Diretores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estarão em Goiânia nesta segunda-feira (4) para conhecer de perto a proposta do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais do Cerrado (Cempa) que, ancorado na Universidade Federal de Goiás (UFG), já conta com o apoio do Governo de Goiás em seu processo de estruturação. Em maio de 2020, o Inpe assinou um protocolo de intenções com a instituição universitária goiana que pode avançar para uma presença mais efetiva do órgão no Centro-Oeste. O grupo vai se reunir com a reitora da UFG, Angelita Lima, e deve se encontrar com o governador Ronaldo Caiado nesta terça-feira (5).Integram a comitiva o diretor geral do Inpe, Clézio Marcos De Nardin; o coordenador-geral de Ciências da Terra, Gilvan Sampaio de Oliveira; o chefe da Divisão de Modelagem Numérica do Sistema Terrestre, Saulo Ribeiro de Freitas; e os pesquisadores Karla Longo de Freitas e Luiz Flávio Rodrigues. Coordenador do comitê de instalação do Cempa, o professor doutor Laerte Guimarães Ferreira Júnior, da UFG, está entusiasmado. “Nossa expectativa é que a gente consiga avançar no acordo de cooperação técnica, além de consolidar a presença do Inpe no Centro-Oeste, que hoje só possui um conjunto de antenas de recepção de dados satelitários em Cuiabá(MT). O que queremos é que haja um centro avançado de pesquisas do Inpe no parque tecnológico Samambaia, da UFG.”Para o ex-pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, a visita dos pesquisadores do Inpe possui um enorme simbolismo. “É a primeira vez que um diretor do Inpe no exercício do cargo visita Goiás e isso não é pouca coisa. Já temos parceria com o Instituto no monitoramento do desmatamento do bioma Cerrado, mas queremos estreitar ainda mais essa relação, tendo como referência o Cempa.” O centro de estudos climáticos voltado para o Cerrado brasileiro começou a ser idealizado em 2019 e já vem gerando os primeiros resultados experimentais, com a participação de pesquisadores renomados internacionalmente.Laerte Guimarães Júnior lembra que o governador Ronaldo Caiado tem sido um grande apoiador da proposta. “Desde o primeiro momento se mostrou entusiasmado, tanto que esta será a terceira reunião com ele para tratarmos do assunto.” Com custo de estruturação estimado em R$ 12 milhões, o Cempa firmou acordo de repasse de recursos com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) no valor de R$ 5,5 milhões em cinco anos. “O governo estadual tem se manifestado de forma tangível de que acredita e apoia a ideia do Cempa.”O presidente da Fapeg, Robson Domingos Vieira, na opinião do pesquisador da UFG, tem tido uma grande compreensão sobre a iniciativa. “A Fapeg nos aproximou do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), que funciona na UFG, e é apoiado pelo governo estadual, e do Centro de Agricultura Exponencial (Ceagre), do Instituto Federal Goiano, que fica em Rio Verde. Essas parcerias renderam duas bolsas ao Cempa”, detalha. Segundo Laerte Guimarães, reuniões sobre o projeto já foram realizadas com os secretários Adriano Rocha Lima, Geral de Governo; Márcio César Pereira, de Desenvolvimento e Inovação; e Andréa Vulcanis, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.“Queremos convergir esforços. Construir pontes. O Cempa é uma iniciativa ousada, que pretende fazer uma previsão de tempo e de clima com um nível de detalhe regional que não existe hoje no país. Queremos rodar modelos ajustados às especificidades do Centro-Oeste, de Goiás e da região metropolitana de Goiânia. Quem ganha com isso é toda a sociedade, a Defesa Civil, o agronegócio e a saúde, porque teremos informações mais fidedignas sobre poluição atmosférica. Estamos conseguindo mostrar isso com maior clareza aos possíveis novos parceiros.”Detalhando as aplicações potenciais dos resultados gerados pelo Cempa, Laerte Guimarães Júnior lembra que Goiás é um estado cuja economia depende das commodities agrícolas. “Precisamos fazer do clima um aliado diante das mudanças climáticas que têm levado à quebra de safras. Precisamos antecipar, entender, para que a atividade agrícola tenha menos risco. O Cempa também vai contribuir para reduzir o desmatamento no Cerrado ao mostrar o potencial de aumento de ocupação de terras já abertas.” O projeto deverá ser apresentado à Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) e à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) . “Com informações prévias, reduzimos o risco de perda de safra, impactando diretamente no seguro agrícola”, explica.Técnicas são as mais modernasO Cempa já elaborou uma base de dados meteorológicos que abrange um período de dez anos - 2010 a 2020. As informações ficarão disponíveis em linguagem acessível no site cempa.ufg.br para qualquer pessoa interessada. Também criou uma grade computacional de previsão climática inédita, de dez dias, envolvendo todo o território goiano e parte dos estados fronteiriços, com informações detalhadas a cada 5 km, para atender o agronegócio. Com o modelo totalmente formatado, a grade chegará a três meses. O Cempa também estuda a viabilidade da geração de energia eólica em Goiás e pretende criar um viés de educação ambiental em escolas de ensino fundamental e médio. Uma parte considerável dos recursos que tem viabilizado o trabalho inicial do Cempa, veio de emendas parlamentares propostas pelo deputado Elias Vaz (PSB). A primeira, em 2020, no valor de R$ 500 mil, possibilitou a compra de um computador de alto desempenho. No ano passado, uma segunda, de R$ 497,8 mil, garantiu à equipe cinco novos equipamentos de última geração. Em 2022, com mais R$ 500 mil, resultado de uma nova emenda parlamentar de autoria do deputado, o Cempa vai custear a contratação de mais bolsistas. Um dos idealizadores do Cempa e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do modelo utilizado por ele, o pesquisador goiano do Inpe, Saulo Ribeiro de Freitas, explica que as técnicas são o que existe de mais moderno no mundo atual. Ele implantou técnicas semelhantes para a Nasa, agência espacial americana, onde foi premiado por seu trabalho no grupo de modelagem e assimilação de dados climáticos.