Sem previsão para uma solução definitiva no trecho da BR-153 que atravessa o córrego Santo Antônio, onde surgiram duas crateras no começo de dezembro, moradores do Jardim Paraíso, bairro que margeia o manancial próximo à rodovia, sofrem com a água que invade suas casas em períodos chuvosos. Nas ruas, placas indicando riscos de inundações e paredes marcadas com lama dão pistas do histórico narrado com detalhes por qualquer morador questionado sobre a situação.O POPULAR mostrou no último sábado que há cerca de 8 anos a Defesa Civil alerta sobre o risco de colapso estrutural do bueiro que fica sob a rodovia ao passar pelo córrego. Além do problema nas pistas, a forma como foi feito o trecho ajuda a potencializar os alagamentos na região, uma vez que quando chove forte o bueiro não comporta o volume de água no local.A dona de casa Adriana da Silva, de 38 anos, vive com a família no bairro há 10 anos. A casa da irmã de Adriana fica na esquina em frente à área de mata ciliar do córrego e foi construída suspensa cerca de um metro acima do nível do chão. Mesmo assim, durante os últimos anos ela coleciona fotos e vídeos que mostram a área da residência invadida por água após o córrego vizinho transbordar durante chuvas mais fortes.“Quando começa a chover, em vez de ficarmos felizes, porque chuva é algo bom, para nós é sempre motivo de preocupação. Um olha para o outro e diz: ‘Nossa, vai chover’. Sem saber o que pode acontecer”, relata a dona de casa. Entre as situações vividas, Adriana se lembra de episódios em que a família precisou esperar, de madrugada, a 100 metros da casa, o nível da água baixar para conseguir entrar no local.O empresário Altamiro Mirim, que tem uma chácara na mesma rua de Adriana, também já viveu diversos momentos de tensão e lista prejuízos com perda de móveis. “Eu tinha comprado mais de R$ 10 mil só de camas e em uma das chuvas perdi tudo”, cita Altamiro. No dia a dia, o empresário diz que precisa lavar o muro e a calçada e até a rua após as chuvas. Isso porque, as águas do córrego sobem carregadas de barro e entulhos, deixando o local sujo constantemente.Entre as orientações feitas pela Defesa Civil durante as visitas feitas no local está a de que a região é imprópria para construção de casas. Em documento editado em 2013 o órgão aponta: “A área em questão trata-se de uma planície de inundação, ou seja, uma área vulnerável e imprópria para ocupação”. Por conta disso, a Defesa Civil pede, no mesmo documento, que os órgãos de habitação não autorizassem novas edificações na área.No período, porém, a urbanização da área cresceu, avalia o superintendente atual da Defesa Civil, o geógrafo Juliano Cardoso. “Infelizmente as pessoas continuam construindo. Recentemente a legislação municipal, ao invés de restringir esses locais, fez foi reduzir o número de áreas protegidas. O que potencializa risco”, diz o técnico ao citar limites impostos pela natureza.Para Juliano, mesmo com a construção da ponte a área ainda ficará sob risco. “A ponte deve amenizar, mas nós da área temos alguns jargões e um deles diz que a pior das chuvas ainda está por vir. Então quem garante qual será o maior pico de chuvas que ainda virá? Resta-nos respeitar a natureza, as normas técnicas e entender que no planeta a gente não pode fazer o que quer, nós precisamos fazer o que o planeta suporta”, avalia o superintendente da Defesa Civil.