Apesar do mapa de calor da pandemia de Covid-19 indicar necessidade de restrições imediatas em 183 municípios goianos, a maioria das prefeituras está na espera de orientações do Governo estadual. A questão deve causar impasse já que, conforme nota enviada pelo governo ao POPULAR, a gestão estadual não pretende divulgar novo decreto, afirmando que as decisões são de responsabilidade dos municípios.O indicador mantido pelo Estado mostra piora generalizada nos números na atualização publicada na sexta-feira (21). Mesmo reconhecendo os surtos de casos, as prefeituras dizem que decretos municipais seriam frágeis e por isso esperam que a gestão estadual tome a dianteira. Já o Governo estadual diz que as recomendações aos municípios estão postas desde o ano passado e que um novo decreto estadual com medidas restritivas não é uma opção.Pelo mapa, 23 cidades estão com indicação para fechar todas as atividades não essenciais. Elas estão nas regiões Norte e Pirineus, que foram classificadas em vermelho, o pior patamar, nomeado “estado de calamidade”. O indicador divide os municípios em 18 regiões e os classificam entre as faixas amarela, laranja e vermelha. Na última atualização, 11 ficaram na faixa laranja, “estado crítico”, abrangendo 165 cidades (veja quadro).O mapa lançado no ano passado é tido como o norteador das prefeituras para o endurecimento ou flexibilização de medidas durante a pandemia. O acompanhamento avalia questões como a taxa de ocupação de leitos de UTI e a taxa de transmissão da doença. O cumprimento das indicações é incerto, já que parte dos municípios descumpriu as recomendações apresentadas no ano passado.Para Jaqueline Oliveira, que é secretária executiva do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems), o momento é delicado e há demanda por orientação clara do Governo estadual. “Há uma ansiedade entre os secretários. Se só um ou dois municípios fizerem decretos, as pessoas vão transitar entre as cidades”, aponta.O Estado, porém, destaca que, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), os municípios têm autonomia para tomar decisões sobre a pandemia. “Apesar do Estado de Goiás ter, desde o início da crise sanitária, orientado sobre quais medidas a serem adotadas, a decisão final é sempre da gestão municipal, que possui plena autonomia da condução dos trabalhos de enfrentamento à Covid-19”, afirma a SES.DúvidasUm dos exemplos sobre as dúvidas está na gestão de Abadiânia, que fica em uma das regiões classificadas em vermelho. Quando perguntada sobre a adoção de medidas, a secretária municipal de saúde Joyce Mirelly Assunção diz que o município ainda não foi comunicado pelo Estado. “Nós estamos seguindo o decreto do Estado. Normalmente encaminham pedindo as adequações ou já falam o que é para nós fazermos”, afirma Joyce.A secretária de Abadiânia define a situação da pandemia na cidade como “crítica”. Foram 2 mil casos da Covid-19 nos primeiros 20 dias deste mês, um caso a cada dez habitantes do município, que tem pouco mais de 19 mil moradores.Para a gestora, diante da situação, um decreto estabelecendo o fechamento de atividades não essenciais se faz necessário. “Não estamos com pacientes graves, mas já tivemos que reabrir a unidade de síndromes leves, que tinha sido fechada no ano passado por falta de demanda. O ideal seria deixar apenas as atividades essenciais”, conta a secretária.DecretoAs dificuldades para adotar um decreto mesmo com registro de piora na situação pandêmica seria generalizada, afirma Jaqueline. “Nós já nos manifestamos em outras ocasiões falando para o Estado sobre a necessidade de um decreto estadual”, recobra a secretária executiva do Cosems.A SES considera que já auxilia as prefeituras na tomada de decisão com o monitoramento semanal. “O levantamento (o mapa de calor) serve como um termômetro para que os gestores municipais adotem suas medidas”, diz, em nota. “A pasta orienta que as prefeituras reforcem a vacinação, ampliem a testagem e incentivem para que as medidas de biossegurança sejam seguidas”, destaca a secretaria.Avaliações dificultadas Outra dificuldade apontada pelos secretários é a de avaliar os números de casos diante da menor proporção de pacientes graves e óbitos em comparação com outros momentos da pandemia. Em Goianápolis, município com cerca de dez mil habitantes, que também está na faixa vermelha, a secretária Pollianna Pinto diz que a gestão deve divulgar um decreto mais brando que o que prevê as recomendações do mapa de calor. “Ainda não será para fechar nada. Para festas, por exemplo, a gente vai restabelecer o limite de 30% referente ao tamanho do espaço”, conta Pollianna. A razão para as medidas menos duras se dá, segundo a secretária, por dois fatores. O primeiro seria o índice baixo de internações e óbitos. O segundo seria por recomendações ouvidas por ela durante a última reunião entre secretários municipais e a SES.“Estamos partindo dos princípios que estão sendo apresentados. A orientação foi para que nós continuemos falando da importância das medidas sanitárias de rotina, porém, foi questionado sobre a volta às aulas, por exemplo, e o secretário (titular da SES, Ismael Alexandrino) disse que não vê motivo para não retornar”, detalha Polliana. Na referida reunião, Alexandrino disse a gestores municipais que o momento seria de cuidados em locais como bares e restaurantes, mas não defendeu a necessidade de retomar medidas consideradas mais duras. A gestão detalha: “A SES avalia que alguns segmentos do setor de serviços podem se tornar aliados no enfrentamento à Covid-19, com a exigência do comprovante de vacinação e testagem negativa em locais em que há possibilidade de controle de acesso”. Entre os municípios que estão na faixa vermelha e estudam medidas está Alexânia, no Entorno do Distrito Federal (DF). Na cidade de 27 mil habitantes foram cerca de 500 casos identificados desde o início de janeiro. A avaliação da secretária municipal de Saúde Janaína Augusto é de que o momento é de endurecer as medidas. “As pessoas precisam se conscientizar. No auge da pandemia tínhamos três médicos atendendo Covid-19, depois ficamos com apenas um e agora voltamos para dois”, detalha a gestora ao destacar o aumento da demanda. LeitosA secretária executiva do Cosems diz que os relatos de aumento de casos são generalizados. “Nós temos escutado de quase todos os 246 municípios que o número de casos aumentou vertiginosamente", diz Jaqueline, que pondera: “Por outro lado, não estamos ouvindo reclamações de falta de leitos”.Mesmo sem o relato de falta de leitos, a rede estadual registra crescimento constante na taxa de ocupação de UTIs exclusivas para a Covid-19. O salto foi de quase 200% nos últimos 29 dias, saindo de 53 em 24 de dezembro para 151 neste sábado (22). A avaliação de médicos e gestores é de que a maioria dos casos graves são de pessoas que não estão com o esquema vacinal completo. Sobre os leitos, a SES diz que acompanha de forma contínua a situação. “Nos últimos dias, UTIs foram abertas e outras unidades já estão sendo preparadas para receber pacientes com Covid-19, como a previsão de ampliação de leitos pediátricos no Hospital da Criança e do Adolescente. As UTIs já existem na rede e são utilizadas para casos gerais e retaguarda de cirurgias eletivas, o que otimiza a conversão desses diante de um cenário em que a demanda exija uma resposta imediata”, informa a secretaria. Municípios adotam medidasConforme prevê as diretrizes do mapa de calor, “a região que piorou a situação deverá imediatamente adotar as medidas restritivas da situação de piora em que se encontra agora, e manter tais medidas por 14 dias”, Dessa forma, as 183 cidades que hoje estão nas faixas laranja ou vermelha deveriam anunciar as ações. Apesar da questão apresentada pelo Cosems e secretários sobre necessidade de ação do Estado, ao menos sete cidades já adotam decretos próprios com restrições. Além de Goiânia, as medidas que incluem redução do público de locais de grande circulação foram anunciadas pelas prefeituras da cidade de Goiás, Senador Canedo, Jaraguá, Itaberaí, Pontalina e Cromínia.No decreto de Goiânia, que limitou o público de bares e proibiu o funcionamento de pistas de dança, a previsão inicial era de que as medidas fossem mantidas por 15 dias. Como não houve melhora no patamar da região em que está inserida, a tendência é de que a gestão precise estender o decreto por, pelo menos, sete dias além do que já estava previsto. -Imagem (1.2391460)