As medidas de isolamento adotadas por Goiás por meio do novo decreto estadual que passa a valer a partir desta quarta-feira (17) podem ser eficientes para conter a pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2) que está em ascendência no Estado. As determinações estaduais, que restringem atividades comerciais por 14 dias e depois as liberam por mais 14, já foram adotadas ano passado e tiveram resultados positivos. Entretanto, especialistas apontam que a adesão da população é essencial para bons resultados.O infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro diz que a medida pode ser eficiente porque 14 dias é o tempo médio que o vírus leva para completar o ciclo de vida. Dessa forma, a contaminação é barrada.Porém, o infectologista explica que é necessário que o Estado faça o acompanhamento diário do número de casos, mortes e taxa de internação em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)durante esse período. “Se a coisa não tiver melhorado, o certo é estender. Entretanto, só podemos avaliar isso lá na frente”, afirma.Ribeiro aponta ainda que medidas como a permissão da venda somente de produtos para alimentação, higiene e limpeza nos supermercados e a restrição da quantidade de passageiros dentro do transporte público ajudam ainda mais o decreto a ser eficaz. “Isso colabora para que as pessoas fiquem em casa”, diz.Todavia, o infectologista esclarece que, sem a adesão da população, o decreto não surtirá nenhum efeito na redução da contaminação da população e consequentemente da sobrecarga do sistema de saúde. “As pessoas precisam entender que o momento é crítico”, alerta.Histórico O professor e membro do grupo de modelagem da expansão espaço temporal da Covid-19 em Goiás da Universidade Federal de Goiás ( UFG) Alexandre Diniz também destaca que a adesão da população às medidas de isolamento é determinante para o sucesso do decreto.Ele explica que, em abril do ano passado, quando o governo estadual publicou o primeiro decreto nesse formato e a maioria da população aderiu às medidas restritivas, a transmissão da doença, por mais que existem poucos casos confirmados no Estado, caiu drasticamente. “Tínhamos um R (número médio de indivíduos contagiados por cada infectado) perto de 2,5. Ele chegou a fica torno de 1”, diz.Na época, o Estado registrava menos de 50 mortes pela doença. Um estudo feito pelo grupo de modelagem do qual Diniz faz parte mostrou que o isolamento feito no início do ano passado pode ter salvado a vida de até 3,4 mil pessoas.No início de junho, quando Goiás tinha menos de 2 mil mortos pela doença, o governo estadual decretou novamente o fechamento das atividades comerciais não essenciais por 14 dias e depois a reabertura por mais 14 dias, mas a população e as prefeituras não aderiram tão maciçamente às determinações estaduais. “Mesmo assim, os resultados foram positivos”, aponta Diniz.O professor explica que dentro dos cálculos de modelagem feitos pelo grupo da UFG, caso não houvesse uma interrupção na disseminação do vírus, Goiás poderia atingir rapidamente a marca de 10 mil mortos por Covid-19. “As medidas do decreto somadas as ações das prefeituras conseguiram barrar esse crescimento”, afirma.ResultadosDiniz explica ainda que os resultados das medidas restritivas, caso sejam aderidas pelas prefeituras e cumpridas pela população, só serão vistos em cerca de um mês. “Precisamos entender que existe esse ‘atraso’. Não vai ser de um dia para o outro que os números vão cair e isso não significa que as medidas do decreto não funcionaram”, afirma.O professor explica que uma pessoa que se infectou ontem, por exemplo, caso precise de internação, vai levar até dez dias até procurar ajuda. Depois, deverá permanecer até cerca de 20 dias internada. “Ou seja, daqui a cerca de 20 dias estaremos vendo o resultado de hoje. Por isso, só conseguiremos comprovar a efetividade do decreto daqui a um mês.”O especialista aponta ainda que, ao fim dos 14 dias de restrições, é importante que a população siga usando máscara e mantendo o distanciamento social. “Não dá para voltar a fazer tudo normalmente. É preciso aproveitar a oportunidade para frear ainda mais a disseminação”, finaliza.