Goiás já possui transmissão comunitária de novas variantes do coronavírus (Sars-CoV-2) que são mais infecciosas. A confirmação veio através de diversos sequenciamentos genéticos virais realizados, principalmente, por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) que detectou a presença da variante de Manaus em 17 cidades diferentes e do Reino Unido em 3 municípios.Ambas as variantes fazem parte do grupo de cepas da Covid-19 que levantam alerta epidemiológico por serem mais transmissíveis. Somente em Goiânia, através do trabalho da UFG, das 30 amostras sequenciadas até agora, 28 eram da variante P.1, de Manaus. Uma outra era da variante P.2, do Rio de Janeiro, e a outra da variante do Reino Unido.“O único jeito da gente barrar isso é fazer o isolamento junto com as outras medidas”, afirma a bióloga e pesquisadora Mariana Telles, que coordena o laboratório da UFG que faz o sequenciamento do coronavírus. Mariana diz que é importante manter o distanciamento e, se possível, o isolamento social, pois quanto menos pessoas forem infectadas, menos chances o vírus tem de sofrer mutações que possam conferir a ele uma vantagem adaptativa e torná-lo ainda mais infeccioso.A bióloga esclarece que é comum os vírus sofrerem mutações. “Elas acontecem ao acaso e por conta de erro de replicação do genoma. Todo organismo vivo, quando vai gerar um descendente ele tem um processo de cópia do genoma. Toda vez que ele vai copiar, alguns nucleotídeos são copiados errados e a mutação ocorre”, diz.A especialista esclarece que, por si só, os vírus não possuem um sistema de reparo próprio para consertar os erros de cópia do genoma. Por isso, dependem de hospedeiros – no caso do coronavírus, o ser humano – para sofrerem essas mutações.Ela explica que existem mutações que se adaptam melhor e se espalham e outras que não obtém tanto sucesso. O perigo de cepas como a de Manaus e do Reino Unido, está justamente no fato de que elas possuem adaptações que fazem com que eles “entrem” de maneira mais fácil nas células humanas. “É como se fosse uma chave e uma fechadura. O encaixe melhorou.”Internação x varianteO titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Durval Pedroso, afirmou na última semana que o fato de 98% das amostras sequenciadas serem da cepa P.1, explica parte do cenário da Covid-19 na capital que tem registrado uma taxa de internação maior entre pessoas mais jovens e mais casos agravados da doença.Foram processadas ainda mais 30 amostras de outros municípios goianos. Nelas foram encontradas ainda mais 23 amostras da variante P.1, três da variante P.2, duas da variante do Reino do Unido e mais duas sem grande importância epidemiológica. Ao todo, foram feitos 60 sequenciamentos até agora pela UFG. Na próxima segunda-feira (29), o grupo deve entregar o resultado da análise de mais 60 amostras.Até o momento, um dos casos evoluiu para óbito, no Distrito Federal, de uma pessoa residente em Águas Lindas de Goiás, que estava infectada com a variante de Manaus. O governo estadual fez mais de 60 sequenciamentos.MetodologiaTodo o trabalho para o sequenciamento genético em dois laboratórios do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, em Goiânia. Primeiro, amostras nasofaríngeas coletadas em laboratórios para testes RT-PCR são encaminhadas para um laboratório onde o exame é repetido. Após confirmado novamente a doença. Essas amostras são fornecidas pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e pela SES-GO.Depois disso, as amostras são levadas para outro laboratório, comandado por Mariana, onde o RNA, que contém a informação genética do vírus, é transformado em DNA para que os cientistas possam trabalhar. “Fazemos isso porque o RNA é muito instável e pode se degradar”, explica Mariana.Esse DNA é dividido em vários pedaços que são sequenciados de forma independente e depois unidos como um quebra-cabeça. Esse genoma sequenciado é comparado, através de um banco internacional de bioinformática, com as linhagens do coronavírus já sequenciadas e, por fim, a variante é detectada.Sequenciamento ajuda na vigilânciaApós a entrega do sequenciamento de mais 60 amostras no dia 29 de março, o procedimento de sequenciamento genético de amostras do coronavírus que está sendo feito na Universidade Federal de Goiás (UFG) será interrompido. Isso, por que a análise dessas 120 amostras ocorreu através do fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e com o apoio financeiro, de recursos humanos e logístico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (NCT EECBio).Para sequenciar as 120 amostras, foi gasto cerca de R$ 250 mil reais. “É um procedimento de alto custo”, diz Mariana Telles, bióloga e pesquisadora responsável pelo trabalho. A especialista acredita que a continuidade do sequenciamento genômico seria positiva para fins de vigilância epidemiológica no Estado e na capital. “As autoridades poderiam ir até essas pessoas e fazer o rastreamento e monitoramento de contatos a fim de acabar com a circulação dessas variantes”, esclarece.Mariana esclarece que apesar do sequenciamento ser caro, ele pode ter o custo-benefício ampliado caso seja feito em larga escala. “Um dos reagentes que usamos serve para sequenciarmos até 2 mil amostras. É possível aproveitar esses insumos para analisarmos mais”, explica. Questiona se irá proporcionar outro tipo de verba para a continuidade do procedimento de sequenciamento genômico, a SES-GO informou que “providências nesse sentido já estão sendo tomadas”.-Imagem (1.2216495)