O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) encaminhou, nesta terça-feira (7), manifestação favorável ao pedido de prisão preventiva de dois policiais militares pela morte de Chris Wallace da Silva, de 24 anos, rapaz que tinha câncer e não resistiu às supostas agressões durante abordagem no mês passado, no Residencial Fidélis, em Goiânia. Na mesma manifestação, o MP ofereceu denúncia contra os PMs por homicídio triplamente qualificado.Na manifestação do MP sobre o pedido feito pela Polícia Civil (PC) na semana passada, quatro promotores sustentam que há elementos que inferem “fortes indícios” de que os policiais Bruno Rafael Silva, de 30 anos, e Wilson Luiz Pereira de Brito Júnior, também de 30, ambos lotados no 42º Batalhão da PM de Goiânia, foram, de fato, os autores das agressões que resultaram na morte de Chris.A abordagem teria sido realizada no dia 10 de novembro por volta das 19h, quando Chris e um amigo foram a pé da casa dele até uma distribuidora de bebidas. No caminho, os dois policiais teriam descido de uma viatura e parado ambos. Uma testemunha conta ter ouvido Chris falar que tinha câncer, mas mesmo assim teria levado socos e tido a cabeça prensada na parede.Após as supostas agressões, o jovem teria chegado em casa vomitando, com crises convulsivas e, depois de ser internado no Hospital de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (Hugo), onde deu entrada com descrição médica de espancamento, morreu seis dias depois.Além de citar o laudo de exame cadavérico feito pelo Instituto Médico Legal (IML), que diz que Chris morreu por causa de um traumatismo cranioencefálico causado por ação contundente, os promotores citam que há, nas investigações conduzidas pela PC, o relato de sete testemunhas, quatro delas que dizem ter presenciado a ação, elementos que sustentam os indícios.O motivo do pedido de prisão preventiva envolve o que ocorreu após as supostas agressões. Conforme descreve um familiar em depoimento, no dia que Chris chegou em casa passando mal ligou para o 190 e os policiais que foram até a residência eram justamente Bruno e Wilson. De acordo com o processo, eles questionaram a irmã de Chris sobre o ocorrido, querendo saber o que foi contado pela vítima, fotografaram o CPF dela e foram embora sem fazer nenhuma anotação.No dia seguinte, o policial que fez a foto ligou para a irmã e, ao ser informado de que a morte do Chris estava sendo registrada na delegacia com apoio de um advogado, desligou. Ela também narrou na delegacia que recebeu uma ligação recentemente de um número restrito e a chamada caiu assim que ela atendeu.Durante a tomada de depoimento dos policiais à PC, ambos permaneceram em silêncio após, segundo os investigadores, “evocarem o direito constitucional de não autoincriminação”. “Neste contexto, forçoso concluir que a prisão processual dos acusados Bruno Rafael da Silva e Wilson Luiz Pereira de Brito Júnior está devidamente fundamentada na garantia da ordem pública, na conveniência da instrução criminal e na aplicação da lei penal”, diz a manifestação assinada pelos promotores de Justiça Geibson Rezende, Sebastião Martins, Felipe Oltramari e Sávio Fraga e Greco. DenúnciaJá no oferecimento da denúncia, os promotores dizem que, pelos elementos, há entendimento de que “o delito foi praticado mediante emprego de meio cruel, haja vista que os denunciados desferiram inúmeros golpes de cassetetes na cabeça da vítima, região de alta letalidade, além de bater a cabeça de Chris Wallace, por diversas vezes, contra um muro de concreto ‘chapiscado com pedra’, mesmo depois do ofendido dizer que era portador de câncer” e de que “os policiais militares utilizaram-se de recurso que dificultou a defesa da vítima, na medida em que foram desferidos inúmeros golpes de cassetetes, enquanto rendida, inviabilizando qualquer possibilidade de reação”.Por conta disso, o MP pede que Wilson e Bruno respondam por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, meio cruel e por meio que torne impossível a defesa da vítima.