A Prefeitura de Goiânia vai propor um novo modelo de funcionamento ao sistema de transporte coletivo. O embrião do projeto vai ser apresentado a um grupo de secretários municipais, ao presidente da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e às concessionárias do sistema na segunda-feira (11). A princípio, a proposta do Paço Municipal é criar um sistema para a capital, com a participação apenas da cidade de Aparecida de Goiânia. Com isso, não vai mais haver a tarifa única do transporte e a cobrança se dará por distância percorrida pelo usuário.A ideia é valorizar o usuário de Goiânia em um modelo consorciado ou misto entre o municipal e o metropolitano. Nesse caso, as demais cidades da região metropolitana, como Goianira, Trindade, Senador Canedo, Bonfinópolis e outras 12 cidades passariam a fazer parte de outro sistema, que poderia ser de responsabilidade estadual ou dos próprios municípios. O projeto ainda está sendo desenhado e há o desejo do Paço de que as reuniões sejam mantidas em sigilo, já que, atualmente, seria necessária a anuência do Estado com a revogação ou mudança das leis que criaram a região metropolitana e a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC).“Vamos primeiro fazer o projeto e depois chamar o Estado e os municípios para conversar”, disse um auxiliar da administração municipal. Os técnicos do Paço ainda não descartam a inclusão das cidades de Goianira, Trindade e Senador Canedo nesse sistema da capital, o que compreenderia as linhas ainda lucrativas do sistema, devido a demanda alta de usuários e baixa quilometragem rodada pelos veículos para cumprir o itinerário. Ou seja, são locais em que os ônibus carregam mais pessoas e andam menos, o que permite cobrar menos por usuário transportado. A previsão é que o novo modelo seja desenhado e encaminhado em até 3 meses para o início da implantação.Um dos pontos que ainda faltam definir é como seria a cobrança por distância percorrida. As três hipóteses levantadas até agora são pela quilometragem, por número de pontos ou se haveria a criação de anéis tarifários. Neste último caso, são traçados raios a partir de um ponto central, como a Praça Cívica, que formam círculos e a cada um destes o usuário pagaria uma tarifa diferente, sendo maior quão mais distante é do ponto inicial. Os dois principais entraves para a formalização da proposta é a anuência do Estado e demais municípios e também das concessionárias.Como as empresas possuem contrato válido até 2028 para atender todas as cidades metropolitanas, o rompimento do sistema gerará multas a serem pagas pela Prefeitura. No entanto, o Paço conta com o argumento de que a situação atual é insustentável e de que é preciso mudar o modelo, o que já vem sendo falado até mesmo pelo Sindicato das Empresas do Transporte Público de Passageiros de Goiânia (SET). Por outro lado, seria necessário desenhar um modelo específico para as linhas semiurbanas, que atendem as demais cidades e hoje são trajetos mais deficitários.Para tal, seria necessária a participação do Estado e das demais prefeituras. A situação é que seria necessária subvenção econômica destes entes para manter uma tarifa módica aos usuários, de modo a não onerar os passageiros. Na proposta do Paço Municipal, por outro lado, não há a inserção de dinheiro da capital no sistema coletivo. O entendimento é que a criação desse novo modelo é autossustentável, embora não se descarte o uso de verbas como dos estacionamentos rotativos (Área Azul) e da taxação aos aplicativos de carona paga, como Uber e 99.GestãoNo novo modelo, a Câmara Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC) seria extinta e a CMTC passaria a ser subordinada à Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), órgão que substituiu a Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMT) na transição de gestão municipal. Técnicos da SMT já analisam o formato jurídico e técnico de encampação da CMTC, embora se trate de um órgão metropolitano, com participação do Estado e dos demais municípios da região.Neste formato, o sistema da capital ficaria sob a responsabilidade da SMM quanto ao planejamento, fiscalização e gestão, como definição de tarifas. Não está claro se o município também assumiria a operação do sistema e a bilhetagem, que hoje ambos são de responsabilidade das empresas concessionárias. Reunião vai discutir situação emergencialA reunião entre a Prefeitura de Goiânia, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e as empresas do sistema metropolitano de transporte público, na próxima segunda-feira (11) tem como pauta a discussão da situação emergencial econômica das concessionárias, que alegam déficit de R$ 75 milhões desde março do ano passado. As empresas cobram que o Paço Municipal participe do Plano Emergencial projetado pelo Estado e homologado parcialmente em decisão judicial para arcar com os custos operacionais do sistema.Na decisão judicial, o Poder Judiciário exige a participação dos municípios, pois apenas o governo estadual tem pago sua parte (cerca de 17%), ou apresente uma nova proposta. É sob este argumento que os auxiliares da Prefeitura vão apresentar a proposta de novo modelo para o sistema de transporte coletivo. A princípio, não há interesse da Prefeitura em pagar o valor de R$ 16 milhões mensais desde março de 2020. No plano do Estado, Goiânia seria responsável por 41% do valor, que é praticamente a soma entre o valor do governo estadual e dos 13 municípios menores da região metropolitana (quando se retira Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo e Goianira). O Paço questiona essa divisão, que tem como base o fracionamento de participação no Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana (Codemetro), formado em uma lei na gestão anterior do Estado e que ainda não foi implantado.NegociaçãoO Paço deve até mesmo propor que o Estado arque com valor igual ao do município, ou seja, pagando sua parte e desses municípios menores, em uma negociação para a efetivação do Plano Emergencial e a solução dos problemas mais imediatos do sistema de transporte. Nesta semana, por exemplo, usuários de Bonfinópolis protestaram na GO-010 pela demora de até três horas na rodovia por um ônibus. As concessionárias alegam que a crise financeira evidenciada pela pandemia de Covid-19 impossibilita o cumprimento total das viagens, pois não haveria recursos para o pagamento de fornecedores.Por outro lado, a gestão atual só aceita arcar com os valores a partir de janeiro deste ano e não desde o começo da pandemia, como é o plano. A ideia é que isso ocorra até que o novo modelo de transporte, que será proposto pela Prefeitura, seja colocado em prática. Os auxiliares da Prefeitura entendem que independente da situação atual é necessário um novo modelo para o transporte coletivo para que ele se sustente.O POPULAR apurou que os técnicos da CMTC não participaram da elaboração do novo modelo e os técnicos das empresas também não foram consultados. A ideia foi iniciada na campanha eleitoral da atual gestão e ganhou força com a participação de auxiliares da administração de Iris Rezende (MDB), que são contra a inserção direta de dinheiro público no sistema.-Imagem (1.2177551)