-Imagem (1.2473794)Atualizada no dia 16/06 às 14:50A maquiadora e influenciadora Larissa Barbosa publicou em suas redes sociais críticas a vagas para pessoas com autismo em um shopping de Goiânia. “Agora tem vaga exclusiva para autista. O mundo está muito difícil. Quero saber quando que vai ter vaga para gordo estressado. Olha isso, gente”.Larissa acumula mais de 34 mil seguidores no Instagram. Os vídeos, gravados pelos stories e compartilhado com o grupo de melhores amigos, viralizaram após um de seus amigos filmar a tela e compartilhar o vídeo de forma pública.No vídeo, que ela incluiu legenda, ela se diverte e diz: “A vaga é tão colorida que eu achei que era pra viado”. A mãe, professora de etiqueta Vânia Heringer que estava no carro com ela, a repreende. “Você não vai fazer isso. Qual o problema dos autistas?”. Mas Larissa continua: “Nenhum, achei até que as vagas eram para viado (sic). Vaga para mim (sic) nunca tem”.A Polícia Civil de Goiás (PC-GO) disse que está investigando um suposto crime de discriminação cometido pela blogueira. Um inquérito policial foi aberto, identificando formalmente testemunhas e as supostas autoras, além de produzir as provas materiais, segundo a corporação.Pedido de desculpasNa noite desta terça-feira (14), a influencer que sofreu cancelamento nas redes, se pronunciou e pediu desculpas. Em um primeiro post no feed do Instagram, ela se dirigiu às mães que crianças com TEA que se sentiram ofendidas.“Me desculpem de todo o coração. Foi uma brincadeira péssima. Não representa o que eu penso. Não sei se isso muda alguma coisa, mas só tinham 18 pessoas nos meus melhores amigos. Então, eu pensei muito pouco na hora de falar. Se a gente ouvisse a mãe da gente, tinha evitado tudo isso. Me perdoem”.Na legenda desse post, Larissa ainda continuou: “Desculpa. Podem me mandar direct que eu vou responder vocês. E pedir desculpas”. O segundo post de desculpas foi publicado 6 horas depois, também no feed. Em uma nota, a influenciadora diz que inicialmente se desesperou com a repercussão da situação e com o bombardeio de mensagens revoltas (com razão, ela completou).Disse ainda que entendeu que a forma como se sentiu não é comparável com o que muitas mães e grupos sentiram ao ouvir as palavras infelizes que ela pronunciou. “Refleti também e quero me desculpar também por dizer que se tratou de uma brincadeira, feita exclusivamente em um grupo de melhores amigos com 18 pessoas. Isso também não justifica.”A maquiadora pontua que as próprias palavras não podem ser vistas como brincadeira e que não deveriam ter sido ditas nem pra si mesma, ainda mais para um grupo de 18 pessoas.“Agradeço também às pessoas que, apesar de reprovarem a conduta e não terem nenhuma obrigação de me ensinarem nada, ainda tiraram um minuto do tempo para me enviar informações e materiais que me mostram realidades diferentes das que já conheci. Espero que essa situação um dia possa ser perdoada por quem se sentiu ofendido. Garanto também que, da minha parte, nunca mais vai se repetir”, completa.Em vídeos compartilhados nos stories, ela e a mãe também se desculparam.Repercussão na internetO vídeo de Larissa foi amplamente compartilhado, principalmente e por perfis das redes sociais que se dedicam ao compartilhamento de informações sobre TEA e sobre deficiência, de forma geral. Um destes perfis, foi de Ivan Baron, que tem mais de 221 mil seguidores.“Uma ‘desinfluencer’ da cidade de Anápolis gravou uma série de stories em seu perfil reclamando sobre estacionamento que reserva vagas para AUTISTAS. Foi um show de ofensas capacitisras, homofóbicas e gordofóbicas. Assista o vídeo se tiver estômago”, disse Baron.O influenciador da inclusão ainda completou, em um carrossel no Instagram: “Se só a vaga para autista incomodou tanto, imagina quando ela souber que essas pessoas têm direito à isenção de impostos na compra de veículos e dependendo pode sair dirigindo por aí numa boa?! Querida, sua vaga não é em estacionamento, e sim na cadeia”. O post já ultrapassou mais de 13,3 mil curtidas. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por IVAN BARON (@ivanbaronn)A advogada Maíra Tomo, que administra o perfil @advogando.pelo.autismo, com mais de 23,5 mil seguidores, também compartilhou o caso com uma nota de repúdio. “Antes de julgar sobre o direito de vaga especial para um autista eu tenho um recado: calce os sapatos e percorra 1/3 do caminho que uma mãe percorre com seu filho autista até chegar a algum lugar, viva suas tristezas diante de uma crise e a vergonha delas em público, pergunte-se se você conseguiria controlar e manter em segurança uma pessoa (que você muito ama) e que não tem noção nenhuma de perigo. Conquiste direitos e lute para que eles sejam respeitados por toda sociedade e passe a rezar para que você seja livrado de toda ignorância alheia. Aí, então, você será capaz de entender porquê existe uma vaga exclusiva para autista!”. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Maíra Tomo | Direitos Autistas (@advogando.pelo.autismo)Legislação garante mesmos direitos da pessoa com deficiênciaPela legislação nacional, o autista é pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Isso significa que possui os mesmos direitos de uma pessoa com deficiência, ainda que esse não seja o termo adequado para TEA. Em Goiânia, por exemplo, a Secretaria Municipal de Mobilidade de Goiânia emite o cartão que garante o direito à reserva de vaga ao autista com base no relatório médico que informa o diagnóstico do paciente.“Infelizmente, a sociedade, em geral, desconhece as características dos autistas que são pessoas com deficiência para todos os efeitos legais (artigo 2º da Lei nº 12.764/2012). O “espectro” autista é tão vasto que podemos dizer que nenhum autista é igual ao outro. No entanto, parte substancial deles precisa de acessibilidade para poder desempenhar direitos básicos como o de ir e vir”, completa a presidente da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência da Seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO), Tatiana Takeda.Takeda, que também é membro da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência junto ao Conselho Federal da OAB explica que é importante ressaltar que a legislação não trata apenas de crianças autistas, mas que há perigos também para adultos, dependendo das características e comorbidades. “A hipersensibilidade sensorial, a deficiência intelectual, a hiperatividade e outras questões que podem ou não estar relacionadas ao indivíduo fazem com que a distância entre as vagas de estacionamento e o local desejado se torne uma ‘via crucis’ tanto para o autista, como, se necessário a companhia, para o acompanhante que precisa ficar atento a todos os ‘perigos’ no respectivo trajeto.”Ocorrência pode ser registrada em delegaciasA partir do momento que essa manifestação em meios de comunicação atinja e constranja alguém, o indivíduo ou uma associação representativa, por exemplo, é possível registrar uma ocorrência em uma delegacia. O direito é previsto nos 4º, § 1º, e 88 da Lei nº 13.146/2015. “Importante ressaltar que no Estado de Goiás temos duas delegacias especializadas no atendimento à pessoa com deficiência: em Goiânia e em Anápolis”, finaliza a representante da OAB-GO.Leia também: Clínica de Goiânia é condenada em R$ 10 mil por negar exame para criança com autismoCarteira que prioriza atendimento para autistas é lançada em GoiâniaJovem com autismo passa em 1º lugar em curso de medicina e revela sonho de ser neurologistaMãe diz que escola de Goiânia cancelou matrícula de filho autistaCriança autista fica três dias com a mãe morta em casa, em Jataí -Imagem (1.2473798)