União e Alvorada. Em todos estes casos, os novos bairros ocorrem de um método característico de Iris: os mutirões. “O Iris concentrou a sua força nas festividades, como o mutirão, que era uma prática comum do interior. As pessoas se juntavam para ajudar a construir um muro, uma casa e já ficavam para o almoço. Mais do que a obra, tinha a festa, a aglomeração, a riqueza da coletividade.”PlanosO professor publicou o artigo “Goiânia, 1968: transformações da cidade no ‘tempo mutirão’” em que mostra que a primeira gestão de Iris foi também uma afirmação para a capital, até então muito atrelada às políticas dos governos estaduais. Para se ter uma ideia, houve tentativa do ex-governador Mauro Borges, na década de 1960, de contratar um Plano Diretor para a capital, o que não foi adiante por intervenção do governo militar. Medeiros relata que o ex-prefeito Hélio de Brito também tentou desvincular Goiânia do poder estadual. “A diferença é que Iris colocou em prática, não confrontou o Estado, foi pelo populismo, sem embate.”Ele afirma que isso começa com o próprio jeito de Iris fazer política, atuando com a simbologia, as palavras e o crescimento da cidade, que passava a receber muita gente, especialmente do interior. Um exemplo é a instalação do Monumento à Goiânia na Praça Cívica, hoje conhecido como Monumento às Três Raças, ainda no segundo ano de seu mandato, o que mostrou apoio à classe trabalhadora erguendo a capital.O estudo de Medeiros aponta ainda que o ex-prefeito também ganha força com essa simbologia, sobretudo com as datas. O monumento, por exemplo, é em comemoração ao batismo cultural da cidade e outras inaugurações ocorrem no aniversário da capital e no Natal. “Ele capitaliza a cidade pelo Plano Diretor, direciona o crescimento, mas é insuficiente para resolver os problemas, o planejamento urbano é mais complexo”, explica. Locais se tornam pontos históricosAinda em seu primeiro mandato de prefeito de Goiânia, Iris Rezende também construiu pontos que se tornam históricos para a cidade, como o Parque Mutirama, inaugurado uma semana depois de sua cassação pelo governo militar, e as praças Universitária, Tamandaré e do Avião. Também fez projetos que depois se tornariam uma marca na gestão de 2005 a 2009, em que prometeu asfaltar todas as ruas habitadas da cidade, mas foi lá na década de 1960 que o prefeito fez o mesmo com bairros como Setor Oeste, Sul, Vila Nova, Universitário e outros. A ideia foi começar pelos setores nobres, justamente por ter moradores com condições de arcar com os custos, visto que o município não mantinha recursos próprios para investimentos. “A política municipalista no Brasil começa com a Constituição de 1946, mas só depois passa a ser implantada. Iris conseguiu isso, conseguiu a verba e fez com que a cidade dependesse menos do Estado. O Hélio de Brito tentou também, mas com embate com o Estado. O Iris fez isso sem embate, com o populismo”, observa o professor da UEG, Wilton Medeiros. Na época, o então prefeito realizou outras obras, como a duplicação da Avenida Anhanguera no trecho do Setor Campinas até o Dergo, o que mostra uma tendência em Iris de valorizar o transporte rodoviário, embora na época a população usasse mais as bicicletas. Ex-prefeito tinha paixão por obrasÚltimo secretário de Infraestrutura de Iris Rezende (MDB), o engenheiro Dolzonan da cunha Mattos conta que a fama de “tocador de obras” recebida pelo ex-prefeito de Goiânia e ex-governador de Goiás não foi por acaso. “Ele tinha paixão por obras. O foco dele era dar comodidade para as pessoas, falava muito das habitações, desde a época da Vila Rendenção e Vila Mutirão”, conta Mattos, que atuou na construção dos bairros enquanto trabalhava para a construtora Encol. “O Iris tinha certo conhecimento técnico, sempre gabava das estradas asfaltadas de quando era governador, das casas, e tinha essa sensibilidade de saber o que era prioridade”, afirma o ex-secretário na gestão 2017-2020 no Paço Municipal. Mattos revela que neste último mandato a prioridade de Iris era asfaltar os bairros que ainda não tinham o benefício e que sonhava em finalizar toda a Avenida Leste-Oeste. O engenheiro afirma que ambas não foram finalizadas por questões burocráticas, desde a desistência de empresas por dificuldades financeiras até a necessidade de desapropriação de famílias. Por outro lado, Iris reclamava das obras do BRT Norte-Sul. “Ele dizia que era uma obra muito cara e que com aquele dinheiro poderia ter investido em outras obras mais estruturantes. Não via muita vantagem. Já o viaduto sobre a BR-153, conhecido como viaduto da Enel, ele quis muito fazer. Iris era muito preocupado em dar fluidez ao tráfego de veículos na cidade.”Mattos descreve o ex-governador como um gestor sério, que cobrava muito e exigia resultado rápido. Para ele, as gestões de Iris ficarão marcadas na capital pela Vila Redenção, de seu primeiro mandato na década de 1960, as trincheiras da Avenida 85, feitas no mandato de 2005 a 2009, e o Terminal Rodoviário e a Vila Mutirão, estes realizados enquanto governador de Goiás, na década de 1980. O arquiteto e urbanista Luiz Fernando Teixeira Cruvinel também atuou com Iris. Ele foi o principal responsável pelo projeto do Plano Diretor de Goiânia feito em 2007. “Iris em 1969 contratou Jorge Wilheim para o Plano de Desenvolvimento Integrado de Goiânia (PDIG). Ele dizia que a cidade tinha de crescer na região Sudoeste, para a criação de conjuntos habitacionais. Houve financiamento e ele aproveitou. Em 2007, tinha sido aprovado o Estatuto das Cidades e teve de fazer o Plano.”Cruvinel lembra que o então prefeito não influenciou na confecção do Plano. “Ele nunca foi contrário, não é negacionista. Entendeu a necessidade e deu recursos para isso.” No documento, o urbanista reforça que Iris chancelou o desenvolvimento da cidade com a relação do uso do solo com os eixos de transporte. Ele considera que as gestões de Iris ficam marcadas pelas trincheiras da Avenida 85, os conjuntos habitacionais e por ter assinado o contrato de empréstimo para a construção do Parque Urbano Ambiental Macambira-Anicuns.-Imagem (Image_1.2353819)-Imagem (1.2353935)