O aumento de lotes comerciais em bairros de Goiânia representa também a diminuição da quantidade de árvores no local. Para se ter uma ideia, no Setor Marista, entre 1992 e 2016, 697 exemplares foram extirpados enquanto que a proporção de lotes comerciais saltou de 12,16% do total para 56,8%. São 29 árvores a menos por ano, número maior do que se tem no Centro, com 11 exemplares a menos por ano entre 1961 e 2016. No Setor Central, em 1961 eram apenas 264 lotes comerciais, enquanto há quatro anos eram 845. A conclusão faz parte da tese de doutorado do arquiteto e urbanista e professor Fábio de Souza, do Instituto Federal de Goiás (IFG)O estudo foi defendido no ano passado e realizado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), sob o título “Arborização Urbana e Cidades Saudáveis: Índice de supressão arbórea no sistema viário e sua influência na valoração do imóvel comercial”. Nele, Souza analisou as áreas do Setor Central e do Setor Marista através de imagens históricas e de satélite para fazer a contabilização dos espécimes arbóreos, quantidade de lotes e fez também levantamento sobre a destinação das áreas. A ideia é que as avenidas e ruas comerciais tendem a suprimir a vegetação, já que há maior retirada nas calçadas do que em outros locais, como canteiros.Em ambos os bairros, o pesquisador fez levantamento histórico da ocupação. Por exemplo, no Centro, a tese lembra que o modelo proposto por Attilio Correia Lima previu lotes comerciais apenas ao longo das avenidas Goiás e Anhanguera, mas que ação do poder público para o crescimento de vagas de emprego, sobretudo no comércio, já desfigurou o projeto nos anos iniciais da capital. Em 2016, 85,8% dos terrenos da área conhecida como Manto da Nossa Senhora (entre Praça Cívica e Avenida Paranaíba, com limites nas avenidas Tocantins e Araguaia) eram comerciais. Ao mesmo tempo, houve evolução da supressão arbórea, justamente nos quadrantes em que se via ampliação da quantidade de lotes comerciais. Eram 2.125 árvores em 1961 somando os exemplares de calçadas, canteiros centrais e praças, sendo que em 2016 só sobraram 1.516 árvores. Ou seja, 28,66% de árvores a menos. Além do crescimento do número de lotes comerciais no mesmo período, a pesquisa reforça a correlação entre comércio e árvores por ter maior supressão arbórea de exemplares das calçadas.Para se ter uma ideia, o índice de supressão de exemplares que ficam na frente dos lotes foi de 35,97%, enquanto que em relação aos canteiros centrais esse número foi de apenas 6,14%. No caso do Centro, os espécimes na Praça Cívica foram considerados de canteiros centrais ou calçadas, já que existem edificações institucionais no local. Souza reforça ainda, de acordo com a sua tese, que o bairro teve retirada de árvores nos canteiros centrais especialmente para a implantação dos corredores de ônibus, principalmente nas Avenidas Anhanguera e Goiás.Região Sul“Percebe-se que o aumento do comércio é diretamente proporcional ao decréscimo da arborização e inversamente proporcional ao número absoluto de árvores presentes nas calçadas”, informa o estudo. A pesquisa aponta que a mesma relação é percebida no Setor Marista, mesmo que a ocupação no bairro tenha se intensificado a partir da década de 1990 e hoje possui o metro quadrado mais caro da cidade. Para se ter uma ideia, em 1992, 64,44% dos 2.632 lotes eram destinadas a habitações unifamiliares, 19,95% eram lotes vagos e apenas 12,16% eram de comércios. Em 24 anos depois, a realidade do bairro em 2016 era formada de 56,8% de lotes comerciais, 29,25% de habitações unifamiliares e 8,32% de habitações coletivas. Neste mesmo período, o bairro que tinha 4.282 exemplares arbóreos, sendo 76,6% deles nas calçadas, 21,3% nos canteiros e 0,21% nas praças, passou a ser espaço para apenas 3.585 árvores, sendo 62,28% plantadas nas calçadas, 19,48% nos canteiros e 1,96% nas praças. “A supressão arbórea na Região Marista, assim como na Região Central, está absolutamente relacionada com a própria evolução do comércio”, assevera a tese.A pesquisa reforça ainda que o índice de supressão, tal qual ocorre na Região Central, é maior na calçada, com 18,69%, enquanto que nos canteiros é de 8,55% e nas praças, mesmo com 6,67% menos árvores, há relativamente mais espécimes do que em 1992, dado que a retirada é maior nos outros locais. “Fica facilmente perceptível a inversa proporcionalidade.”