A aposentada Leila Maria, de 72 anos, é frequentadora assídua do Bosque dos Buritis, a mais antiga área verde de Goiânia, a mais centralizada e a mais frequentada, segundo levantamento da Agência Municipal do Meio Ambiente. Há décadas moradora de uma residência verticalizada nas imediações, ela encontra ali o lugar ideal para respirar ar puro, se exercitar, ter contato com a natureza e se entregar a alguns momentos de contemplação. “Aqui é uma extensão da minha casa, faz parte da minha vida”, afirma ela, antes de dizer que nos últimos anos o parque não tem recebido das autoridades a devida atenção.Leila não está sozinha. “O Bosque dos Buritis está mal cuidado há muitos anos. Muitas placas que indicavam o nome das árvores nem existem mais ou estão quebradas. Uma parte da mata, que margeia o prédio da Assembleia Legislativa, está sempre cheio de papel higiênico e preservativos. É muito nojento. A Prefeitura deveria cuidar mais”, escreveu ao POPULAR outra frequentadora que pediu anonimato. Este tipo de reclamação é recorrente e chega ao conhecimento da Amma, responsável pela manutenção e preservação das áreas verdes da capital.Ormando Pires, superintendente de Gestão Ambiental e Licenciamento da Amma, garante que o cuidado existe e há um grande esforço neste sentido, não apenas para preservar o Bosque dos Buritis, como também todas as 242 áreas verdes da capital, 60 delas consideradas parques. “Em todos os parques há servidores da Amma. A manutenção é diária em lixeiras, calçamentos, rastelagem e limpeza das imediações. Equipes de apoio também são sempre chamadas para reparos”, afirma. O maior entrave enfrentado pelo órgão, segundo Ormando, são as ações de vândalos. “Estimamos que nossa perda em razão do vandalismo alcance a cifra de meio milhão de reais por ano.”Em meados de outubro, em razão do crescente número de reclamações, com a ajuda de voluntários, a Amma fez uma robusta operação de limpeza no Bosque dos Buritis. Foram retirados da área de preservação mais de 300 quilos de resíduos sólidos, como garrafas plásticas e preservativos, materiais que levam anos para se decompor e prejudicam a fauna local. “Todo esse lixo estava no interior da mata onde, teoricamente, não deveria haver trânsito de pessoas, em razão da vegetação e de nascentes. É uma luta desigual, mas vamos continuar enfrentando”, avisa Ormando Pires.Logo após a ação de limpeza, equipes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Amma, com o apoio da Polícia Militar, intensificaram a fiscalização no parque com o objetivo de coibir o uso da área verde para a prática de atos sexuais. A ação foi considerada dura pelo Grupo Eles por Eles (GEE), que defende homens bissexuais e gays de Goiás. Uma nota de repúdio foi encaminhada pela entidade a autoridades municipais. Para o GEE o que houve foi uma operação homofóbica. Ormando Pires afirma que foram flagrados casais homo e hétero “não somente praticando atos libidinosos, mas também agredindo o meio ambiente.”A Amma, segundo o superintendente de Gestão Ambiental, está estudando uma forma de fechar o Bosque dos Buritis no período noturno e intensificar as rondas da GCM. “Tentamos alertar a população para o excesso do que ocorre lá. Somente este ano retiramos do interior do parque 3 mil preservativos.” De material plástico, os preservativos, descartados de forma inadequada, são confundidos como alimentos por aves e pequenos animais que habitam o Bosque dos Buritis, levando-os à morte.Sobre as placas que apresentam sinais de deterioração, Ormando Pires explica que a Amma está se preparando para entrar num processo licitatório com o propósito de adquirir material de comunicação visual. O superintendente diz ainda que o órgão municipal recebeu 300 novas lixeiras e pelo menos 80 delas já foram instaladas em unidades de conservação, entre elas o Bosque dos Buritis. “Precisamos do apoio da população para fazer uso adequado deste patrimônio.” Associação quer Palácio da CulturaDo “buritizal” que seria transformado em parque pelo plano do urbanista Attílio Corrêa Lima para a cidade que nascia nos idos de 1930, resta 30% da área original. É o que consta no Plano de Manejo da unidade de conservação elaborado em 2005. A ocupação da cidade descaracterizou a proposta inicial. Nos primeiros cortes, nos 40, o Governo de Goiás doou espaços para a construção dos colégios Ateneu Dom Bosco e Externato São José. Vieram depois os loteamentos para os setores Oeste e Marista. Mais tarde, foram erguidos o Tribunal de Justiça, a Assembleia Legislativa, o Museu de Arte de Goiânia e o Centro Livre de Artes que exigiram a extirpação de centenas de árvores. Houve um período em que sanitários foram construídos dentro do bosque e, sem manutenção, passaram a ser ocupados por pessoas em situação de rua. Anos mais tarde foram demolidos.Por ser uma área verde central e de fácil acesso, conter os abusos é uma tarefa árdua. Com o objetivo de desenvolver projetos em parceria com o poder público para preservar a unidade, surgiu em 1985 a Associação de Protetores do Bosque dos Buritis (APBB), instituição da sociedade civil. Um dos idealizadores, o empresário Leonardo Rizzo, enfatiza que ao longo de 36 anos a contribuição da APBB tem sido grande, mesmo sem ter poder de decisão. A associação atua não somente como observadora e denunciante das agressões sofridas pelo parque solicitando ações mais efetivas, mas também apresenta projetos de melhoria, salienta seu diretor. Leonardo Rizzo explica que as atenções da APBB estão voltadas agora para a ocupação do prédio da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), cuja estrutura está de mudança para o Parque Lozandes, o que deve ocorrer já no próximo ano. “Estamos lutando por isso há 36 anos. Alguns órgãos reivindicam o prédio agora, mas desde que foi definida a nova área para a Alego, em 1992, ficou acertado que o prédio seria ocupado pelo MAG.” O empresário informa que a ideia é transformar o prédio no Palácio da Cultura Iris Rezende Machado onde ficarão o MAG, o CLA, uma biblioteca, um museu sobre todos os prefeitos de Goiânia e um espaço dedicado ao urbanista Attilio Corrêa Lima. “O mundo cultural e artístico está esperando por isso. Uma cidade precisa ter sinergia e o Bosque dos Buritis está perto de todos os museus de Goiânia”, reforça Leonardo Rizzo. Com a retomada gradual das atividades culturais após a suspensão forçada pela pandemia, o MAG reabriu as portas. O prédio do CLA, segundo a Secretaria Municipal de Cultura (Secult), está em reforma e as aulas permanecem remotas, devendo retornar presencial no início do ano letivo de 2022. Leonardo Rizzo explica que junto com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), a APBB está elaborando um projeto para a ocupação do prédio da Alego, pleito que, segundo ele, já foi feito ao prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Segundo a Secult ainda não há definição para a questão. O projeto, conforme Leonardo Rizzo, prevê a demolição dos antigos prédios do CLA e do MAG, ampliando a área verde.