Mudanças no traçado de mapas estão sendo motivo de reclamação dos prefeitos das cidades de Gameleira de Goiás, Silvânia e Leopoldo de Bulhões. Eles alegam que as alterações nas linhas que dividem os municípios causaram prejuízo porque perderam terras. Gameleira de Goiás, por exemplo, reclama cerca de 415 hectares, que teriam sido incorporados à Anápolis. As cidades buscam acordo para o imbróglio desde o ano passado para evitar que o caso vá parar na Justiça.Prefeito de Gameleira, Wilson Tavares (DEM) afirma que se reuniu com representantes das outras cidades ano passado, mas o encontro terminou sem definição. “Não vemos motivo para não haver acordo. Só precisamos que a lei seja cumprida.” Ele se refere à lei 8.111, de 14 de maio de 1976, que fixa a divisão territorial dos municípios. “Tudo que mudou depois, não passou por consulta prévia, plebiscito e mudança de lei, o que é obrigatório”, ressalta.Tavares diz que Gameleira é uma cidade jovem, criada em 1997 depois de desmembramento do município de Silvânia. “Era um distrito. O desmembramento respeitou a lei e foi incluído na legislação de 1976, mas as alterações realizadas pelo Instituto Mauro Borges (IMB) não vêm obedecendo a esta regra. A cada atualização, nosso município perde mais terreno. É por isso que estamos buscando outras lideranças da região”, diz.A área que não consta mais nos mapas do IMB como de Gameleira de Goiás consta agora como de Anápolis. A região é promissora, por estar ao lado do Distrito Industrial de Anápolis, incluindo até parte do terreno onde está uma montadora de veículos. O prefeito diz que já apresentou os documentos ao IMB para solicitar a revisão, mas ainda não teve retorno.Prefeito de Silvânia, Geraldo Luiz Santana (PP) concorda que a Lei de 1976 deve ser respeitada. Mas sua participação no grupo de discussão das divisas se dá porque sua cidade possui um loteamento na divisa com Anápolis desde 1979, o setor Daiana. Ele afirma que o local possui cerca de 500 famílias, e que também estaria nos mapas recentes como área de Anápolis.Geraldo Santana diz que busca a solução rápida porque pretende anunciar em breve seus planos para a região. Além de melhorar a infraestrutura, pretende implantar no local uma subprefeitura. “A intenção é criar um setor industrial na região para gerar emprego, renda e desenvolvimento para a região. Mas é preciso ter a confirmação da validade da lei para iniciarmos este projeto”, reforça o prefeito.Santana ressalta que a região foi desprezada por muito tempo, mas que, enquanto gestor, tem planos para o local. “Há 43 anos foi criado um loteamento e as pessoas migraram para lá. O bairro irregular cresceu de forma desordenada, não possui infraestrutura municipal, como escolas e posto de saúde. Até as áreas municipais foram invadidas. Queremos e vamos atuar na região, mas queremos essa situação de demarcação dos limites resolvida para termos tranquilidade de investimentos.”O prefeito de Leopoldo de Bulhões, Alécio Mendes (PL), também se diz prejudicado. Mendes conta que foi autorizado pelo município a construção de um loteamento na região que faz divisa com Anápolis. “Depois de iniciada a obra, a Prefeitura de Anápolis pediu embargo porque seria área dela, mas não é.” Mendes acrescenta que precisou apresentar provas na justiça para confirmar que o terreno era de Leopoldo de Bulhões.Ele afirma que já apresentou a demanda para deputados, para que o assunto seja discutido de maneira ampla. “A cada mapa, perdemos terreno. Precisamos levar escrituras antigas dos imóveis, que confirmaram que as áreas são nossas. Levamos escrituras que tinham 70 anos de registro. A Justiça acatou nossos argumentos, mas precisamos que a regra, o que está na lei, seja cumprida. Não dá para esperar o próximo mapa e ter mais uma alteração que nos prejudica”, critica.Anápolis diz que é dona da áreaEm nota, a Procuradoria-Geral de Anápolis informa que “não há disputa judicial sobre o tema, entendendo que a área pertence a Anápolis.” Ainda na nota, diz que “a competência da questão diz respeito à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás”. A reportagem entrou em contato com o Instituto Mauro Borges (IMB), que informou que levantaria as respostas sobre o tema. Mas não houve retorno até o início da noite desta quinta-feira (3).A lei estadual diz que a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de municípios só pode ser realizada por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos municípios envolvidos, após divulgação dos estudos de viabilidade municipal, apresentados e publicados na forma da lei.Os prefeitos das outras cidades questionam a apropriação das áreas, validadas pelas mudanças nos mapas. Um dos prefeitos ainda disse que teme que o caso vá parar na Justiça, o que pode demorar anos para ser concluído. Ele lamenta a posição de Anápolis. “Vamos buscar o cumprimento da lei”, disse. -Imagem (1.2397442)