O Atlas da Violência 2020, publicado nesta quinta-feira (27), tem mais notícias ruins do que boas. A boa é que a taxa de homicídios em Goiás é a menor dos últimos sete anos. A péssima é que ela continua maior entre as populações mais vulneráveis. A recente edição mostra que uma pessoa negra tem 2,2 vezes mais chances de ser assassinada, no Estado, que uma não negra. E que 71% das mulheres vítimas de homicídio são negras.O documento, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBS), mostra que a taxa de homicídios entre a população negra goiana é de 47,7 mortes por 100 mil. Enquanto isso, na população não negra o índice é de 21,4. Em números absolutos, do total de 2.675 homicídios em 2018, 2.086 vítimas eram negras.Nos 11 anos cobertos pelo Atlas, houve crescimento no número de homicídios em Goiás tanto na população em geral quanto na população negra. Contudo, neste segundo grupo a elevação foi muito mais acelerada. De 2008 para 2018, o número de assassinatos de negros cresceu 59,4% - passando de 1.305 para 2.086. Entre os não negros, o salto foi de 32%: de 413 para 545.Outra população vulnerável à violência, conforme o Atlas, é a de homens jovens. Em Goiás, na faixa etária dos 15 aos 29 anos, a taxa de homicídios é de 150,4 – praticamente quatro vezes superior à taxa geral, que é de 38,6. No total, em 2018, 1.442 pessoas deste grupo foram assassinadas no Estado.Em termos comparativos com outros Estados, porém, nenhum indicador é tão desfavorável a Goiás quanto o de assassinatos de mulheres. Com 6,4 mortes por 100 mil habitantes, Goiás tem a quinta pior taxa do Brasil, atrás apenas de Roraima, Ceará, Acre e Pará, pela ordem.VulnerabilidadePara a socióloga Dalva Borges de Souza, que integra o Núcleo de Estudos da Criminalidade e da Violência da Universidade Federal de Goiás (UFG), a vulnerabilidade de negros, mulheres e jovens à violência tem fatores históricos.A pesquisadora lembra da origem rural do Estado, permeada pelo machismo. Também cita que a população negra, historicamente, foi reclusa a condições sociais desfavoráveis, com menos acesso à educação, renda e condições de moradia. “Isso se traduz na violência”, explica. Quanto aos jovens, a socióloga ressalta que eles estão mais expostos, inclusive à ação policial ou de cooptação, especialmente os jovens negros.Outro complicador apontado é a legislação que, segundo ela, não distingue com clareza o que é tráfico e o que é o porte de drogas para consumo pessoal. “Essa decisão fica nas mãos do policial”, afirma.Dalva Borges cita como positiva a redução na taxa de homicídios em Goiás, mas é cética quanto aos números. “A Secretaria de Segurança Pública decidiu retirar os homicídios cometidos por policiais das estatísticas, classificando-os como dados sigilosos”, afirma. Desta forma, os dados oficiais podem não refletir a realidade.Como exemplo, ela cita que, em 2017, 237 pessoas foram mortas durante ações policiais. Em 2018, o número subiu para 417. “O governo passado tirou esses dados das estatísticas. O governo atual copiou”, afirma.A socióloga afirma que a queda demonstrada nos dados oficiais não é fruto de ações do aparato de segurança pública do Estado. “A SSP não tem políticas públicas de combate à violência”, afirma. A exceção, segundo Dalva Borges, é o trabalho desempenhado pelas delegacias da mulher. Taxa cai pelo 2º ano seguidoAinda que seja superior à do Brasil, a taxa de homicídio em Goiás caiu pelo segundo ano consecutivo. Segundo o Atlas da Violência, em 2018 ela chegou a 38,6 mortes por 100 mil habitantes. Isso representa uma queda de 9,7% diante da taxa de 2017, que foi de 42,8. O indicador de 2018 foi o menor dos últimos sete anos (veja quadro).De acordo com o documento, em 2018 foram assassinadas 2.675 pessoas em Goiás – uma queda de 7,8% em relação ao ano anterior, quando o número de homicídios chegou a 2.901. Apesar do recuo, o volume de mortes em 2018 foi superior ao do início da série histórica, em 2008, quando foram 1.792 vítimas.No ranking nacional, Goiás ocupa a 11ª posição proporcional em relação aos homicídios. Segundo o Atlas da Violência, o Estado com maior taxa de homicídios do Brasil é Roraima, com 71,8 mortes violentas por 100 mil habitantes. O menos violento é São Paulo, com taxa de 8,2.SSP diz que recuo continuaEm nota, a Secretaria da Segurança Pública de Goiás diz que os números melhoraram ainda mais em 2019, ano em que a atuação gestão assumiu. Segundo a pasta, Goiás atingiu, no ano passado, o menor número de homicídios dos últimos 12 anos – segundo o site da instituição, foram 1.659.“A SSP-GO ressalta que, de acordo com dados do Observatório de Segurança Pública, a taxa de homicídio por 100 mil habitantes, em 2019, caiu para 23,9. O que demonstra queda importante, quando comparado com a taxa de 2018”, diz a nota.O texto afirma que, “com a queda nas ocorrências de homicídio nos 18 primeiros meses da atual administração do Estado de Goiás, foram preservadas mais de 600 vidas”, quando comparado com anos anteriores.