Em meio ao pior momento da pandemia de coronavírus (Sars-CoV-2) no Estado, o Ministério Público Federal de Goiás (MPF-GO) avança em seu projeto de disseminar o uso de medicamentos sem comprovação de eficácia em pacientes com a Covid-19. O procurador da República, Ailton Benedito, enviou um estudo para 117 municípios em que é defendido o uso de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, nitazoxanida, além de suplementos de zinco e das vitaminas C e D.Todas as substâncias não são recomendadas por órgãos como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e da Europa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) contra a Covid-19. Não há evidências científicas de que esses medicamentos tragam algum benefício ao paciente em qualquer etapa da doença.Depois de uma reunião na manhã desta quarta-feira (3), em que Ailton apresentou o estudo defendendo os medicamentos, o site do MPF Goiás divulgou que a Prefeitura de Goiânia vai fazer a revisão e a atualização dos protocolos de atendimento a pacientes de Covid-19.A nota no site do MPF sugere que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da capital acataria o uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia, ao dizer que o início da revisão e atualização dos protocolos “ocorre um dia após o MPF em Goiás compartilhar Nota Técnica baseada em evidências científicas sobre assistência integral aos pacientes”. “Assistência integral” é como o estudo do MPF batiza o uso dos medicamentos sem comprovação de eficácia.No início da noite, a Prefeitura de Goiânia esclareceu que vai encaminhar as sugestões recebidas do MPF Goiás aos técnicos da Secretaria Municipal de Saúde para que possam avaliar a pertinência da proposta.Não é a primeira vez que a SMS da capital recebe a proposta do uso de medicamentos sem evidências científicas. Na segunda-feira, ocorreu uma manifestação organizada pelo movimento Goiás Conservador. O grupo foi até o Paço Municipal de Goiânia, defendendo o fim de medidas de restrição no funcionamento do comércio e outras atividades econômicas, para diminuir a disseminação do vírus. Era o primeiro dia de fechamento de atividades não essenciais na capital.Alguns participantes do protesto chegaram a se reunir com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos). Durante a conversa, os manifestantes defenderam a ineficiência do que chamam de “lockdown” e a adesão ao chamado “tratamento precoce” ou “kit covid”, similar à “assistência integral” do MPF Goiás. Segundo a coluna GIRO da última terça, o prefeito mostrou números e disse que não há comprovação científica da eficácia dessas substâncias.O documento que Ailton Benedito enviou aos municípios goianos é assinado pela biomédica Rute Alves Pereira e Costa, pelo psicólogo Bruno Campello de Souza e pelos infectologistas Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves. O estudo tem 117 páginas, exatamente a mesma quantidade de municípios que o receberam.Além das cidades, o documento também foi enviado para o Conselho Nacional do Ministério Público, Defensoria Pública da União em Goiás, Tribunal de Contas do Estado de Goiás, Ministério Público de Contas do Tribunal de Contas do Estado de Goiás, Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás, Ministério Público de Contas do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás, Ministério Público do Estado de Goiás, Ministério Público do Trabalho em Goiás, Justiça Federal em Goiás, Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, governo do Estado de Goiás. Redes são usadas em propagandaO chefe da Procuradoria da República de Goiás, Ailton Benedito, usa as redes sociais dele para defender o tratamento de pacientes com coronavírus utilizando medicamentos sem comprovação de eficácia. Ele também utiliza a página no Twitter para criticar uma possível obrigatoriedade da vacina e o fechamento de atividades econômicas para conter a pandemia. O procurador é um dos participantes do Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás para Enfrentamento ao Coronavírus.Na última segunda, publicou uma sequência de mensagens do médico Allan Garcês em que é defendido o uso de hidroxicloroquina e ivermectina na primeira fase da replicação viral da doença. Os dois remédios não têm comprovação de eficácia e não são recomendados por órgãos de saúde internacionais. No mesmo dia questionou “Dipirona e paracetamol até precisar de intubação?”.No sábado, o procurador de Goiás compartilhou uma mensagem do procurador de Justiça, Carlos Eduardo da Matta, sobre “estudos científicos e numerosas opiniões” que refutariam o confinamento como forma de evitar a propagação do vírus. O confinamento é cientificamente comprovado como método eficaz de diminuir a disseminação do vírus e foi utilizado por países como Inglaterra, Espanha e Israel. Dois dias antes disse que “quanto mais gente confinada em casa, sem poder viver, mais lucro para a TV necrófila”. Necrófilo é quem se utiliza de um cadáver para fazer sexo.