Mais de três anos depois do incêndio, o Museu Nacional começa a ser reerguido. O palácio bicentenário que foi casa da família imperial e primeira instituição científica do país, porém, por enquanto só verá sua fachada e parte de seu telhado reformados.A ideia é finalizar essa parte externa até 7 de setembro de 2022, para sediar as comemorações dos 200 anos da independência do Brasil. Mas atrasos no cronograma não foram raros até aqui, com entraves nas licitações e na obtenção de verbas e, principalmente, com a pandemia.A previsão inicial era iniciar a reforma ainda em 2019, quando a tragédia completou um ano. Depois, especulou-se junho deste ano, o que também não se concretizou. O interior do edifício, que agora já tem um projeto pronto, deve ficar ao menos para 2026.O imponente palácio na Quinta da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro, segue cercado por tapumes e envolto por uma gigante cobertura de metal que o protege das chuvas, já que seu telhado e seus dois pavimentos desabaram com as chamas.Foi dentro dele, com tijolos ainda expostos pelo fogo e estruturas aço ainda retorcidas, que ocorreu nesta sexta (12) a cerimônia de início das reformas. O prefeito Eduardo Paes (PSD) compareceria, mas não foi e enviou seu secretário de Planejamento Urbano, Washington Fajardo."É uma emoção muito grande o início dessa obra, para todos nós que lutamos tanto, sofremos tanto", discursou Alexander Kellner, diretor do museu, ligado à UFRJ. "Hoje nós damos o pontapé inicial para virar a página de uma das maiores tragédias que aconteceram no campo científico e cultural do nosso país."A instituição conseguiu arrecadar até agora 65% da verba de 385 milhões necessária para a reconstrução, que veio em grande parte da Vale e do BNDES e será gerida pela Associação Amigos do Museu Nacional. A construtora responsável é a Concrejato.Sobre as obras da fachada, "a grande novidade é que não vai ter novidade", diz Kellner. Ela será idêntica ou o mais parecida possível com a do edifício original, "só não vamos usar óleo de baleia como antigamente", ele brinca. Já o telhado terá algumas partes de vidro, para deixar a luz natural entrar.As únicas reformas que já haviam começado dentro do palácio eram as do Jardim das Princesas, onde foi escrita a primeira constituição republicana do país. Tronos e mosaicos foram restaurados, e o paisagismo vai começar a ser feito.A principal meta agora é recuperar o acervo perdido no maior museu de história natural e antropológica da América Latina. Estima-se que 85% dos 20 milhões de exemplares que estavam no prédio tenham sido destruídos durante as mais de seis horas do incêndio na noite de 2 de setembro de 2018.A expectativa é que os pesquisadores consigam recuperar de 20 mil a 50 mil dos itens resgatados nos escombros, que abarcam a maioria das coleções existentes. Entre eles estão peças célebres como o crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo na América do Sul, e o meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no país, que ficava na entrada e resistiu às chamas."É fundamental entender que o maior desafio para a reconstrução do Museu Nacional se chama acervo. Você não consegue recuperar um acervo de 200 anos de uma hora para a outra. E também precisamos de ajuda de outros países para isso", ressaltou o diretor.No último dia 3 de setembro, a instituição lançou uma campanha internacional com o objetivo de arrecadar cerca de 10 mil exemplares, que serão divididos em quatro circuitos expositivos: histórico, universo e vida, ambientes brasileiros e diversidade cultural. Até agora, foram doados por volta de 500.Outro passo importante previsto para acontecer no início do ano que vem é a abertura de um centro de visitação voltado às crianças. A estrutura já está pronta no novo campus de ensino e pesquisa do museu, próximo ao Maracanã (zona norte do Rio), mas ainda falta o acervo."O movimento pela educação começa no Brasil com a chegada da família real, em 1808. Precisamos cada vez mais valorizar a educação, a ciência, a cultura e a tecnologia, porque longe disso não seremos um país verdadeiramente independente, apesar de estarmos há 200 anos independentes", concluiu a reitora da UFRJ, Denise de Carvalho.