“O uso político de uma vacina durante uma crise de saúde pública e de uma pandemia com impacto econômico e social tremendo como a que estamos vivendo é obviamente negativo. Hoje, 80% dos medicamentos e vacinas são produzidos na China ou na Índia. Isso não diminui a qualidade desses produtos”, afirma Cristiana Toscano, pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), membro do Grupo Consultivo de Especialistas em Imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS) e representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Goiás.O debate sobre a confiabilidade da CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, se acendeu depois que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o país não comprará 46 milhões de doses da “vacina chinesa”, como anunciado pelo Ministério da Saúde na terça-feira (20). O governador Ronaldo Caiado (DEM) chegou a publicar nas redes sociais que a compra da vacina era a “notícia do ano”. Porém, Bolsonaro foi enfático em se posicionar: “O povo brasileiro não será cobaia de ninguém”, afirmou o presidente em uma rede social.Entretanto, Cristiana conta que o controle de qualidade do Brasil é extremamente rígido e que, no caso de qualquer produto vendido no país, independente de onde tenha sido produzido, é feito inteiramente dentro do território nacional. “Essa vacina vai seguir todo um processo de avaliação e de estudos clínicos, que inclusive estão sendo realizados no Brasil (veja quadro ao lado). Esses estudos clínicos que definem a qualidade do produto em relação à eficácia e segurança”, pontua a especialista. De acordo com ela, uma estratégia mais segura para o Brasil seria investir na compra de vacinas diferentes. “A saída é investir em várias candidatas possíveis, que é o que os Estados Unidos fizeram, além de fortalecer os laboratórios nacionais que historicamente produzem a maior parte das vacinas utilizadas no país: Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)”, explica.Primeiros resultadosO anúncio da compra da CoronaVac por parte do Ministério da Saúde ocorreu depois que o Instituto Butantan divulgou resultados preliminares sobre os testes feitos com a vacina no Brasil nesta segunda-feira (19). De acordo com o diretor da instituição, Dimas Covas, a CoronaVac se mostrou segura, mas ainda é preciso comprovar a eficácia da vacina, que mostra que se ela realmente imuniza as pessoas contra o coronavírus (Sars-CoV-2). Neste mesmo dia, o governo de São Paulo anunciou que os estudos clínicos feitos com 9 mil voluntários até agora, com idades entre 18 e 59 anos, mostraram que 35% tiveram reações adversas leves após a aplicação e não houve qualquer registro de efeito colateral grave durante a testagem.Ao todo, devem ser testados 13 mil brasileiros, todos profissionais da saúde, espalhados pelo país. Das 60 milhões de doses adquiridas pelo Estado, 46 milhões chegarão no Brasil até o final do ano, sendo 6 milhões já prontas para aplicação e as outras deverão ser produzidas pelo Butantan. Outras 15 milhões de doses devem chegar até fevereiro de 2021. Registro será preliminarNo mundo, existem dez vacinas que estão na última fase de testes antes da liberação para o uso da população. A liberação, que ocorre em âmbito internacional, está prevista para ser feita em dezembro e é rígida. “O que será avaliado é se elas são, pelo menos, 50% eficazes e só então elas serão liberadas e registradas”, explica Cristiana Toscano, pesquisadora da Universidade Federal de Goiás (UFG), membro do Grupo Consultivo de Especialistas em Imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS) e representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) em Goiás.Entretanto, Cristiana esclarece que esse registro internacional e depois nos órgãos regulatórios de cada país são preliminares. “Os estudos ainda vão continuar, pois é preciso avaliar a duração da proteção de cada vacina e isso deve ser acompanhado por pelo menos 12 meses”, explica. No Brasil, duas vacinas que estão sendo testadas devem ser submetidas a esta aprovação internacional: a CoronaVac, da Sinovac e do Instituto Butantan, e a AZD1222, da AstraZeneca e Universidade de Oxford, que tem parceria no Brasil com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Nesta quarta-feira (21), foi divulgada a informação de que João Pedro Rodrigues Feitosa, de 28 anos, um médico do Rio de Janeiro que participou dos testes da vacina de Oxford, morreu em decorrência de complicações causadas pelo coronavírus (Sars-CoV-2). Ainda não foi divulgada a informação se ele era parte do grupo de pessoas que recebeu a vacina ou o placebo. Entretanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que os testes da vacina no Brasil não foram paralisados. -Imagem (1.2138465)