Nem mesmo o tempo alivia a dor de quem perdeu uma pessoa querida, especialmente em um acidente de trânsito. Em 2017, Jéssica Correia Queiroz foi morta quando voltava do trabalho. Ela estava de moto e foi atingida ao passar pela Avenida 85, no Setor Marista, por um HB-20 branco conduzido por um motorista alcoolizado. Ela sequer foi socorrida. Aos 25 anos, deixou uma filha pequena, além dos pais e das irmãs que dizem reviver toda a dor e o sofrimento quando veem notícias de outros jovens tendo a vida interrompida.Renata Queiroz, uma das irmãs de Jéssica, diz que quando viu as notícias das mortes após os acidentes do último fim de semana, reviveu toda a dor daquelas famílias. Isso porque são mortes causadas pela imprudência e pela falta de responsabilidade com a vida no trânsito. Só neste ano, de janeiro até o dia 8 de maio, 57 pessoas morreram em acidentes na capital. No ano passado, neste período, o número havia sido maior. Foram 66 mortes.Leia tambémHomens somam 81% das mortes em acidentes nas estradas goianasPra Fechar o Dia: Você sabe qual é o dia em que mais se morre no trânsito em Goiás?“É sempre muito dolorido. O ciclo normal da vida é que os mais velhos partam primeiro. Um filho não deveria morrer antes dos pais. A dor dos meus pais é surreal assim como a força que eles têm. É raro, mas vê-los sorrir depois do que eles passaram é uma lição que eu espero nunca aprender”, diz Renata.Ela conta que aprender a viver com a falta de Jéssica é uma dificuldade diária, ainda mais considerando que o condutor do carro ainda não cumpriu a decisão judicial que determinou pagamento de pensão para a filha de Jéssica, além da transferência de um lote para o nome da garota. “Nossa legislação pune de forma tão branda que a população não a teme. As multas são vergonhosas, em alguns casos, o motorista multado gastou mais em bebida naquela noite do que lhe é cobrado como punição”, lamenta.Ela diz que acompanhou consternada as tragédias do fim de semana no trânsito em Goiânia e no Brasil. “É muito triste ver que não há conscientização. Que as pessoas continuam se colando em perigo e assumindo o risco de colocar os demais, inclusive aqueles que amam, em perigo. Não consigo imaginar a dor da mãe que perdeu um filho no caso em que o pai era o motorista embriagado. A jovem que faleceu na T-9 após participar de um racha era apenas uma criança, apenas 15 anos. Os adultos que estavam com ela a colocaram em risco (...) E infelizmente, no trânsito, vemos muitas vezes o inocente pagando pela imprudência do motorista criminoso.”EducaçãoGerente de educação para o trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Horácio Ferreira detalha que todos os acidentes registrados no último fim semana ocorreram em locais com sinalização. “Com isso, percebemos que a motivação tende a ser confirmada como imprudência.” Ele reforça que a sinalização das vias é baseada em estudos técnicos que levam em conta desde o fluxo, tipo de veículos e de pedestres, comércio local, entre outros. “Se tem área de velocidade reduzida, não foi decisão aleatória. Foram levados em conta todos os personagens da via.” Ferreira reforça que não adiantam as intervenções, com sinalização e equipamentos de monitoramento, se a população não respeitar. “Acidentes ocorrem porque pessoas desafiam limites, perdem o senso. Não bastam vias sinalizadas se a pessoa acha que tem o poder sobre a máquina (carro). Mesmo veículos com tecnologia de ponta, como alguns dos acidentes do fim de semana, podem se envolver em acidentes trágicos quando há imprudência. Nenhum equipamento é tão seguro quanto a prudência.” Horácio Ferreira explica que após cada acidente na capital, equipes da pasta vão até os locais e verificam a sinalização. “Acontece de a sinalização estar apagada, de furto de placas. Mas na maioria dos casos verificamos o desrespeito às regras.” Quando há necessidade, ele afirma que a sinalização é reparada ou reforçada, e se houver necessidade, equipes de engenharia revisam o que existe para algum complemento. “Mas as pessoas precisam entender que segurança no trânsito é conjunto.” A capital tem 1,5 milhão de pessoas, 1,3 milhão de veículos e média diária de 700 mil deles em circulação.