O uso do reservatório formado com água do João Leite para atividades recreativas pode trazer impactos negativos para a Bacia do Meia Ponte. O alerta é feito por especialistas em recursos hídricos e pelo presidente do comitê da bacia. Outro problema crítico apontado por eles é o possível aumento no custo do tratamento da água decorrente da liberação para lazer.O Ribeirão João Leite integra a Bacia Hidrográfica do Meia Ponte, que também fornece água para outras atividades, como indústria e agricultura, na região metropolitana de Goiânia e outros municípios do estado.Presidente do Comitê da Bacia do Rio Meia Ponte, Fábio Camargo afirma que o uso recreativo do reservatório pode ter consequências negativas para a bacia. Ele também questiona a falta de estudos prévios específicos para apontar os possíveis impactos das atividades de lazer no local. “Qual o tamanho desta proposta? Cadê o estudo falando do impacto? Vai afetar no custo do tratamento? Isso não foi apresentado.”O comitê é uma estrutura consultiva e deliberativa, no entanto, conforme Camargo, não houve consulta por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) ao colegiado. Ele diz também que o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cemam) também não foi pautado sobre o assunto. “A Semad fez o caminho inverso. Ninguém daqui (conselho e comitê) estava sabendo”, afirma.Especialista em Hidrologia e Recursos Hídricos, Marcos Antônio Correntino afirmou, em artigo publicado na edição desta quarta-feira (20) do POPULAR, que o comitê do Meia Ponte não aprovou o Plano de Recreação e Lazer Ecológico do lago formado pela barragem do Ribeirão João Leite e recomendou retirar todas as atividades no interior da lâmina d’água. Segundo o especialista, isto foi formalizado pela Deliberação 011/2007.A preocupação manifestada com o possível aumento nos custos de tratamento da água por Camargo, também aparece no texto de Correntino. “Um reservatório para abastecimento que tenha a sua água poluída ou de má qualidade, o custo com o tratamento desta água pode chegar a ser 200 vezes maior do que em um reservatório com água de boa qualidade.”No dia 25 de março, a Semad abriu uma consulta pública, ainda disponível no site da pasta, sobre os Plano de Uso Público e de Manejo dos parques estaduais do João Leite (PeJoL) e Altamiro de Moura Pacheco (Peamp). O reservatório está dentro das duas unidades de conservação, que são circundadas pela Área de Proteção Ambiental do João Leite (APAJoL).O Plano de Uso Público permitiria caiaque, natação, stand up paddle, entre outras práticas. “Nossa proposta é suspender esta consulta pública e começar esta discussão no comitê e depois no conselho”, defende Fábio Camargo.Na última segunda-feira (18) foi realizada uma audiência pública que tratou do tema. A maioria das entidades presentes foi contra a proposta. Na ocasião, os técnicos da pasta garantiram que todos os pontos de vista serão levados em consideração.Goiânia e Aparecida de Goiânia são abastecidas por mananciais da Bacia Hidrográfica do Meia Ponte. O Rio Meia Ponte tem captação direta e tratamento. O ribeirão João Leite fornece recurso hídrico para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Jaime Câmara e também para o reservatório. A água deste último passa pela ETA Governador Mauro Borges.Na terça-feira (19), a Saneago comunicou que está acompanhando as discussões acerca do uso recreativo do João Leite. Plano de uso trata apenas de atividadesA assessoria de imprensa da Semad informou que o estudo feito pela pasta é o próprio plano de uso. Entretanto, o documento não cita nenhum levantamento quanto aos possíveis impactos das atividades recreativas no local. O texto apenas apresenta diretrizes para visitação, atrativos e atividades de uso público do Peamp e do PEJoL. Dentre elas está viabilizar o uso público sustentável das águas do reservatório que estão no entorno dos parques. Para isso, as ações primordiais seriam elaborar projeto de implantação de atividades de baixo impacto, estabelecer normas e diretrizes específicas para o uso recreativo das águas do reservatório e articular parcerias para a gestão, fiscalização e cuidados do reservatório. O documento fala ainda de uma matriz de monitoramento de impactos da visitação, que seria uma ferramenta que deverá conter os dados de monitoramento dos impactos da visitação, obtidos por meio da aferição dos indicadores. Entretanto, destaca a necessidade de regulamentação e afirma que a “gestão dos parques, em consonância com a Saneago, deve estabelecer mecanismos para viabilizar o uso ambientalmente equilibrado do Reservatório do Ribeirão João Leite e de seu entorno.”O texto do Plano de Uso Público sustenta que apesar de o reservatório estar territorialmente entre o Peamp e o PEJoL, o ribeirão “tornou-se uma barreira física intangível onde os usuários e frequentadores dos parques não podem desfrutar do uso das águas” e “que a logística territorial para uso público dos parques está fragilizada pelo obstáculo espacial do reservatório que divide os parques e impede o livre trânsito por barcos.”O plano destaca que apesar das restrições vigentes ao uso público para atividades de baixo impacto como, por exemplo, natação remo, canoagem, mergulho e velejo, o reservatório ainda sofre com poluição e degradação ambiental, sendo que “o uso público de baixo impacto ambiental regulamentado e baseado em estudos técnicos pode contribuir para a vivência dos usuários nos parques e, consequentemente, para o aprimoramento da cultura conservacionista das comunidades do entorno, como os agricultores e pecuaristas.”