A média móvel de casos de Covid-19 em Goiás encerrou 2021 em 454,86, sendo 422 novos casos registrados no dia, o que já identificava um aumento no número de contaminados desde o dia 19 de dezembro, quando o índice ainda apontava 58,71. No entanto, em janeiro, a situação da pandemia voltou a ficar pior e instituiu nova onda de contaminação, com a maior média móvel já registrada na história. O mês de janeiro foi encerrado com uma média móvel de 4.392,86, com 1.778 novos casos no dia 31. O número total é 865,76% a mais do que foi registrado em dezembro do ano passado, ou seja, com mais de nove vezes de aumento.Para se ter uma ideia, desde o dia 21 de janeiro os dados mostram uma média móvel de casos acima do maior índice já registrado na história, que havia sido em 17 de março de 2021, indicando 3.569,71 de média, com 4.375 novos casos catalogados na data. Neste ano, porém, o dia 21 registrou média de 3.819,29, com crescimento até o dia 27, quando se chegou ao ápice deste índice ao ser calculada uma média móvel de 5.529,57 casos. Apesar de uma queda na média móvel desde então, os números ainda continuam acima da onda que se tinha em 2021.Os dados com relação à média móvel são calculados pela plataforma Covid Goiás, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), com base nos registros da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). No entanto, os números são calculados a partir dos boletins epidemiológicos emitidos pela secretaria diariamente, e estes são realizados a partir dos registros dos casos no sistema do Ministério da Saúde e não da data de ocorrência do caso ou óbito. Mas a SES-GO publica os dados também por data do ocorrido e mostra aumento em janeiro com relação a dezembro.Na semana epidemiológica 48 de 2021, entre final de novembro e começo de dezembro, foram registrados 1.066 casos e 27 óbitos por Covid-19. Já na semana 4 deste ano, entre os dias 23 e 29 de janeiro, os registros apontavam 9.312 contaminados e 109 mortes. O secretário da SES-GO, Ismael Alexandrino, reforça que os dados do mês de janeiro, se contar a partir do registro, vão passar por muita consolidação, ainda pelo efeito do apagão do sistema do Ministério da Saúde sofrido nos últimos meses. Por exemplo, um novo problema no registro de dados ocorreu na terça-feira (1) e apenas cerca de 50 casos foram registrados, o que redundou em mais de 13 mil registros nesta quarta-feira (2).Novo pico de casos ainda vai ocorrerApesar de um recorde nos registros de dados de média móvel, que é calculada a partir dos casos catalogados nos últimos sete dias da data referida, já ter ocorrido no final de janeiro deste ano, especialistas ainda acreditam que o pico desta nova onda da pandemia de Covid-19 ainda vai ocorrer. A previsão é que isso se torne realidade em até duas semanas, com referência a quantidade de contaminações. Pelo modelo matemático escolhido pela plataforma Covid Goiás da Universidade Federal de Goiás (UFG), por exemplo, o Estado se encontra em tendência de crescimento nos casos de Covid-19 nos próximos dias e o pico dos dados deve ocorrer no dia 18 deste mês.O secretário da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Ismael Alexandrino, acredita que os dados estão mesmo em crescimento e que essa tendência vai continuar pelo menos até a segunda ou terceira semana deste mês. “Depois deve ter uma estabilização e só depois uma queda. Mas ainda vamos continuar subindo por um tempo”, diz. Ele reforça a previsão de que cerca de metade dos goianos será contaminada nesse período, visto a capacidade de transmissão da variante ômicron do coronavírus.No entanto, Alexandrino salienta que os dados de janeiro, a contar dos registros e não da data de ocorrência, não devem ser comparados com outros dias, visto se tratar de consolidação pela falha no sistema do Ministério da Saúde. Assim mesmo, nos dados da SES pela data de ocorrência, o número de casos passou de menos de 1 mil por semana em dezembro para até 28 mil entre os dias 9 e 15 de janeiro. O professor da UFG e biólogo José Alexandre Felizola Diniz-Filho, que entre 2020 e 2021 participou de um grupo de especialistas para a realização de modelos do avanço da Covid-19, confirma que parte do aumento da média móvel ainda se dá pelo atraso dos dados. “Se for isso, o pico de transmissão pode estar acontecendo esses dias, e vamos ver logo o pico nas hospitalizações, mas as mortes ainda devem demorar um pouco mais a diminuir. É a mesma sequência de picos que vimos nas ondas anteriores. A dificuldade agora é que os dados estão mais difíceis e tivemos o apagão”, afirma o professor. Ele reforça que o número de casos está “estourando, como previsto”. “Primeiro os casos, as UTIs (unidades de terapia intensiva) agora parece que estão começando a estabilizar, mas em índices altos, e agora os óbitos estão acelerando”, acrescenta.Diniz-Filho afirma que ainda é difícil dizer o quanto a nova onda ainda vai durar, mas ele acredita que não será semelhante ao que se teve em 2021, com alta nos índices de fevereiro a setembro do ano. “Acho que não, pelo que se observa nos outros países da Europa e na África do Sul. O que está acontecendo, no geral, é que temos muitos mais casos porque a ômicron é mais transmissível ou é menos sensível à imunidade por infecções anteriores, até três vezes mais. Mas como temos a vacinação e a ômicron parece ser intrinsecamente mais leve, temos menos hospitalizações e óbitos quando comparada à onda anterior. Isso é o que aconteceu lá (em outros países)”, explica.O professor ainda estima que a taxa de contaminação da Covid-19 em Goiás atualmente, o chamado R equivalente, já deve estar próximo de 1, quando a capacidade de transmissão de um contaminado é para uma outra pessoa. Este número indica a estabilização da transmissão da variante ômicron, que já é prevalente no estado. Diniz-Filho estima o dado a partir dos cálculos do Observatório Covid-19 BR, que é uma iniciativa independente de diversos especialistas do Brasil. O último cálculo foi feito com dados do dia 23 de janeiro e estimava um R de 1,20. Para comparação, no dia 9 do mês passado, a mesma plataforma calculou a taxa de contaminação para Goiás em 1,48, a mais alta de toda a série histórica. A última vez que o Estado chegou ao R de 1,0 foi no dia 19 de dezembro do ano passado.-Imagem (1.2396877)