Mesmo com a expectativa da família de que o assassinato do jornalista esportivo Valério Luiz de Oliveira finalmente seja levado ao tribunal de júri no dia 13 de junho, o julgamento ainda pode sofrer novos adiamentos. O júri popular iria começar nesta segunda-feira (2). Entretanto, a defesa do empresário Maurício Sampaio, acusado de ser o mandante do crime, abandonou o plenário alegando a suposta parcialidade do juiz e promotores. Este o terceiro adiamento da apreciação do caso.“Dessa data não vai passar. Agora não será possível nenhum adiamento. Chegamos no limite das manobras da defesa”, afirma Valério Luiz Filho, que é advogado e assistente de acusação do caso. “Precisamos que tudo que aconteceu seja finalmente mostrado aos jurados para conseguirmos justiça”, cobra. Sampaio teria mandado matar Valério Luiz por conta de críticas feitas contra a direção do Atlético Futebol Clube, time do qual ele já foi presidente.O júri havia sido marcado para ocorrer em junho de 2020. Entretanto, com a pandemia da Covid-19, foi adiado para março de 2022. No dia 14 de março, data em que iria ocorrer, ele acabou sendo adiado depois que Ney Moura Teles, advogado de defesa de Sampaio na ocasião, renunciou.A crença de Valério se apoia no fato de que nesta segunda, por conta do abandono do júri popular, além de ter aplicado uma multa de 100 salários mínimos em Luiz Carlos Silva Neto e Bruno Martins, os dois advogados de defesa, e de ter pedido para que a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Distrito Federal (OAB-DF) instaure um procedimento para a investigação da conduta dos advogados, o juiz Lourival Machado da Costa, também acionou a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO).De acordo com o artigo 456, do Código de Processo Penal (CPP), se não houver justificativa legítima por parte do advogado de defesa para abandonar o júri, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado novamente. Nesse caso, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo julgamento.Na argumentação, os advogados informaram que iam se ausentar do julgamento até que se julgue uma exceção, no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que aponta suposta parcialidade do juiz. No entendimento do magistrado, a justificativa dada pela defesa não foi legítima. Ele alegou que os recursos que cabiam à defesa já foram julgados e que não era o momento para os pedidos.RevezesEntretanto, o professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e pós-doutor em Direito, Clodoaldo Moreira, explica que a defesa de Sampaio ainda pode fazer movimentações como, por exemplo, recorrer da multa que o juiz aplicou e também entrar com um recurso em segundo grau questionando o entendimento do juiz de que o abandono da sessão não foi justificável. “Se obtiverem uma decisão favorável, tudo pode mudar.”A defesa de Sampaio também pode entrar com novos recursos para tentar adiar o julgamento. Desde que assumiu a defesa de Sampaio, em março, Silva Neto já entrou com pelo menos sete recursos neste sentido, sendo um deles no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Até o momento, todos foram negados. Também há uma recusa a um pedido de liminar feito pela defesa do sargento da PM Ademá Figueredo Aguiar Filho, suposto autor dos tiros que mataram a vítima, então com 49 anos, no dia 12 de junho de 2012. Além de Sampaio e Aguiar Filho, o caso possui como réus o empresário Urbano de Carvalho Malta, o sargento reformado da Polícia Militar Djalma Gomes da Silva e Marcus Vinícius Pereira Xavier, que era açougueiro na época do crime.O promotor de justiça Sebastião Marcos Martins, um dos responsáveis pela acusação, explicou que não é possível manter o julgamento dos outros quatro réus, pois o CPP determina que primeiro sejam julgados os acusados de serem os autores, no caso, Sampaio.Na última segunda feira (25), a defesa de Sampaio entrou com pedidos de investigação da atuação dos promotores e do juiz no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e no CNJ. O CNMP já arquivou a reclamação disciplinar. O do CNJ ainda aguarda resposta.Moreira diz ainda que caso a defensoria assuma a defesa de Sampaio sem a renúncia de Silva Neto, outra discussão pode ser levantada. “Ele (Sampaio) pode alegar que a defesa técnica está sendo prejudicada e que o direito de ampla defesa e do contraditório não está sendo resguardado. Isso pode levantar uma possibilidade de nulidade do processo.”O especialista chama a atenção para o tempo de prescrição do crime. No caso de Valério Luiz, é de 20 anos, contando a partir de 2014, quando ocorreu a pronúncia do tribunal de júri. “É preciso lembrar e se preocupar com o fato de que já se passaram 10 anos desde que o crime ocorreu e ainda está na primeira instância.”DefesaO abandono do plenário na manhã desta segunda, foi apenas o cumprimento de uma promessa já feita por Silva Neto no dia 25 de abril. Na ocasião, ele afirmou que caso o juiz e os promotores permanecessem os mesmos, ele não iria prosseguir com o julgamento. “Respeito o Judiciário e o Ministério Público, mas ele (Sampaio) está em um processo com um juiz parcial. Caso ele e os promotores continuem no caso, vamos comparecer ao tribunal, mas não participaremos.”Na manhã desta segunda, antes de o júri ser adiado, ele fez outras colocações com o mesmo teor. “Não tem condições de realizar o júri com o atual juiz”, enfatiza. Reportagem do POPULAR publicada na edição desta segunda, já apontava o clima de tensão do tribunal de júri. (Colaborou Luiz Phillipe Araújo) MP diz que abandono não foi surpresaO promotor de justiça Sebastião Marcos Martins, um dos três que atuam no caso do assassinato do jornalista Valério Luiz Oliveira, afirma que não se surpreendeu com o fato de os advogados de defesa do empresário Maurício Sampaio, acusado de ser o mandante do crime, terem abandonado o tribunal de júri na manhã desta segunda-feira (2). “Eles já vinham anunciando isso havia mais de 15 dias pela imprensa”, destaca.“Nesta altura do campeonato começar a trazer este tipo de ação demonstra que eles estão completamente perdidos. Isso nunca foi cogitado durante o processo e do nada vêm com essas argumentações”, avalia ao se referir à acusação de suposta parcialidade dos promotores e do juiz.Martins reconhece a possibilidade de novos recursos. Entre as alternativas, no entanto, não estarão manobras para suspender o júri por falta de advogados, depois que Lourival Machado da Costa, juiz responsável, acionou a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO). “No mais, o julgamento seguirá da mesma forma. O entendimento dos promotores segue o mesmo. Isso tudo é mentiroso e sem relevância”, alega sobre as tentativas da defesa de Sampaio.SessãoLogo no início da sessão, a defesa de Sampaio requereu o adiamento do júri alegando que a competência do julgamento é do 4º Tribunal do Júri e, que, por isso, o corpo de jurados também deveria ser da lista desse tribunal. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) se manifestou pelo indeferimento do pedido.O juiz afirmou que a lista estava nos autos, que a defesa tinha conhecimento e que não requereu no momento oportuno, decidindo pelo indeferimento do pedido. Na sequência, a defesa comunicou que ia se ausentar e o magistrado não considerou a justificativa legítima.O MP-GO diz que os recursos promovidos pela defesa não se sustentam no processo. Segundo a promotora Renata Souza, tanto o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), quanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ), já decidiram pela realização do júri nesta data. Antes mesmo da defesa se ausentar, a promotora disse que a defensoria pública deve assumir o caso para que esse argumento não seja mais utilizado.-Imagem (Image_1.2448701)