A média semanal de leitos de UTI para Covid-19 ocupados em Goiânia apresentou tendência de estabilidade entre os dias 19 e 25 de julho tanto na rede municipal como em parte da rede particular que divulga os dados por meio de boletins diários. Antes, a média de leitos ocupados entre domingo e sábado estava subindo semana após semana desde pelo menos abril, conforme monitoramento feito pelo jornal.Levantamento feito pela reportagem com base em dados que estão disponíveis diariamente nos sites da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia e em relatórios da Associação dos Hospitais de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) mostra que o total de leitos ocupados foi praticamente o mesmo em relação à semana entre os dias 12 e 18 de julho.Apesar desta estabilidade, a semana que se encerrou no dia 25 (sábado) foi também a que registrou mais pessoas internadas em um único dia tanto no Hospital e Maternidade Municipal Célia Câmara (HMMCC) como nos outros nove hospitais conveniados à rede municipal. Desde que foi inaugurado, no dia 6 de abril, o HMMCC teve dois picos de leitos ocupados, conforme o levantamento do POPULAR, nos dias 20 e 22 de julho.Já nos outros hospitais que oferecem leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), após duas semanas de relativa estabilidade, em uma média de 90 vagas ocupadas diariamente, passou a registrar um novo aumento justamente a partir do dia 25, chegando a 100 pacientes internados no dia 28.Todos os dias, desde 19 de abril, o POPULAR entra diariamente nas páginas da SMS e da SES-GO com os dados de ocupação e vagas de leitos de UTI para Covid-19 e anota, por volta de meio-dia, as informações disponíveis. Estes números, somados aos da Ahpaceg, mostram uma estabilidade. Enquanto a média semanal entre os dias 12 e 18 ficou em 257 pacientes internado, a da semana seguinte caiu para 255.Em relação ao boletim diário da Ahpaceg, a média de leitos ocupados de UTI caiu de 108 para 106, sendo que os piores dias foram registrados entre os dias 16 e 21, com o total de vagas preenchidas ficando entre 113 e 117. A taxa de ocupação dos leitos de UTI entre os hospitais filiados à entidade na capital, que chegou a ficar em 97,5% no dia 17, caiu para 75,2%, ajudado também pelo acréscimo de mais 13 vagas neste período.O superintendente de Atenção Integral à Saúde da SES-GO, Sandro Rodrigues, e o superintendente de Vigilância em Saúde da SMS, Yves Ternes, afirmam que perceberam esta estabilidade na demanda por leitos de UTI para Covid-19, mas que ainda é cedo para ter certeza sobre os motivos desta situação. Já o presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, discorda e diz que notou um aumento na procura por internações em UTI.“Não vi nenhum tipo de estabilidade nos últimos dias. Vi, sim, um aumento de busca por vagas, aumento de óbitos e aumento de movimento no pronto-socorro dos hospitais. Na verdade, tivemos uma dificuldade grande de internação na semana passada, tendo que buscar vagas em hospitais fora da rede Ahpaceg”, comentou Helou.Tanto Sandro como Yves não descartam que os números constatados tenham relação com a primeira quinzena de julho, quando os estabelecimentos ficaram fechados na capital por causa do decreto estadual que estabelecia o revezamento 14x14 para as atividades econômicas. Estudos apontam que um caso de infecção por Covid-19 demora entre 14 e 20 dias para se agravar e demandar um leito de UTI.Entretanto, para Sandro, outro motivo pode estar envolvido nesta tendência e explicaria também o aumento da demanda por leitos de enfermaria: a internação mais precoce em leitos clínicos de pacientes que apresentam ainda sem gravidade saturação baixa de oxigênio. No começo de julho, o titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, afirmou que o Estado reforçaria o cumprimento mais rígido do protocolo para casos leves.Sandro explica que a orientação passou a ser, então, para que pessoas que apresentassem saturação baixa junto aos sintomas de Covid-19 fossem internadas em leitos clínicos para que lhes fosse oferecido oxigênio e assim evitar agravamento no quadro que levasse a uma UTI. Ele comenta que a mudança na forma de atendimento não evitou, mas reduziu o surgimento de casos graves.Yves também acredita na possibilidade de as pessoas estarem mais atentas aos sintomas quando manifestados, procurando antecipar a busca por socorro médico, fato comentado nos últimos dias por profissionais de saúde ao POPULAR. Inquéritos podem acabarAdotados como uma estratégia para que as prefeituras descobrissem em quais regiões o novo coronavírus (Sars-CoV-2) está mais ou menos alastrado, os inquéritos sorológicos estão em um momento decisivo desde que começaram a ser aplicados, em maio. Dos nove municípios escolhidos para receber kits de testes rápidos do Ministério da Saúde via Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), apenas quatro levaram adiante a proposta de realizarem quatro inquéritos em um intervalo de tempo de duas a três semanas e, apesar das descobertas que puderam ser notadas com os resultados, não se sabe se haverá novos kits para mais levantamentos.Apenas Goiânia, Rio Verde e Goianésia concluíram os quatro inquéritos. As três demonstraram interesse em continuar com o trabalho, que apontou tanto um crescimento nos casos em julho maior do que o registrado por meio das notificações oficiais de casos confirmados, como também as regiões das cidades em que a Covid-19 está mais avançada. Na capital, a prevalência é maior nas regiões Norte, Leste e Noroeste. Anápolis realizou três levantamentos e prepara o último para a próxima semana. Uma das conclusões observadas é o impacto de surtos de Covid-19 para determinadas regiões de uma cidade e a possibilidade de existência de “superpropagadores”, pessoas, locais ou situações em que pode se espalhar em uma velocidade maior do que a verificada na taxa de contágio média da cidade.Aparecida de Goiânia foi a primeira cidade em Goiás a fazer e divulgar o resultado de um inquérito, mas não saiu do primeiro. Segundo a SMS, a prefeitura decidiu adotar outra política, de testagem em massa, em que se utiliza um outro tipo de teste, o RT-PCR, que é útil para reduzir o contágio.O professor e pesquisador do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Bosco Siqueira, defende as duas estratégias, a da testagem em massa e dos inquéritos, pois, segundo ele, seriam complementares. Siqueira ajudou os municípios a desenvolver o planejamento e a execução dos levantamentos e diz que os quatro que foram adiante com o projeto conseguiram desenvolver estratégias mais eficazes para enfrentar o vírus. O problema é que o Ministério da Saúde não repassou novos kits e tanto as prefeituras como o governo estadual estão focando os recursos na aquisição de testes RT-PCR. Além disso, os custos dos inquéritos são bancados pelos próprios municípios, às vezes em parceria com instituições de ensino, mas mesmo assim isso inviabilizou a adoção de inquéritos por cidades do Entorno do Distrito Federal. Sucesso em Rio Verde Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) aponta que Rio Verde está conseguindo barrar o avanço da Covid-19 por meio de políticas públicas adotadas principalmente após um grande surto da doença que atingiu as principais indústrias da cidade no começo de junho. De acordo com o trabalho, a taxa de contágio do novo coronavírus está abaixo de 1, o que aponta que o atual estágio da epidemia pode ser de “decaimento”. Os pesquisadores são os mesmos que desde abril fazem modelagem de cenários do novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Goiás e ajudaram a desenvolver o modelo de revezamento 14x14 adotado pelo governo estadual por poucos dias, já que sofreu forte oposição empresarial e política. Em live apresentada pela prefeitura de Rio Verde na tarde desta quarta-feira (29), os pesquisadores apontam que o executivo municipal adotou uma série de medidas rigorosas de enfrentamento à epidemia, como a adoção de um sistema de protocolos de segurança que contou com o apoio da população, assustada com o surto de junho, no qual mais de 130 pessoas acabaram morrendo com Covid-19.“O pacote de medidas implementadas em Rio Verde para controle do surto e mitigação da pandemia foram efetivos para reduzir a transmissibilidade da doença de forma rápida e sustentável”, concluíram os pesquisadores na apresentação do estudo.-Imagem (1.2094011)