Há dois anos a pandemia da Covid-19 mudou a vida de todos nós. Nenhuma pessoa, nenhuma família, nenhuma comunidade ficou incólume aos efeitos provocados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). Dúvidas, incertezas, medo, angústia e dor foram sentimentos avassaladores que nos envolveram de forma colossal. Em meio a um mar de especulações, profissionais de saúde se destacaram na busca por respostas e soluções capazes de amenizar nossa vivência diante do desconhecido. Neste cenário, um grupo de mulheres fez a diferença.Neste 8 de março, data escolhida pela Organização das Nações Unidas para lembrar a luta feminina pela igualdade de direitos, o POPULAR destaca algumas mulheres que inscreveram seus nomes na jornada do enfrentamento à Covid-19 em Goiás. Profissionais que se dedicaram com obstinação aos estudos, às pesquisas e à prática diária para descobrir o melhor caminho a percorrer quando o mal misterioso e implacável passou a varrer o mundo.Essas mulheres ampliaram a condição feminina de enfrentar muitas jornadas simultâneas. Colocaram em segundo plano a vida pessoal e familiar para assumir o papel de protagonistas no combate à Covid-19. Enfrentaram críticas, mas não se esquivaram em mostrar do que seriam capazes, do que poderiam fazer com o conhecimento acumulado em anos de dedicação aos estudos, para transformar o tenebroso período inicial da pandemia em dias mais amenos. A elas, a nossa homenagem.Flúvia Pereira Amorim da Silva Quando a pandemia da Covid-19 chegou a Goiás, a enfermeira graduada pela UFG e mestre em Saúde Tropical tinha acabado de assumir o cargo de Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Durante 20 anos, como especialista em gestão de emergências, ocupou cargos na Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, mas foi à frente da Suvisa que se viu diante do maior desafio de sua vida profissional. “Assumi a Suvisa em janeiro de 2020, quando havia rumores do novo ciclo circulando na China, mas nada de muito concreto. Logo em seguida foi decretada a emergência em saúde pública e todo esse alvoroço que vivemos desde 2020. Eu estava entrando num serviço novo e já tendo de lidar com essa loucura que foi a pandemia. Mas tive o apoio de uma equipe muito boa, capacitada, trouxe a experiência do município de Goiânia, onde trabalhei à frente de epidemias da dengue e H1N1, e isso me ajudou muito. Com certeza, a pandemia da Covid-19 continua sendo um grade desafio até hoje”, diz. Flúvia Amorim é o rosto oficial feminino da pandemia em Goiás. Com perfil técnico e postura contundente, ela tem sido enfática na importância da vacinação contra a Covid-19, atuando de forma firme junto aos gestores municipais. Em maio do ano passado, reclamou do que chamou de “desorganização” do Plano Nacional de Imunização. “Nunca tivemos uma campanha tão mal planejada e desorganizada. É a mais difícil que trabalhei em minha vida”. Para a superintendente, cuidados sanitários, como o uso de máscara, só devem ser abolidos diante da real redução de riscos.O nome de Flúvia Amorim já foi ventilado como uma possível substituta de Ismael Alexandrino à frente da SES, caso o titular do cargo decida se candidatar nas próximas eleições.Gabriela Rodrigues Mendes Duarte Doutora em Química pela USP e hoje integrante do corpo docente da UFG, onde se graduou, a professora, que é pesquisadora em análise genética, coordenou estudos baseados na metodologia Lamp para diagnóstico molecular rápido de Covid-19. O projeto foi financiado pelo Ministério Público do Trabalho, com recursos de multas trabalhistas, e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg). O resultado dos estudos capitaneados por Gabriela Duarte proporcionou a transferência tecnológica do teste RT-LAMP para outras instituições, sem nenhum custo, como a Fundação Tiradentes, que presta assistência a policiais militares e seus familiares. Atualmente, Gabriela Duarte realiza o rastreamento do Sars-CoV-2 em amostras de swab.Renata Cordeiro S. de AndradeCoordenadora de Imunização de Aparecida de Goiânia desde 2011, a enfermeira e agora mestranda em Saúde Coletiva é um rosto conhecido entre os mais de 600 mil habitantes da segunda maior cidade de Goiás, que fica na região metropolitana da capital. Responsável por reestruturar o Serviço de Imunização do município, ampliou de 13 para 40 salas ativas de vacinas. Sua dedicação e na linha de frente na luta contra a Covid-19, modificaram o cenário local da pandemia.Quase um milhão de doses de vacinas foram aplicadas até agora em Aparecida de Goiânia, 58 mil delas em crianças de 5 a 11 anos. A coordenadora de imunização estima que 88% da população com mais de 12 anos receberam pelo menos a primeira dose. Para Renata Andrade, as estratégias que alcançaram principalmente a população de maior vulnerabilidade, também abriram um leque maior, envolvendo cidadãos de outras localidades. “Há mais de três meses a vacina contra Covid-19 não tem fronteira em Aparecida de Goiânia”, afirma.Ludhmila Abrahão HajjarA médica anapolina, cardiologista, intensivista e oncologista, formada pela Universidade de Brasília, ficou conhecida ao tratar de celebridades do mundo político e artístico na Rede D’Or, na capital paulista e em Brasília, durante a pandemia. Professora do Departamento de Cardiopneumologia da área de Cardiologia Crítica da Universidade de São Paulo, ela se tornou um dos nomes mais importantes do país na luta contra a Covid-19. No Hospital Sirio Libanês, em São Paulo, foi braço direito do cardiologista Roberto Kalil Filho, diretor geral do centro de cardiologia.Seu trabalho a levou a ser cotada, em duas ocasiões, para o Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro, mesmo se posicionando contra a condução oficial no combate à pandemia. Ela sempre defendeu o isolamento social, o uso de máscaras, a vacinação em massa e condenou o uso da cloroquina como tratamento. “Acho que, realmente, não houve uma convergência técnica entre nós. A minha qualificação, os meus objetivos e meus planos, eles seguem uma linha, que acho que é distinta do desejo do governo atual”, disse a médica, em março de 2021, sobre não assumir a função. Ela chegou a receber ameaças de morte diante da possibilidade de ser ministra da Saúde. Ludhmila Hajjar é uma das integrantes do corpo clínico do Hospital Vila Nova Star, de São Paulo, que integra a Rede D’Or. Com 192 mil seguidores no Instagram - @draludhmilahajjar - ela foi destacada este ano pela revista Forbes como uma das 20 mulheres brasileiras em sua área de atuação.Christiane Reis Kobal Como presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, a médica infectologista tem sido uma das vozes mais contundentes no combate à pandemia da Covid-19 em Goiás. Em fevereiro de 2020, um mês antes dos primeiros casos da doença no estado, ela deu aulas sobre o mal que já assolava a China e a Europa, prevendo o que iria ocorrer. Desde o início bradou com veemência contra o “tratamento preventivo”, enfrentando colegas de profissão adeptos da proposta.A médica, que coordena os serviços de controle de infecção hospitalar dos Hospitais de Doenças Tropicais (HDT), do Coração Anis Rassi e Albert Einstein, em Goiânia, sempre teve uma visão global da pandemia em Goiás e não deixou de mostrar o quanto ficaram lotados os leitos de UTI. Desde então usa seu perfil no Instagram - @chris_kobal - como veículo de alerta e orientação sobre fatos disseminados sobre a Covid-19, verdadeiros ou não. Em abril de 2020, ao assistir o cirurgião cardíaco Aleksander Dobrianskyj, internado com Covid-19 em estado gravíssimo, Christiane Kobal fez uma videoconferência com hematologistas para discutir a questão ética do uso do plasma de convalescente. Ela foi a primeira médica a usar a terapia não convencional em Goiás para tratar da doença. A partir de então, passou a coordenar um estudo sobre o tema junto ao Banco de Sangue do Laboratório Hemolabor. “Nunca estudamos, trabalhamos e sofremos tanto, em tão pouco tempo, diante desta nova doença infecciosa viral, de caráter pandêmico, que modificou nossa vida pessoal e profissional de forma avassaladora. Insegurança e ao mesmo tempo uma coragem infinita têm nos demandado uma energia sem fim”, disse ela aos convidados, no final do ano passado do XXII Congresso Brasileiro de Infectologia, que presidiu. Em junho de 2020, ao POPULAR, ela lamentou o fato de “uma doença infecciosa grave ter sido transformada numa doença política”.Cristiana Maria ToscanoMédica infectologista formada pela Universidade de São Paulo (USP), desde 2010 é professora de epidemiologia e saúde pública na Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutora em epidemiologia, há 20 anos ela é pesquisadora na área de imunização. Já foi consultora do Ministério da Saúde em pesquisas de Saúde Pública e atuou na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Organização Mundial da Saúde (OMS). A professora do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da UFG é a única brasileira a integrar o Grupo Estratégico Internacional de Experts em Vacinas e Vacinação (SAGE – Strategic Advisory Group of Experts for vaccines and vaccination) da OMS, encarregado de acompanhar e revisar os estudos de vacinas contra a Covid-19 e de elaborar recomendações sobre estratégias e políticas de vacinação. Entre as estratégias de enfrentamento à pandemia, ela passou a coordenar também o Grupo de Modelagem da Expansão da Covid-19 em Goiás ao lado dos pesquisadores e biólogos Thiago Rangel e José Alexandre Felizola Diniz Filho, ambos do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução da UFG.Membro do Conselho Técnico-Científico Interinstitucional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para as vacinas antiCovid-19, Cristina Toscano já publicou mais de 90 artigos, vários capítulos de livros e apresentou mais de 100 resumos em conferências internacionais sobre o tema.-Imagem (1.2415285)-Imagem (1.2415287)-Imagem (1.2212563)-Imagem (1.2415294)-Imagem (1.2415295)