-Imagem (1.2392796)Atualizada às 20h07O novo Plano Diretor de Goiânia vai permitir uma maior ocupação na região Leste da capital, sobretudo nas saídas para as cidades de Bela Vista de Goiás e Senador Canedo, onde atualmente há predominância de condomínios horizontais. A possibilidade de uso de áreas rurais das macrozonas Lajeado e Barreiro como urbanas, por meio da outorga onerosa de alteração de uso (OOAU), vai gerar mais espaço para a construção de empreendimentos nas rodovias GO-020 e GO-403 e, por consequência, um maior volume de tráfego para as entradas da capital, tanto na Avenida Jamel Cecílio, no Jardim Goiás, quanto na Avenida das Cerâmicas, no Jardim Califórnia.Para a arquiteta e urbanista Lorena Cavalcante, doutoranda na Universidade Federal de Goiás (UFG), o adensamento na região, com a possibilidade de novos condomínios horizontais fechados no local, é complicado. “A GO-020 já apresenta sinais de saturação em horários de pico desde 2016 e está induzindo ainda mais a ocupação dos condomínios fechados para as cidades limítrofes. Adensar pura e simplesmente sem fazer a infraestrutura é repetir os mesmos erros do atual Plano Diretor e levar esses mesmos erros para os municípios da região metropolitana, principalmente os que são mais integrados com Goiânia”, afirma.Lorena entende também que um maior número de moradias na região será um problema na drenagem local, já que haverá uma maior porção do solo impermeabilizado. “A água pluvial vai ganhar velocidade e os cursos d´água não vão suportar o escoamento, vai alagar também”, avalia. A região que vai permitir a urbanização na GO-020 é próxima ao Rio Meia Ponte, entre o Cemitério Parque de Goiânia e o frigorífico da JBS. A urbanista reforça que a rodovia não conseguirá suportar o adensamento idealizado, sendo que já pode ser considerada uma via urbana, porém, sem a infraestrutura adequada, como calçadas, passarelas, pontos de ônibus e poucas linhas para o atendimento dos usuários.Os novos condomínios, que são característicos desse crescimento na Região Sudoeste da capital, segundo Lorena, deverão utilizar todas as novas áreas aprovadas via Plano Diretor. Pela regra que vem sendo discutida, os locais permanecem como rurais até a finalização de um processo na Prefeitura, que deve ser feito pelo proprietário. A aprovação para a urbanização se dá quando o local é adequado pelas regras de manter um acesso local consolidado e a contiguidade, que é estar junto com outro loteamento que possui pelo menos 30% de ocupação.O arquiteto e urbanista Andrey Machado afirma que não há nada “implícito ou explícito” de que vai haver apenas condomínios fechados na região de OOAU demarcadas para a Região Leste de Goiânia. Assim mesmo, para ele, a ocupação do local não é um problema. “É uma região que já tem atendimento de serviços, infraestrutura, não é ruim. A GO-020 logo vai ter de ser municipalizada. É um local com acesso consolidado e tem contiguidade, atende aos critérios da Prefeitura.”Machado entende que a mudança de perfil da área de rural para urbano, por si só, não corresponde a um problema local porque a nova lei do Plano Diretor de Goiânia não abre mão das outras regras, como a contiguidade. “Acho que se comportariam bem as mudanças. É uma região que tem acessos importantes, rodovias, já consolidados.” O seu entendimento também é o mesmo quanto a GO-403, na saída para Senador Canedo, em que seria possível atender o adensamento previsto.Universitário perde densidadeNa Região Leste de Goiânia, a proposta que está sendo discutida pelos vereadores possui a intenção de retirar a possibilidade de novas construções acima de 12 metros na região do Setor Leste Universitário e Vila Nova, além da Avenida Anhanguera até o Jardim Novo Mundo. O arquiteto e urbanista Andrey Machado entende ser um erro, pois a mudança fere o que está sendo proposto no novo Plano Diretor como intenção geral, que é o adensamento ao longo dos eixos de transporte. “Essa restrição realmente não é coerente com o Plano. Temos a Anhanguera, que é a principal linha de transporte coletivo. Trocar a densidade dela pela Leste-Oeste é um problema porque ela ainda precisa de muitas obras”, diz. Pelo mapa disposto no relatório final aprovado pela Comissão Mista, que está no site da Câmara Municipal, apenas a quadra do Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga e da Saneago permanecem como adensáveis, ou seja, onde é permitida construção com até seis vezes o tamanho do terreno. Por outro lado, o desenho de modelo espacial aprovado contém a possibilidade de maior adensamento no Park Lozandes, pois há uma emenda que permite construções acima de 12 metros nos lotes recebidos por entidades. O bairro tem sido usado para abrigar as novas sedes de órgãos públicos, como já possui o Paço Municipal, o Ministério Público Federal e a Assembleia Legislativa. Para o diretor da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto, esse movimento é prejudicial ao Centro de Goiânia. “O que estão fazendo é esvaziando o Centro, que antes abrigava todas as sedes e as pessoas frequentavam o bairro, com toda a estrutura que ele tem. Agora colocam as sedes em um bairro sem estrutura adequada ainda, em que as pessoas têm maior dificuldade para deslocar e ainda desocupa o Centro. Mas no Plano Diretor falam em ocupar o Centro. A primeira coisa que deveriam fazer, quando querem ocupar uma região, é levar uma estrutura pública para lá, mas estão retirando”, reforça.Polo de combustíveis será próximo ao rioUm polo de desenvolvimento econômico de Logística de Combustíveis e Terminal de Armazenamento está previsto para ser instalado no entorno dos setores Jardim Novo Mundo, Chácara Botafogo, Vila Martins, Chácara Santa Bárbara, Jardim Califórnia Industrial, na Região Leste de Goiânia. A medida é uma das mudanças que o novo Plano Diretor prevê para a região. Ao tempo que atende um potencial da região, visto a proximidade do polo de distribuição de combustíveis localizado em Senador Canedo, há o receio de gerar problemas ambientais dada a escolha do local ser próximo ao Rio Meia Ponte.O diretor da Associação para Recuperação e Conservação do Ambiente (Arca), Gerson Neto entende que há um risco para o manancial, já que as substâncias a serem utilizadas no polo possuem grande potencial de poluição. “Se houver um acidente, algum problema, isso vai tudo para o Meia Ponte. O Meia Ponte nesta região já é poluído, não tem tratamento de água, esgoto é jogado in natura ali. É um problema sim”, diz. Pelo texto do novo Plano, não há a indicação de um local exato de onde o polo deverá ser implantado, mas pela confluência dos bairros, a indicação deve ser na região da Avenida das Cerâmicas, que cruza o Meia Ponte. O urbanista Andrey Machado, por outro lado, entende que existe um risco, mas ele é reduzido se houver um regramento rígido para a ocupação do polo de desenvolvimento econômico. “Goiânia é uma cidade de uso misto, não é como Brasília que existe um zoneamento para cada coisa. Aqui em quase toda a cidade existe esta relação de moradias e atividades econômicas, o que é muito positivo.” Machado acredita que o local escolhido pelo Plano é correto por se tratar de algo que já está consolidado, que é o polo de distribuição dos combustíveis.Neto, porém, ressalta que a Região Leste da cidade já apresenta vários problemas ambientais, por ser onde está situada a área que possui o maior risco aos moradores, que fica próxima ao Córrego Palmito e que deveria ser desocupada. “Existe um grande risco ali de deslizamento de terra e o Plano Diretor não trata sobre estas áreas”, conta. Em 2017, durante a fase de diagnóstico para a elaboração do projeto de lei, a Prefeitura encomendou a realização de uma nova Carta de Risco para a capital. Foi feito um relatório técnico pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Defesa Civil que verificou 24 áreas de risco.Uma dessas áreas fica em um local congruente à Avenida Lincoln, no Setor Jardim Novo Mundo. Na época, já havia construções de residências em cima de uma antiga voçoroca de 20 metros de largura por 30 metros de profundidade. A área havia sido preenchida por entulhos de construção civil por moradores, sem acompanhamento técnico, dois anos antes do estudo, segundo o relatório da CPRM, que já estimava pelo menos cem moradias no local. Pelo documento, o risco na área é considerado muito alto e seria de movimento da massa sobre erosão aterrada.Outro ponto que pode prejudicar o meio ambiente na Região Leste e abrange também outros bairros de Goiânia é uma emenda aprovada no relatório final que descaracteriza as áreas de proteção permanente (APPs) ao longo dos cursos d´ água que estão em vias consolidadas. A medida abrange, por exemplo, a Marginal Botafogo, que é o limite da Região Leste. A relatora, vereadora Sabrina Garcez (PSD), já afirmou, porém, que esta emenda deverá ser retirada do projeto.-Imagem (1.2392004)