A visita ao Cemitério Parque, situado no Setor Gentil Meireles, em Goiânia, tem como um dos grandes problemas o matagal. A situação dificulta a localização de túmulos e aumenta a insegurança na região. Administrada pela Prefeitura, a área sofre com acúmulo de lixo. A reforma do muro, iniciada há quase dois anos, segue incompleta, expondo túmulos em área residencial.A funcionária pública Renata Serradourada, de 48 anos, participou do enterro de uma tia na tarde desta quarta-feira (9) e classifica a situação do cemitério como “esquisita”. “Não conseguimos nem ver o túmulo direito, porque o mato tomou conta de tudo”, conta Renata, que precisou passar no meio do matagal para conseguir acessar o local onde a familiar foi sepultada.De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), a Companhia de Urbanização do Município de Goiânia (Comurg) iniciou os trabalhos de limpeza no cemitério nesta quarta. A reportagem esteve no local durante a tarde e não viu movimentação de trabalhos.O motorista Celso de Freitas, de 50 anos, visita familiares no local e aponta que os problemas não se resumem ao mato, lixo e ao muro incompleto. “Não existe identificação dos endereços dos túmulos. Só consegue encontrar se você já conhecer bem o cemitério e já tiver ido ao túmulo mais de uma vez”, diz Freitas.Outro problema do local é a falta de cuidados com os túmulos, questão de responsabilidade dos familiares que compram os jazigos no cemitério que tem quase 20 hectares, o equivalente a aproximadamente 20 campos de futebol. Com tampas quebradas, alguns dos túmulos têm restos mortais expostos. Além disso, lixos que incluem entulhos, folhas e restos de homenagens estão presentes em diversos pontos.O eletricista Valmir dos Santos, de 49 anos, que também participava de uma cerimônia de enterro nesta terça, afirma reconhecer que os cuidados dos túmulos são de responsabilidade dos familiares, mas pondera que as demais áreas deveriam ser cuidadas pela gestão municipal. “Pelo menos uma limpeza e poda, é o básico. A população paga impostos e precisa que os seus mortos sejam respeitados”, reclama.MuroA reconstrução do muro que cerca o cemitério está completamente paralisada desde janeiro do ano passado, após a empresa contratada abandonar a obra. Os trabalhos iniciados em julho de 2020 tinham previsão inicial de entrega em outubro do mesmo ano. Com a situação, visitantes observam descaso e moradores do entorno sofrem com insegurança, acúmulo de lixo e infestação de insetos.A obra, orçada em mais de R$ 1,1 milhão, conforme justifica a Prefeitura, deve dar maior segurança ao local. O projeto também prevê a construção do calçamento em torno do local, onde já foram feitos mais de 200 mil sepultamentos. Menos de 25% do muro estão prontos, cerca de 400 dos 1.900 metros.O pedreiro Ricardo de Sá, de 36 anos, é morador da Rua Acesso Ocidental, uma das ruas vizinhas do cemitério, e convive, nos últimos dois anos, com os problemas causados pela obra inacabada. “Sumiram, abandonaram o cemitério. Os moradores estão sofrendo. Deste mato alto sai cobra, escorpião, aranha. Tudo vai parar dentro de casa”, resume o pedreiro sobre a situação.Além dos insetos, Sá diz que a falta do muro causou mais e insegurança. “A noite você não imagina como fica”, conta. Mesmo durante o dia, a vizinhança com os túmulos gera insegurança. “Você não vê crianças andando na rua, é medo”, acrescenta.Com experiência em construção civil, Sá avalia que o trabalho devia ter sido feito em etapas. “Derruba uma parte, constrói e só depois derruba a outra. Não existe isso que foi feito aqui”, aponta. Com o abandono, o pedreiro diz que os materiais para a construção foram roubados. “Tinha bloco de cimento, areia. O povo foi roubando aos poucos”, denuncia.Plano para problemas está pendenteMesmo diante dos problemas crônicos, a Sedhs não apresenta um plano de ação sobre a manutenção dos cemitérios. Além do Parque, a Prefeitura gere outros três cemitérios: Sant’Ana, Vale da Paz e Jardim da Saudade. O terceiro, voltado para a comunidade carente, é alvo de denúncias recorrentes também sobre a precária manutenção.A gestão municipal já cogitou terceirizar a manutenção dos cemitérios, mas, questionada pela reportagem sobre a possibilidade, não comentou se há discussão sobre a questão. Não explicou ainda quais as dificuldades para manter as estruturas.RecursosApesar de ser público, o espaço recebe diversas taxas particulares e tem orçamento próprio. Além do pagamento pelos jazigos, para enterrar um ente no cemitério é preciso pagar taxa de sepultamento, por exemplo, que atualmente é de R$ 400. Com uma média de 150 enterros por mês, R$ 60 mil são arrecadados mensalmente.Sobre a retomada da construção do muro do Cemitério Parque, a Sedhs diz que os trabalhos foram paralisados em função da pandemia da Covid-19. “A Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, resolve as últimas questões burocráticas para reiniciar os trabalhos nos próximos dias”, estima a gestão.Confira o vídeo